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Estudo mostra alterações imunológicas em trabalhadores causadas por benzeno

 

benzeno

 

Estudo feito em parceria pelo Departamento de Química do Centro Técnico Científico da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e o Laboratório de Toxicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Latox-UFRGS) constatou alterações no sistema imunológico das pessoas, causadas pelo benzeno presente em produtos como gasolina e cigarro. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, do nome em inglês) classifica o benzeno como cancerígeno do Grupo 1 – nível mais alto.

O estudo foi publicado em fevereiro deste ano na revista científica Enviromental Research e teve como público-alvo frentistas de postos de gasolina do Rio Grande do Sul, devido à proximidade do laboratório da UFRGS e também porque esses trabalhadores estão diretamente expostos aos efeitos do benzeno presente nos combustíveis.

“Tais estudos nunca foram feitos no Brasil e, como a gasolina varia de um país para outro, não sabíamos ao certo o que causaria nesse tipo de funcionário que trabalha em postos de gasolina, o que, no Brasil é comum. Em outros países, não é comum esse tipo de trabalhador”, disse à Agência Brasil a cientista Adriana Gioda, do CTC-PUC-RJ, que atuou em conjunto com Solange Garcia, do Latox.

A coleta de amostras biológicas dos frentistas e de amostras do ar foi iniciada há dois anos, com base em 68 frentistas fumantes e não fumantes e em um grupo de 28 trabalhadores não frentistas e não fumantes – não expostas a nada de benzeno – que constituem o grupo de controle da pesquisa.

O estudo verificou modificações imunológicas em todos os participantes frentistas, como danos às proteínas, aos lipídios e ao DNA, bem como redução dos glóbulos brancos. “De modo geral, afeta todo o sistema imunológico das pessoas expostas a esse tipo de poluente”, acrescentou Adriana. Ela explicou que o benzeno pode acarretar problemas como câncer linfático e benzenismo – conjunto de sinais, sintomas e complicações decorrentes da exposição aguda ou crônica à substância. “E existem outros efeito, no longo prazo, que podem, de alguma forma, causar danos à saúde das pessoas”, alertou.

Estudo anterior de Adriana, na cidade de Volta Redonda, estado do Rio, sede da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), apurou que os níveis de benzeno eram extremamente elevados na década de 1990, “muito além do que poderia ser recomendado como limite de segurança”. Em 1995, os níveis da substância atingiram pico de 1.650 micrograma por metro cúbico e, de acordo com informações da Secretaria de Saúde do município, entre 1984 e 1999, surgiram na região 688 casos de benzenismo.

De acordo com a cientista, no Rio Grande do Sul, a concentração de benzeno encontrada foi muito baixa. Mesmo assim, a substância causou problemas em pessoas expostas ao benzeno, o que, segundo ela, significa dizer que, na siderurgia, os problemas provocados por benzeno podem ser muito mais graves.

Adriana disse que, de modo geral, todas as usinas siderúrgicas têm problemas de emissão de benzeno, mas ressaltou que a adoção de tecnologias modernas pode minimizar os níveis de emissão, e até, eventualmente, praticamente extinguí-los, dependendo da tecnologia aplicada. Nos postos de combustíveis, a redução dos efeitos de benzeno exigiria certos cuidados, como o lacre usado nos Estados Unidos, por exemplo, que não deixa o vapor sair na hora em que o veículo é abastecido. “É uma coisa que no Brasil ainda não existe”. Outro cuidado é não encher o tanque até a boca, para não facilitar a saída dos vapores e atingir o frentista. Adriana lembrou que já existem campanhas educativas com essa finalidade no Rio de Janeiro e no Sul do país.

O mesmo efeito é observado no cigarro, que também contém benzeno. “Não importa qual é a fonte – se cigarro, siderurgia ou gasolina. Se for benzeno, a pessoa vai ter o mesmo problema”, advertiu. No caso do cigarro, o problema é mais grave e maior, “porque quem é fumante e é exposto ao benzeno, acaba potencializando, e expõe outras pessoas”.

Procurada pela Agência Brasil, a presidenta do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Município do Rio de Janeiro (Sindcomb), Cida Siuffo Schneider, assegurou que os postos de combustíveis estão cumprindo todas as exigências da Norma Reguladora 20, do Ministério do Trabalho e Emprego, para evitar que o benzeno afete a saúde dos frentistas. “Eles estão sendo treinados. Os postos fornecem equipamentos. Tudo o que a legislação nos manda fazer, estamos cumprindo. Nosso sindicato oferece curso gratuito da parte teórica, e a parte prática é feita em quartel de bombeiros, e se refere à segurança, sobre como eles devem agir caso haja algum problema”, informou Cida.

Por Alana Gandra, da Agência Brasil.

Publicado no Portal EcoDebate, 25/06/2015


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