EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

A opção nuclear vai sobreviver ao acidente de Fukushima? artigo de José Goldemberg

[Folha de S.Paulo] Nem todas as novas tecnologias, por mais inovadoras que pareçam, resistem aos testes do tempo. O desastre nuclear no Japão, em março deste ano, forçou à reanálise da opção nuclear no mundo todo. Já os acidentes de Three Mile Island, nos EUA, em 1979 e de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986 haviam praticamente paralisado a expansão nuclear após 1990.

As razões para tal são complexas, mas se devem principalmente ao fato de a energia nuclear ter se tornado muito cara comparada com outras opções e ao fato de que populações de vários países decidiram não correr os riscos de acidentes nucleares-causados não apenas por terremotos e tsunamis.

Acidentes nucleares, quando ocorrem, podem provocar um número pequeno de mortes, como diz a indústria nuclear, mas a radiação atinge grandes populações e provoca danos fatais. Esse é um risco diferente do que é assumido em uma mina de carvão. A população que vive nas imediações de reatores como Fukushima não é coberta por seguros. Está sujeita a ser vítima involuntária de danos que podem causar sofrimento e morte por anos após o acidente.

Por essa razões, os custos e riscos da energia nuclear estão sendo reavaliados. A Alemanha, onde 22% da eletricidade se origina da energia nuclear, já decidiu desativar seus 17 reatores até 2022. Suíça e Bélgica tomaram a mesma decisão. O Japão já eliminou seus planos de expansão. Nos EUA, o início da construção de dois reatores foi cancelado. Isso significa maior esforço para gerar eletricidade com fontes renováveis ou utilizá-la de maneira mais eficiente, o que não só é possível como é economicamente atraente.

A decisão da Alemanha – mais radical do que o esperado – terá consequências importantes no resto do mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. O governo brasileiro anunciou que reavaliará a segurança dos reatores no País e dos planos de expansão. Esperamos que o faça logo e siga o que o bom senso indica.

Não há razão nenhuma para que um País como o nosso, com amplos recursos hidrelétricos e biomassa, se coloque na contramão do que ocorre no mundo e invista recursos desproporcionais numa opção tecnológica que talvez não sobreviva.

*José Goldemberg é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.

Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo.

EcoDebate, 01/06/2011

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa