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Artigo

O desafio da reversão das áreas desérticas, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] A curva do preço dos alimentos no mundo chegou no pico em 2008, caiu em 2009 em decorrência da recessão mundial, e voltou a subir em 2010. A população mundial vai atingir 7 bilhões de habitantes em 2011 e precisa ser alimentada. Para tanto precisa da expansão de áreas férteis. Vários analistas dizem que uma das razões das revoltas que estão acontecendo no mundo Árabe (Tunisia, Egito, Iemen, Jordânia, etc) é o aumento do preço dos alimentos e a falta de emprego para os jovens destes países, que vivem com permanente escassez de água.

A desertificação é um fenômeno que corresponde à transformação de uma áreas produtivas em deserto. Segundo a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, este fenômeno ocorre devido “a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários factores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas”. A ONU adotou o dia 17 de Junho como o Dia Mundial de Combate à Desertificação (ver Wikipédia).

A formação de desertos pode ter causas puramente climáticas ou advir da perda da capacidade produtiva dos ecossistemas causada pela atividade humana que ultrapassa a capacidade de suporte e de sustentabilidade das áreas agricultáveis. Com o sobreuso das atividades antrópicas – e a fragilidade da vegetação e das chuvas – o solo vai ficando árido e sem vida, e os agricultores e criadores de gado são obrigados a procurar outro lugar para viver (em geral nas cidades).

A China, o país mais populoso do mundo, tem uma longa tradição de luta contra o deserto. O governo tem um grande plano de reflorestamento do país, mas calcula-se que serão necessários pelo menos 300 anos para enfrentar o avanço das áreas de deserto. A despeito de algumas vitórias isoladas, a China precisa lidar todos os anos com os “eco-migrantes”, ou pessoas deslocadas em função da desertificação.

No “teto do mundo”, gerações de nômades tibetanos criaram Iaques (espécie de bovino do Tibet) e outros animais nas vastas pradarias do Himalaia. Mas nos últimos anos a vegetação ao redor do platô tibetano foi destruída pelo aumento das temperaturas, excesso de animais e pragas de insetos e roedores. Isto tem provocado o avanço do deserto e a fome e as doenças entre os tibetanos.

Na Índia – que é o segundo país mais populoso do mundo e o que apresenta o maior número de nascimentos a cada ano – a desertificação e as perdas na colheita de algodão, têm provocado o aumento do suicídio entre os agricultores, principalmente em Andra Pradesh e Maharashtra.

Porém, ao invés de provocar o aumento, o ser humano pode reverter o processo de dessertificação do Planeta.

Embora os desertos possam ser os locais mais difíceis e mais inóspitos da Terra, eles também são os locais ideais para a utilização das novíssimas tecnologias verdes, com a aplicação da energia solar e eólica. A Jordânia anunciou recentemente o seu apoio em grande escala ao “Sahara Forest Project”, que reúne a energia solar, eólica e a dessalinização da água do mar para oferecer soluções energéticas sustentáveis a agricultura e à vida em regiões desérticas.

O “Sahara Forest Project”, visa incentivar o uso de energia neutra em carbono, disponibilizando água fresca e comida, ao mesmo tempo que contribui para a florestação das terras desérticas. A capacidade do projeto para aliviar a escassez de alimentos e água é sem dúvida um aspecto importante, especialmente diante dos recentes distúrbios alimentares que atingem a região do Oriente Médio. Governos democráticos vão precisar oferecer alternativas de trabalho e alimentação às suas populações.

Estas e outras iniciativas mostram que a luta para aumentar as áreas férteis do mundo não está perdida. Ao contrário, existem muitas alternativas para transformar o deserto em uma solução e não em um problema. Um mundo verde (das plantas) e azul (da água e do oxigênio) é possível.

Referência: Jordan Signs Up for Epic ‘Sahara Forest Project’

José Eustáquio Diniz Alves, colunista do Ecodebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. As opiniões deste artigo são do autor e não refletem necessariamente aquelas da instituição.
E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 07/02/2011

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