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Artigo

Usina de Belo Monte, artigo de Maurício Gomide Martins

Para gerar energia será represada a maior parte do Rio Xingu em um trecho conhecido como Volta Grande, no Pará. Canais levarão a água até uma casa de máquinas, enquanto uma porção do rio ficará com o fluxo de água reduzido. (Foto: EIA-RIMA/Montagem Globo Amazônia)
Para gerar energia será represada a maior parte do Rio Xingu em um trecho conhecido como Volta Grande, no Pará. Canais levarão a água até uma casa de máquinas, enquanto uma porção do rio ficará com o fluxo de água reduzido. (Foto: EIA-RIMA/Montagem Globo Amazônia)

[EcoDebate] Ouvimos comentário de um economista a soldo do governo federal, a propósito das manifestações contrárias dos ambientalistas, dizendo textualmente que “o empreendimento de Belo Monte representa de fato um pequeno prejuízo para o meio ambiente, mas, em compensação, um grande progresso para a nação. Este lucro é muito mais importante do que aquele prejuízo”.

Outro economista, em artigo publicado em importante revista nacional sobre o mesmo assunto, diz que “o Brasil precisa dessa energia.” Alega ainda que a usina tem capacidade para gerar 11.000 MW em 2015, força necessária para manter o crescimento do PIB brasileiro em 5% ao ano, acrescentando que o empreendimento “vai produzir enormes benefícios e melhorar a qualidade do desenvolvimento brasileiro.”

Só enxergam resultados econômicos lucrativos, nunca as conseqüências. Não percebem que tais ações se apóiam em recursos naturais finitos, componentes do nosso meio vital, base e sustentáculo de toda ação humana. Nosso propósito é fazer uma análise de tais afirmações e da teimosia política governamental de levar avante a desastrosa construção da usina hidroelétrica referida.

Os técnicos em economia, na ânsia equivocada ou tendenciosa de convencer ingênuos e preguiçosos cérebros não pensantes, fizeram um cotejo irracional, confrontando grandezas diferentes e defendendo o desenvolvimento do PIB. Como podemos comparar tamanho de um brinco de ouro com a capacidade torácica de um enfermo? A perda de um brinco não afeta a vivência; a falta de ar mata o vivente. Em certas circunstâncias, a perda de uma fatia de pão de um miserável mendigo é maior que a perda de 50 toneladas de farinha de trigo de um rico empresário. Vemos perfeitamente que tais comentaristas têm uma visão dirigida a um único objetivo: crescimento. É isso! Vamos crescer, crescer, crescer, até que alguma coisa se estoure. Porque nada no universo cresce sem parar. Nem a torre de Babel, que queria atingir o céu. A própria Natureza nos ensina: tudo tem um limite de crescimento.

Os esforçados formadores de opinião, pelo visto, ainda não têm noção do que seja meio ambiente. Não sabem que a perda de meio ambiente é morte. Que sua preservação faz parte da Vida. Vida com V maiúsculo, referida pelos antigos pensadores gregos pela palavra “Zoé”, significando a vida permanente, universal, energética, ampla. Ao contrário de “Bios”, atinente à vida individual de um ser, com existência limitada, cíclica, restrita no tempo.

Interpretando aquelas argumentações, com vistas à realidade planetária, na verdade o “pequeno prejuízo do meio ambiente” é grande prejuízo para o todo (Zoé). E o “grande progresso, desenvolvimento, PIB da nação”, e outras mazelas, são visões estreitas e materialistas de bens supérfluos, destinados a atender vaidades e vícios de consumo e conforto corporal (Bios). Teria apenas o objetivo de ampliação e fortalecimento transitório de ilusões egoísticas e passageiras de alguns poucos indivíduos que ressumem a vida em apenas ações de ganha-ganha. Essa teimosia política e irracional nada mais é que um ato injusto de transformação das poucas reservas da Vida universal em satisfação irresponsável de sonhos megalomaníacos de entesouramento. Seria o mesmo que tirar o pouco do pobre para dar ao abastado rico.

Entendemos que falta a significativa parte da humanidade consciência do que seja “meio ambiente”. Exprime, simplesmente, “condição essencial de manutenção de um processo”. No caso de que tratamos, o “meio ambiente” é “o conjunto básico para a manutenção da Vida no planeta Terra”.

A sábia Natureza levou milhões de anos para estabelecer o necessário equilíbrio ambiental para a manutenção da biodiversidade. Agora, um governo irresponsável e em final de mandato, que declarou “realizarei esse projeto de qualquer jeito”, insiste em comprometer as gerações futuras com seus caprichos infantis, na intenção de prolongar eternamente sua autoridade temporal, à moda dos antigos visionários faraós egípcios.

Evidentemente, esse presidente está possuído pelos espíritos faraônicos e se afasta mais do bom senso cada vez que percebe escapar-lhe das mãos o poder terreno. É a ganância exacerbada pelo poder, objetivo de todo político profissional. Seus atos insensíveis para com a Natureza, incluídos os indígenas que ali habitam, demonstram a mesma índole destruidora que dominava a mente dos antigos portugueses quando invadiram o Brasil.

E esse prejudicial projeto tecnológico de transformar parte do meio ambiente em lucros – em evidente contradição às palavras insinceras proferidas no Fórum de Copenhague – está clamando aos céus para que “algum sábio ou uma inteligência superior desça sobre nossas cabeças”.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 27/04/2010

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8 thoughts on “Usina de Belo Monte, artigo de Maurício Gomide Martins

  • Insistir no projeto da usina Belo Monte significa crescer, crescer, crescer, até que alguma coisa se estoure.
    O Ensino Básico nunca fez tanta falta a um presidente. Está na cara que Lula não entende o palavrório dos papelórios que finge ler. Se deixou levar pelos falsos aplausos. “Está se achando” – Diz a moçada.

    No final do governo, o presidente está irreconhecível, autoritário: “Vou fazer Belo Monte, nem que seja sozinho” – Lembra o João Figueiredo, aquele do “Prendo, bato e arrebento.” Isso mesmo, o milico que dizia preferir o cheiro de cavalo ao cheiro do povo. O pé redondo vivia as nossas custas e cuspia na gente. Safado.

    Humilde no início, Luis Inácio Lula da Silva não prestou atenção ao sábio ditado: “Amigo é o que faz chorar.”
    Age como bem entende, se finge de morto, fala o que quer, se contradiz, volta atrás… O peixe morre pela boca.

  • “A própria Natureza nos ensina: tudo tem um limite de crescimento”

    O PAC é um bom, digo, mal, exemplo de agressão física e moral contra a natureza, e Belo Monte é o exame de corpo de delito deste crime.

    O Meio Ambiente, assim como a Segurança Pública está sob o controle da casa da ‘mãe Joana’, em Brasília.

    Bem que Marina foi sensata, saiu do ministério antes da bomba estourar em suas mãos, antes que o governo pudesse vir contra seus princípios ambientalistas, ele só não esperava que ela fosse uma das pessoas capazes de mudar o mundo, muito menos canditada à mudar o Brasil.

    Bem, ainda nem entendi o porquê que nós, brasileiros, ainda aceitamos esse governo que aí está! Espero que eles tenham o troco, bem contado, assim como a economia gosta, nas urnas em outubro!

  • Wellington Santos

    Amigo,
    Venho pedir solidariedade para a nossa luta de defender a Mata do Isidoro em Belo Horizonte. A prefeitura esta realizando um projeto urbanístico na maior floresta urbana de Belo Horizonte, acabando com 6 milhões metros de mata.
    Para saber mais sobre a questão acesse
    http://www.saveoisidoro.wordpress.com

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