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BNDES e os seus financiamentos pouco sociais, artigo Mayron Régis

[EcoDebate] A partir de algumas leituras vou procurar estabelecer alguns comentários a respeito do BNDES. Todos sabem que as principais atividades destruidoras das florestas brasileiras são financiadas pelo BNDES. Agora fica a pergunta de como boa parte desses projetos chega às mãos do banco. Pergunto isso porque viajando pelo interior do Maranhão, região Tocantina e Baixo Parnaiba, aparecem fazendas de gado ou de soja com a placa do banco.

Sem incorrer em erros grosseiros poderíamos afirmar que o BNDES é um banco voltado para três segmentos principais da economia brasileira: construção, energia e alimentos. Mesmo o setor de silvicultura se imbrica com esses segmentos. O BNDES é um banco cujas siglas significam Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. Antes de social vem banco, vem nacional e vem econômico. Daria pra fazer uma análise bem especulativa que sentidos se atribuem para cada palavra e que significado cada palavra atinge.

O BNDES é um banco e como tal vive de depósitos, só que uma pessoa não vai lá e deposita e vai enchendo o cofre-forte. Ele recebe muitos recursos de uma só vez e esses recursos saem em somas vultosas para grandes empreendimentos. Contudo, como uma fazendinha no fim do mundo consegue empréstimos? O Banco, além de financiar grandes empreendimentos, financia cadeias produtivas como a do gado, da soja, da siderurgia, de energia, do etanol e etc.

A respeito do etanol, o presidente da Petrobrás, simplesmente, afirmou que a empresa ainda não se interessara como deveria pela produção e distribuição desse combustível pela presença de trabalho escravo no começo da cadeia produtiva. A questão do trabalho escravo se refere ao social; No caso do BNDES fica por último. Que se saiba nenhuma fazenda de cana teve seu financiamento cancelado por parte do banco porque foram autuadas por trabalho escravo.

A justificativa da Petrobrás não é 100% correta. Existem outros fatores preeminentes que explicariam a reticência da empresa, mas no caso do BNDES a questão é simples: o etanol é uma atividade econômica em inicio de carreira no Brasil. Aconteceu e acontece muito com a destruição da floresta amazônica para a criação de gado e para a queima da mata para carvão vegetal. O BNDES sabe que atividades desse tipo cometem seus crimes para poder acumular capital.

E a acumulação passa pela destruição da natureza e pela apropriação do trabalho humano sem pagar compensação ambiental e sem pagar direitos trabalhistas. Se a parte social é a parte fraca da balança, imaginem a parte ambiental que nem aparece na sigla do banco. O nascimento do BNDES coincide com a urbanização acelerada da região sudeste e a ocupação dos Cerrados brasileiros. O projeto nacional se solidificou em São Paulo e precisava se entranhar por outras áreas, afinal o maior estado brasileiro necessitava de aportes financeiros, de recursos humanos e de matéria-prima.

O caso da industrialização no Brasil emblema esse transcurso da sociedade brasileira linearmente litorânea para uma sociedade interiorana. Sem a presença do Estado como participe na industrialização e no amoldar das características regionais seria mais difícil que houvesse um projeto dito nacional. Como os bandeirantes nos séculos XVII e XVIII, o BNDES é um banco de captura para esse projeto.

Se o BNDES é um banco de captura, as barragens são as melhores armadilhas que ele poderia conseguir. Elas prendem tudo ao seu redor e não soltam. Por isso junto com os financiamentos para barragens, vem financiamento para gado, para monoculturas e para construção.

Mayron Régis é jornalista do Fórum Carajás, colaborador e articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 22/12/2009

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3 thoughts on “BNDES e os seus financiamentos pouco sociais, artigo Mayron Régis

  • zilton gomes da silva

    Ainda sobre os emprestimos do BNDS, é de se lamentar o financiamento de termoelétricas, movidas à carvão ( algumas com o uso de carvão importado), do grupo do sr. Eike Batista. Não vi ninguem reclamar deste financiamento.

Fechado para comentários.