EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Taxar a energia suja será algo inevitável

Termelétrica a carvão
Termelétrica a carvão

Para Pablo Fajnzylber, economista do Banco Mundial, solução da crise climática passa por uma espécie de protencionismo verde

A crise do clima vai aumentar a pobreza no país, diz o relatório “Desenvolvimento Com Menos Carbono”, do Banco Mundial. Para o chileno Pablo Fajnzylber, economista sênior do Bird na América Latina e autor do estudo, investir em eficiência energética, transporte público limpo, energias renováveis e na queda do desmatamento da Amazônia não vai causar “arrependimento em ninguém”. Leia, a seguir, trechos da entrevista.Matéria de Eduardo Geraque, na Folha de S.Paulo, 30/03/2009.

O relatório que o Banco Mundial acaba de lançar no Brasil fala em investimentos “sem arrependimentos” para um desenvolvimento com menos carbono, mas com a crise econômica que está em curso hoje no mundo, o custo ambiental de atenuar ou evitar as mudanças climáticas não fica ainda mais proibitivo?
– Existem muitos investimentos que você teria interesse em fazer mesmo sem considerar os benefícios climáticos. O termo sem arrependimento não tem nada a ver com um conceito moral. É apenas um caminho onde os benefícios são maiores do que os custos. Veja o caso da eficiência energética. Existem muitas formas de poupar energia na produção, na geração e na distribuição. A poupança de energia mais do que compensa o custo do investimento para trocar o eletrodoméstico, a lâmpada ou para modernizar uma planta de energia elétrica, por exemplo. O fato de isso também contribuir para mitigar a mudança climática é lucro.

No caso da América Latina, portanto, a crise econômica não é nenhum obstáculo ao combate das mudanças climáticas?

– A crise tem efeitos que vão diminuir os esforços dos países em responder as mudanças climáticas, mas ela abre também outras possibilidades para políticas que sejam benéficas para o objetivo de lidar com a mudança climática.

Taxar o carbono por meio das energias sujas, por exemplo, seria algo viável agora?

– Como reduzir as emissões de gases de efeito estufa tem um custo, a ideia é que será necessário que todos, de alguma maneira, internalizem o custo social que as emissões têm. Isso poderá ocorrer por meio de impostos sobre produtos que sejam intensivos em emissões de carbono, de outros gases, ou por meio de regulações que coloquem um limite a quantidade de emissões que as empresas poderiam ter.

Seria uma espécie de protecionismo ambiental? Como colocar um imposto sobre o petróleo?

– Uma espécie de protecionismo ambiental será inevitável. Existe uma espécie de preço social do carbono. Um exemplo prático, por exemplo, seria taxar o petróleo. Mas estamos em um período que qualquer taxa é impopular. Os governos estão até tentando buscar uma maneira de reduzir taxas. Nesse sentido, uma taxa para combater as mudanças climáticas seria muito impopular. A crise econômica é uma desvantagem para que medidas como essa possam ser tomadas neste momento.

O relatório que o senhor assina como um dos autores diz que no Brasil as mudanças climáticas vão aumentar a pobreza, mas nem o Brasil nem o Banco Mundial têm ações específicas hoje no Nordeste, por exemplo, uma das áreas que vão ser bastante afetadas. Como é possível construir ações concretas para essas regiões?

– Uma política “sem arrependimento” para o clima deve ter melhoria da previsão meteorológica. Estações que monitorem o clima. O Brasil está trabalhando muito forte nisso no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Você prever melhor a seca vai gerar um ganho bastante significativo na produção agrícola. A proteção social é outro item que tem de constar das políticas de clima. O objetivo disso é fazer com que aquelas famílias que serão afetadas tenham a capacidade de sobreviver. Que elas não sejam obrigadas a tirar as crianças da escola ou colocá-las no mercado de trabalho. Em resumo, é ajudar a família a não fazer com que seu consumo caia tanto quanto sua renda durante o período de seca.

O estudo também aborda a questão do desmatamento, que no Brasil ainda continua um grande problema. Como atacá-lo corretamente do ponto vista econômico?

– No Brasil e na América Latina existe um ambiente favorável a um desenvolvimento com menos carbono. Mesmo em relação às florestas não surpreende que tenhamos apenas 30% de destruição. No Brasil, mais de 60% das emissões saem do uso do solo. É uma área onde é possível fazer cortes. Existe gordura. Em um contexto de um acordo global, em reduzir as emissões de forma significativa, deveriam existir formas de compensar os países que protegem suas florestas. Nós não apoiamos nenhum mecanismo específico. Estamos conscientes de que existem diversas formas e isso está sendo negociado em nível internacional. Não existe uma receita única.

EUA dizem que vão lutar por acordo do clima

“Estamos de volta”, disse Todd Stern, principal negociador do governo de Barack Obama para assuntos climáticos, ontem na abertura da reunião da ONU sobre o tema, em Bonn (Alemanha).

Esse é o primeiro evento de clima em que a equipe do novo presidente norte-americano participa – 175 países integram a reunião.

O encontro é o primeiro de uma série até a Conferência do Clima em Copenhague, em dezembro. Lá deve ser concluído o acordo que irá substituir o Protocolo de Kyoto, que os EUA não ratificaram.

Stern disse que a administração pretende evitar uma repetição do desastre de Kyoto. E que haverá, no país, uma grande luta política a respeito da questão.

Obama anunciou no sábado que formará um fórum de energia e clima que reunirá 17 nações que emitem mais de 80% dos gases de efeito estufa no mundo, entre eles o Brasil, a Índia, a China e a Rússia.

O Greenpeace congratulou a atitude de Obama. E disse que os EUA podem cortar as emissões de combustíveis fósseis em 12,5% até 2020 com o aumento da eficiência energética e tecnologia limpa.

“Se levar outras medidas em conta, o país pode atingir cortes na ordem de 25% abaixo dos níveis de 1990 em 2020”, diz a ONG.

[EcoDebate, 01/04/2009]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

2 thoughts on “Taxar a energia suja será algo inevitável

  • Missao Tanizaki

    Taxar é uma UTOPIA ? ! ? ! ? ! ? ! ? !

    Os preços dos nossos Combustíveis Derivados do Petróleo já são as mais ALTOS do MUNDO, portanto taxar, aqui no Brasil, será uma Queda de Braço, onde não haverá vencedores ou RESULTADOS esperados, pois isso inviabiliza a COMPETITIVIDADE deste BRASIL no Mercado Internacional e causa muitos problemas no Mercado Interno, atingindo muito a Classe Média e a Pobre.

    Lá nos Países DESENVOLVIDOS a PROPOSTA é até VÁLIDA, podendo Beneficiar os Países em Desenvolvimento.

    MISSAO TANIZAKI
    Fiscal Federal Agropecuário
    Bacharel em Química
    missao.tanizaki@agricultura.gov.br (ESTÁ PARA MUDAR)
    Esplanada dos Ministérios, Bloco “D”, Sala 346-B, Brasíla/DF

    TUDO POR UM BRASIL / MUNDO MELHOR

  • Realmente o aquecimento global é algo real e assustador. Adorei o Post, ele esta super completo nao tenho nem mais palavras para dizer.
    Mas esses dias eu vi umas curiosidades do aquecimento global, que voce deveria ver: http://www.natgeo.com.br/br/voce-sabia
    Valeu!

Fechado para comentários.