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Pesquisa identifica que episódios de seca ameaçam o sequestro de carbono na Amazônia

Folha morta em razão da seca de 2005. Crédito: Peter Vitzthum
Folha morta em razão da seca de 2005. Crédito: Peter Vitzthum

A Amazônia é mais sensível à seca do que se acreditava, segundo uma nova pesquisa conduzida na maior floresta tropical do mundo. O estudo, publicado na edição desta sexta-feira (6/3) da revista Science, apresenta a primeira evidência sólida de que episódios de seca causam perdas massivas de carbono em florestas tropicais, principalmente por meio da mortalidade de árvores.

“Durante anos, a Amazônia tem ajudado a reduzir a velocidade das mudanças climáticas, mas confiar nesse ‘subsídio’ da natureza é extremamente perigoso”, disse Oliver Phillips, professor da Universidade de Leeds, no Reino Unido, que coordenou o estudo.

Participaram da pesquisa diversos países, entre os quais o Brasil, representado por cientistas que integram o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, a Universidade Federal do Acre e a Universidade de Oxford.

“Se o sequestro de carbono realizado pelo planeta diminuir, ou se, em vez de sequestrar carbono as áreas de florestas emitirem, os níveis de dióxido de carbono aumentarão em uma velocidade maior. Por isso, cortes profundos nas emissões de carbono serão necessários para estabilizar o clima”, destacou Phillips.

O estudo, uma colaboração international entre mais de 40 instuições, teve como base a extraordinária seca que afetou a Amazônia em 2005. O episódio ofereceu aos cientistas uma ideia dos efeitos das futuras mudanças climáticas na Amazônia. Estima-se que o aquecimento das águas do Atlântico Norte possa fazer com que a estação seca na Amazônia se torne mais intensa e mais quente.

A seca inverteu drasticamente o processo de absorção de carbono que ocorria há décadas, quando a Amazônia contribuía para diminuir os efeitos das mudanças climáticas.

Normalmente, a floresta absorve quase 2 bihões de toneladas de dióxido de carbono por ano, mas a seca em 2005 causou perda de mais de 3 bilhões de toneladas.

“Visualmente, a maior parte da floresta parecia pouco afetada pela seca, mas nossos dados mostram que a taxa de mortalidade de árvores aumentou. Devido à imensa dimensão da região amazônica, mesmo uma pequena alteração ecológica pode provocar um grande impacto no ciclo global do carbono”, disse Phillips.

“Algumas espécies de árvores, incluindo palmeiras importantes, foram especialmente afetadas, mostrando que a seca ameaça também a biodiversidade”, disse Abel Monteagudo, do Jardim Botânico de Missouri, em Oxapampa, no Peru, outro autor da pesquisa.

O estudo envolveu 68 cientistas de 13 países que trabalham na Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor), iniciativa internacional de pesquisa que se dedica ao monitoramento das florestas ao longo de toda a região. A rede é coordenada pelas universidades de Leeds e de Oxford, no Reino Unido.

Para calcular mudanças no estoque de carbono, os cientistas examinaram mais de 100 parcelas de inventários florestais ao longo dos 600 milhões de hectares da Amazônia, identificaram e mediram o crescimento de mais de 100 mil árvores e registraram tanto árvores mortas como novos exemplares. Os cientistas ainda mediram e mapearam cuidadosamente os padrões climáticos da região.

O estudo revelou que, durante pelo menos 25 anos, a floresta amazônica agiu como sequestradora, retirando dióxido de carbono da atmosfera. Processo similar também ocorre na África. Nas últimas décadas, as florestas tropicais têm absorvido um quinto do carbono emitido mundialmente pela queima de combustíveis fósseis.

Contudo, esse processo foi revertido em 2005. A mortalidade de árvores mostrou-se acelerada em regiões onde a seca foi mais intensa e mesmo em locais com seca menos severa as florestas foram afetadas.

A Amazônia abriga mais da metade das florestas tropicais do mundo, cobrindo uma área de 6 milhões de quilômetros quadrados. Nenhum outro ecossistema do planeta abriga o enorme número de espécies, tampouco exerce tamanho controle no ciclo do carbono.

O artigo Drought sensitivity of the Amazon Rainforest, de Oliver Phillips, Luiz Eduardo Oliveira e Cruz de Aragão e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

Matéria da Agência FAPESP.

Nota do EcoDebate: O artigo “Drought Sensitivity of the Amazon Rainforest“, publicado na Science 323 (5919), 1344. [DOI: 10.1126/science.1164033], apenas esté disponivel para assinantes. Para acessar o abstract, clique aqui.

Abaixo transcrevemos nota da ScienceNOW

Amazon’s Carbon Sink Under Threat
By Phil Berardelli
ScienceNOW Daily News
5 March 2009

Researchers monitoring the long-term health of the Amazon tropical rainforest have made a startling discovery. A severe drought in 2005 not only restricted the rainforest’s ability to absorb carbon dioxide from the atmosphere but also, in some cases, killed off so many trees that it made areas net CO2 emitters. The findings, to be reported in tomorrow’s issue of Science, suggest that not even rainforests can be considered fail-safe when it comes to sequestering greenhouse gases.

When the world’s tropical rainforests are growing, they can absorb a huge amount of CO2 from the atmosphere–on the order of 1.8 billion metric tons annually, or nearly one-fifth of global emissions from fossil-fuel combustion. But when trees are not healthy, they don’t use nearly as much CO2, and in some cases they can even be a net emitter.

RAINFOR, a team of scientists from 13 nations, has been tracking forest health in the Amazon for the past 25 years by surveying 136 plots scattered across 44 sites in the region. When the drought struck in 2005, the researchers raced across the Amazon Basin to assess the potential damage. They managed to remeasure 55 of the plots that year. Before the drought, trees on 76% of those plots had been sequestering about 0.5 tons of carbon per year per hectare, while the remainder were growing less rapidly and therefore packing away less carbon. During the drought, however, only 51% continued to sequester carbon, while the rest lost carbon–as much as 6 tons per year per hectare–the result of rot and digestion by soil microbes.

“We found the Amazon surprisingly sensitive to drought,” says ecologist and lead author Oliver Phillips of the University of Leeds in the U.K. The 2005 event “was strong enough to switch the forest from being a long-term absorber of CO2 … to being a temporary source of CO2.” Because some climate models point to increased incidences of drought in the Amazon Basin this century, he adds, the loss of tropical rainforests as a carbon sink could cause CO2 levels to rise even faster.

Ronald Neilson, a bioclimatologist with the U.S. Department of Agriculture’s Forest Service in Corvallis, Oregon, says the study shows that drought in the rainforest “can have a very significant impact on the planetary carbon balance.” But he points out that because droughts tend to produce fewer cloudy days, increased sunlight may encourage growth even in dry weather.

[EcoDebate, 07/03/2009]

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