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O outro lado da moeda: a face ‘suja’ dos produtos de limpeza, artigo de Carol Salsa

[EcoDebate] A sujeira que se esconde na fabricação de produtos de limpeza falsificados pode ser detectada por um equipamento cujo projeto foi concebido pelos pesquisadores Sérgio Saraiva e Rodrigo Catharino, do Instituto de Química (IQ) da UNICAMP. Qual seria a composição química de um produto falsificado? O espectômetro de massas está aí para conferir aos produtos de limpeza e afins, suas verdadeiras identidades ou origens. Para se proceder à análise química basta retirar uma pequena amostra do produto, diluí-la e injetá-la no espectômetro de massas.

Os pesquisadores afirmam que ” o índice de precisão é próximo de 100%”. A discussão em torno da qualidade de um produto de limpeza pode seguir infinitos caminhos, desde uma composição aceita pela ANVISA – Agência de Vigilância Sanitária, até a condenação do produto detectado na utilização deste equipamento.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Limpeza e Afins ( Abipla ) , 42 % da água sanitária fabricada no Brasil, 30% dos desinfetantes e 16 % dos amaciantes são falsificados. Em São Paulo, a pirataria atinge 52% dos produtos, cuja fabricação, na sua grande maioria, se dá em fundos de quintal. Como se não bastasse a pirataria exercida sobre os eletro-eletrônicos, os têxteis, agora invadiram o segmento de produtos de limpeza e afins.

Alguns produtos químicos têm seus dias contados. Um deles é o formol. Os fabricantes terão até 30 de maio de 2009 para fazer a substituição do formol pelo isotiazolinona, que mostrou não trazer prejuízos às formulações anteriores. Ao contrário do que se pensava, os produtos substituídos tiveram um acréscimo no preço de venda em torno de 3%.

Os saneantes são empregados para desengordurar, desinfetar, dar brilho e tirar manchas. Um procedimento para verificar a origem do produto é ler os dizeres constantes nos rótulos, procurar o registro da ANVISA, verificar a embalagem e o lacre. Os fabricantes de saneantes que não estiverem registrados na Anvisa poderão estar sujeitos à aplicação do TAC-Termo de Ajustamento de Conduta e a Processo Administrativo Sanitário, ao qual deverá responder.

Os agravantes surgidos na compra de produtos pirateados são, entre outros : comprovação de sua ineficácia ; malefícios à saúde; concentração de cloro alterado : os falsificados possuem 1,4% de cloro quando o ideal é 2,5 %, ou seja, o consumidor fica exposto às doenças das quais tenta se proteger.

A diretora executiva da Ablipa, Maria Eugência Saldanha, diz que os produtos de limpeza falsificados são vendidos muitas vezes nas embalagens originais das marcas coletadas em aterros sanitários, lixões, em garrafas de refrigerantes ou em grosseiras cópias das marcas tradicionais.

A falsificação de produtos de limpeza é considerado um crime hediondo. Eles fazem parte do chamado “ mercado cinza “ no qual o Brasil deixa de arrecadar mais de R$ 30 bilhões de reais por ano. Estima-se que para cada vendedor de produtos falsificados, deixa de existir uma cadeia formal de produção. Alguns argumentam que se a pirataria acabasse hoje seriam gerados mais de dois milhões de emprego no país, dados contabilizados em 2006.

A pirataria promove, entre outros: perda na cadeia de produção, distribuição e varejista; impede a venda de insumos; afasta novos investidores estrangeiros; dificulta a aplicação do CDC – Código de Defesa do Consumidor . Com tantos atributos negativos só compete à justiça uma fiscalização maior e o desestímulo à pirataria através de estímulos às atividades formalmente instituídas.

Carol Salsa, engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.

[EcoDebate, 26/02/2009]

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