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Notícia

agroquímicos – Aplicação correta evita contaminação

Utilização segura protege o trabalhador e o meio ambiente – Está na época de pleno cultivo da safra de verão e, para garantir uma boa produtividade, entre os vários recursos utilizados pelos agricultores, está a aplicação de agroquímicos. Esses defensivos agrícolas ou agrotóxicos, como também são conhecidos, são responsáveis por combater pragas e doenças que podem colocar em risco a qualidade e o rendimento da safra. Por Grasielle Castro, do Jornal de Brasília, 11/01/2007

Embora exerçam papéis fundamentais para facilitar a condução da lavoura, os agrotóxicos, assim como são capazes de eliminar pragas e doenças, têm também a capacidade de atingir os próprios agricultores que aplicam a calda (como é chamada a solução de agrotóxicos) ou que tenham contato com os produtos químicos.

O efeito do agrotóxico no organismo é devastador e pode levar a pessoa à morte. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), apenas nos países em desenvolvimento, cerca de 20 mil pessoas morrem por ano em conseqüência da manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas.

A médica do Centro de Informação e Assistência Toxicologica (Ciat-DF), Sandra Magnólia de Oliveira, explica que há vários tipos de intoxicação. Existe a aguda, que é aquela derivada de algum acidente com o produto químico e a mais grave, que resulta do contato contínuo com o agroquímico.

Contaminação

No caso de um diagnóstico de intoxicação aguda, que é quando a pessoa entra em contato direto com a mistura química, a primeira coisa que deve ser feita é retirar a pessoa do ambiente contaminado e lavar bem seu corpo.

De acordo com Sandra de Oliveira, os sintomas, neste caso, são o aumento das secreções, a pessoa parece estar babando, e as pupilas, que ficam bem pequenas. “A pessoa contaminada pode sofrer, ainda, uma insuficiência respiratória. Se não for levada imediatamente para o hospital, ela pode morrer”, alerta a médica.

Quando a pessoa faz uso contínuo dos agrotóxicos sem tomar os cuidados necessários, os sintomas da intoxicação costumam aparecer com o decorrer do tempo. Os primeiros sinais são associados ao sistema nervoso central. Neste caso, é comum que a pessoa apresente tremores, perda de memória, irritabilidade, tonturas e náuseas.

As conseqüências da intoxicação podem ir além desses sintomas e gerar, inclusive, lesões na pele, problemas no fígado, nos rins, no sangue e até câncer. A forma mais rápida de absorção dos produtos químicos é pelos pulmões. Por isso, os agricultores que fazem uso das pesticistas devem se submeter a exames médicos regulares.

Segundo a médica Shirley de Campos, especialista em intoxicação, em alguns casos, existem maneiras não químicas de combate a pragas. Um exemplo é o uso de variedades de plantas resistentes a pragas e doenças, assim como a rotação de culturas, a destruição de resíduos de colheitas, a adubação adequada, a irrigação correta e outras boas práticas agrícolas.

A utilização de armadilhas e de barreiras, assim como o controle físico por temperatura e umidade e o uso de inimigos naturais a pragas também são práticas agrícolas recomendadas pela médica.

Uso de equipamento é obrigatório

Para evitar danos causados por pragas e doenças e assegurar uma boa colheita, o ideal é que o uso de agrotóxicos seja feito da maneira correta. O engenheiro agrônomo Geraldo Magela Gontijo, gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) no núcleo rural de Pipiripau (DF), explica que, quando se fala em aplicação correta, estão inclusos aí a proteção do aplicador, do consumidor e do meio ambiente.

O aplicador é quem corre o maior risco de se contaminar e intoxicar, mas o consumidor também pode ser atingido, até mesmo de maneira grave, se ingerir o composto químico por meio dos resíduos que podem ficar no produtos. Já o meio ambiente, pode ser contaminado devido à má utilização dos agroquímicos.

Na opinião de Geraldo Magela, a aplicação correta dos agrotóxicos é um processo mais complexo do que parece. “Até o transporte e o armazenamento têm uma legislação específica para evitar intoxicações”, destaca o agrônomo. Por isso, o agricultor deve ficar ficar atento a vários itens, que vão desde o preparo da substância tóxica até o descarte do material utilizado, passando pela forma correta de preparo e aplicação.

Proteção

Cada produto químco utilizado exige um tipo de proteção, e os equipamentos têm de ser usados durante todo processo de preparação e aplicação. Normalmente, o ideal é que o agricultor se proteja com roupas de tecido impermeável, calças, jaleco com mangas compridas, avental e máscara.

“A vestimenta do aplicador deve estar completamente impermeável, mas isso, do ponto de vista do conforto, é muito difícil. Por isso, é aconselhável que a aplicação seja feita nas horas mais frias do dia”, ressalta Magela. O ideal é que a temperatura esteja abaixo de 30º C e a umidade acima de 55%.

De acordo com Magela, é importante lembrar, também, que o depósito tem que ser exclusivo para os defensivos agrícolas. “Não se pode guardar nenhum outro produto no local em que os agroquímicos são armazenados. Isso, porque o contato tem alto poder de contaminação”, explica o agrônomo. Geraldo Magela explica, ainda, que ao guardar os defensivos deve-se deixar, também, um espaço entre a prateleira e a parede do depósito.

Devolva as embalagens

O descarte das embalagens é outra etapa que merece atenção. A legislação brasileira proíbe que o material seja queimado ou enterrado. Ele deve ser devolvido. “Se o agricultor fizer tudo certo, mas deixar o equipamento exposto é o meio ambiente que é contaminado e sofre as conseqüências da má aplicação do agrotóxico”, destaca o agrônomo Geraldo Magela.

Embalagens e vasilhames contaminadas com agrotóxicos nunca devem ser queimados, enterrados, despejados no solo, jogados na água ou deixados nas beiras de rios ou estradas. Esse cuidado evitará a contaminação das águas de lagos e rios, e também, de animais e pessoas.

As embalagens de agrotóxicos vazias devem ser lavadas três vezes e depois, guardadas em local seguro até serem levadas para um centro de recepção e coleta para reciclagem e destinação final sem riscos.

O usuário de agrotóxicos deve consultar o fabricante e o revendedor para saber quais os centros de recepção e coleta de embalagens vazias que existem em sua região.

A água da lavagem dos vasilhames deve ser colocada no tanque do equipamento de aplicação para ser reutilizada nas áreas de lavoura recém-tratadas. Toda a operação da lavagem deve ser feita usando-se os equipamentos de proteção.