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EUA: ‘Taxa verde’ paga por consumidor sustenta marketing

Mais de 750 companhias de serviços públicos dos Estados Unidos afirmam ter encontrado uma nova maneira de conter o aquecimento global. Elas oferecem aos clientes a oportunidade de pagar um extra sobre suas contas de energia elétrica para a geração de “energia verde”. Mas, em muitos casos, boa parte do dinheiro é desviada para cobrir custos de marketing e pouca coisa segue para a geração de energia renovável adicional. Por Ben Elgin e Diana Holden, da BusinessWeek, no Valor Econômico, 22/09/2008.

Lisa Baker, de Atlanta, aceitou a proposta de proteger o meio ambiente quando a Georgia Power convidou os consumidores a pagarem a taxa extra anual mínima de US$ 54 para “ajudar e proporcionar mais energia renovável à Geórgia”, em 2007. Pagar a taxa “é o equivalente a plantar 125 árvores e deixar de usar o automóvel por 3,2 mil quilômetros”, alardeou a companhia, uma unidade da gigante Southern Co.

No entanto, registros públicos mostram que mais de 60% dos US$ 239 mil gastos no segundo trimestre de 2007, quando Baker se inscreveu no programa, foram destinados a propaganda e administração. “Estão se aproveitando da boa vontade das pessoas”, diz Stephen Smith, diretor da Southern Alliance for Clean Energy, um grupo de Knoxville que defende o uso de energias mais limpas.

A Georgia Power diz que o percentual de 60% caiu agora para 15% dos custos gerais. E que grande parte do dinheiro restante vai para compras em um aterro local, que gera metano do lixo em decomposição.

Mas comprar eletricidade gerada pelo gás produzido pelo aterro não parece criar nenhum benefício adicional ao meio ambiente: o gás produzido a partir do lixo é hoje mais barato que fontes convencionais, como o carvão mineral. “Qualquer empresa de serviços públicos pode usar o gás de aterros (sem cobrar a taxa verde). Isso é óbvio”, diz Smith.

A Georgia Power responde que a eletricidade gerada pelo metano dos aterros era mais cara que outros tipos de energia quando o programa começou, em 2006.

Mais de 600 mil lares americanos entraram para programas promovidos por companhias de serviços públicos que alegam reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa, que contribui para as mudanças climáticas.

Mas mesmo com seu zelo pelos alardeados direitos ambientais, muitas companhias de energia relutam em explicar com detalhes como os pagamentos extras dos consumidores produzem energia verde que de outra forma não seria gerada.

Em julho, a Florida Public Service Commission acabou com o programa de energia verde da Florida Power & Light, após uma auditoria constatar que mais da metade das taxas recolhidas iam para marketing e administração. O programa tinha mais de 38 mil participantes que pagavam um adicional de US$ 9,75 por mês. O comissário da Public Service Commission, Nathan Skop, descreveu o programa como “apenas relações públicas e pouca consistência”.

A Florida Power & Light defende com firmeza o programa, afirmando que os outdoors, anúncios em jornais e inserções em contas eram necessários para alertar os consumidores. A companhia diz que o resto do dinheiro foi para novas instalações de geração de energia solar e a compra de créditos de energia renovável. Esses créditos (REC, na sigla em inglês) são certificados que indicam que uma geradora de energia verde, como uma usina de turbinas eólicas, produziu energia que não agride o meio ambiente. Os compradores de RECs recebem crédito por bancarem a geração de energia limpa. No entanto, a Florida Power & Light não revela a maior parte das fontes que forneceram RECs para o seu programa, alegando obrigações de confidencialidade.

O programa GoGreen Power da Duke Energy de Indiana, conseguiu mais de 1,1 mil adesões entre seus clientes, que pagam uma taxa extra de pelo menos US$ 5 por mês. Segundo os folhetos de divulgação da Duke: “Adquirir o programa GoGreen garante que uma quantidade determinada de eletricidade será produzida a partir de recursos renováveis”. Mas os registros de 2007 revelam que menos de 18% das taxas extras, ou cerca de US$ 15,8 mil, foram usados para comprar RECs; 48%, ou US$ 42,95 mil, foram para o programa de marketing.

A Duke diz que embora tenha que aplicar volumes significativos para recuperar os custos de iniciação do programa, ele ainda assim contribui para a proteção do meio ambiente.

[EcoDebate, 23/09/2008]