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Anvisa quer banir remédios para emagrecer; endocrinologistas reagem. Riscos superam benefícios, diz Anvisa

Proposta de proibir os emagrecedores que atuam no sistema nervoso central, como a sibutramina e os derivados de anfetamina, foi anunciada a entidades médicas da área; para especialistas, decisão é radical e deixará pacientes sem alternativa de tratamento

O reinado dos remédios emagrecedores está por um fio. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer banir de vez a comercialização de todas as drogas usadas para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, dietilpropiona e mazindol).

A única droga para o tratamento da obesidade que continuará liberada será o orlistate (Xenical), que atua diretamente no intestino, reduzindo em cerca de 30% a absorção de gordura. Reportagem de Fernanda Bassette, em O Estado de S.Paulo.

Diante de estudos que apontam que o consumo de sibutramina aumenta o risco de problemas cardíacos, desde o ano passado a Anvisa impôs novas regras e endureceu os critérios de venda dessa droga – considerada de primeira classe no tratamento da obesidade. Ela deixou de ser vendida como medicamento comum e passou a integrar a categoria dos anorexígenos, drogas que exigem receita especial.

A proposta de proibir os emagrecedores foi anunciada a especialistas e entidades médicas da área na semana passada e será publicada hoje no site da agência, junto com um parecer explicando os motivos (mais informações na página A14).

Radical. Para médicos endocrinologistas que atuam no combate à obesidade, a medida é radical demais e vai deixar os pacientes sem opção de tratamento, já que o controle da fome e da saciedade ocorre no cérebro.

“Quase metade da população brasileira tem sobrepeso. Muitos pacientes não conseguem perder peso com o tratamento clínico convencional, que inclui dieta e exercícios físicos. Como vamos controlar a obesidade desses pacientes sem mexer no cérebro?”, diz o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do departamento de obesidade do Hospital das Clínicas (HC).

Segundo Mancini, o estudo no qual a Anvisa se baseia para tentar banir a sibutramina foi feito em pacientes com mais de 55 anos, com doença coronariana. “Nós já não indicávamos sibutramina para pacientes cardíacos. O que vamos fazer com o resto da população obesa?”

A presidente da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade (Abeso), Rosana Radominski, afirma que a Anvisa não considerou as atuais diretrizes sobre tratamento da obesidade. “Os técnicos não levaram isso em consideração. Como eles defendem mudanças de hábitos e exercícios físicos, ficará a ideia de que só é gordo quem quer. Colocaram no mesmo saco o profissional sério e os que promovem o uso indiscriminado dessas drogas. O correto seria intensificar a fiscalização.”

A endocrinologista Cláudia Cozer, diretora da Abeso, concorda. “A grande maioria dos pacientes toma esses remédios com critério e com acompanhamento. Retirar do mercado é uma medida drástica.”

Riscos superam benefícios, diz Anvisa
Debate na agência surgiu após União Europeia banir a sibutramina; para diretor, proibir só essa substância levaria a uso abusivo de anfetaminas

Os benefícios não superam os riscos. É o principal argumento que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pretende usar na próxima semana, durante audiência pública, para convencer a classe médica de que é melhor proibir de vez o uso de medicamentos usados para emagrecer. Segundo Dirceu Barbano, diretor da agência, o assunto vem sendo discutido desde o ano passado, quando a União Europeia baniu a sibutramina. “Quase nenhum outro país tem sibutramina. As anfetaminas também estão diminuindo. E não há notícia de que isso piorou ou atrapalhou o tratamento da obesidade.” Em 2009, foram vendidas no País 67,5 toneladas de sibutramina. Reportagem de Fernanda Bassette, em O Estado de S.Paulo.

Barbano explica que, se a agência proibisse apenas o consumo da sibutramina, a tendência seria a migração para as anfetaminas. “Somos os campeões mundiais no consumo de anfetaminas. Aqui elas circulam indiscriminadamente, de maneira desconhecida.”

Segundo Barbano, a Anvisa fez um levantamento interno e concluiu que, por mais que o medicamento seja controlado e indicado apenas para pacientes com determinados perfis, não há evidências suficientes que demonstrem que a perda de peso supera os riscos cardíacos.

“A nossa proposta, sustentada por uma extensa pesquisa, é de retirada imediata desses produtos do mercado. A não ser que consigam nos demonstrar com dados consistentes que estamos errados e esses remédios são bons e seguros”, diz.

O diretor da Anvisa também afirma que o orlistate (Xenical) continuará sendo comercializado. “Esse medicamento atua no intestino e traz resultados. O fato é que inibir o apetite com medicamento não é uma forma segura de tratar a obesidade.”

A audiência pública não trará resultado imediato. Os dados serão enviados para análise final. Segundo Barbano, se houver proibição, o impacto é direto em farmácias de manipulação, mas não será necessário tirar das prateleiras os medicamentos. Eles terão o registro suspenso e sairão das farmácias naturalmente. “Certamente haverá um conjunto de reações, mas essa é uma decisão que vai gerar mais saúde.”

PARA LEMBRAR

Proibição estimula venda irregular

Medicamentos banidos do País ou que têm regras mais rígidas para a comercialização são comumente encontrados em pequenas farmácias, importados do Paraguai ou adquiridos por meio da internet.

Um exemplo é o misoprostol, apresentado comercialmente como Citotec. Indicado para o tratamento de problemas gástricos, é famoso por ser abortivo. A venda é restrita a hospitais cadastrados, mas são comuns os casos de mulheres internadas após usarem o medicamento em casa.

A dificuldade para combater a venda irregular não é só do Brasil. Em 2010, a Interpol realizou uma ação em 45 países para coibir o comércio de remédios sem receita. No País, a PF desarticulou uma rede que agia em sete Estados e apreendeu 15 mil comprimidos.

EcoDebate, 17/02/2011


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