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Levantamento feito em fragmentos florestais documenta que a falta de manejo afeta diversidade de espécies

Um levantamento feito em 13 fragmentos florestais e na Mata Ribeirão Cachoeira, localizados entre Sousas e Joaquim Egídio, distritos do município de Campinas, detectou uma hiperabundância de gambás, única espécie registrada em todos os fragmentos estudados. O cachorro-doméstico, o tatu-galinha e o cachorro-do-mato também apareceram em abundância no conjunto florestal. Este fato, explica a autora do estudo, a bióloga Camila Paula de Castilho, está relacionado à pequena densidade de grandes predadores de topo na região, como é o caso da onça parda, espécies chaves para garantir a diversidade de comunidades.

“Minha preocupação é que esses predadores chamados de topo, que necessitam de grandes áreas de vida para sua sobrevivência, estejam em processo de extinção por conta da fragmentação, ocasionando um descontrole da comunidade por liberarem as populações de gambá, por exemplo, do controle populacional”, destaca a autora da pesquisa ao chamar a atenção para a constatação de que a comunidade encontrada nos fragmentos estudados está simplificada e dominada por algumas espécies generalistas e oportunistas.

“Os pequenos fragmentos são os últimos refúgios para a comunidade, mas a simples manutenção dessas áreas pequenas e isoladas como estão, não é garantia da permanência da diversidade de espécies em longo prazo. É imprescindível que medidas de manejo e restauração da paisagem sejam realizadas em curto prazo para garantir a manutenção da atual comunidade”, alerta.

Quanto ao fato da existência dominante do gambá e das demais espécies nos locais, Camila também aponta as características generalistas e oportunistas desses animais. Como eles se alimentam de diferentes itens e conseguem adaptar-se bem em ambientes perturbados e fragmentados como o da região da APA, essas espécies levam vantagens sobre as demais, principalmente quando não controlados por seus predadores.

Um registro preocupante, segundo a autora, foi o fato de o cachorro-doméstico estar entre as espécies dominantes. Por não desenvolver o instinto de predador por necessidade, poderá eliminar espécies nativas importantes para a preservação dos fragmentos. Ademais, explica a bióloga, outro problema seria a possibilidade de transmissão de uma série de doenças para os bichos dentro das matas.

Dentro da comunidade também foram registradas duas espécies exóticas: a lebre européia e o ratão-do-banhado. A primeira, originária da Europa, foi registrada no Brasil pela primeira vez em 1965, na região Sul. No Sudeste a primeira espécie apareceu em 1995 e vem se expandindo com a substituição de áreas florestais pela agropecuária. Já o ratão-do-banhado está presente no Estado de São Paulo, notadamente em Campinas, associado a ambientes preservados ou alterados próximos a cursos de água.

O estudo, apresentado no Instituto de Biologia (IB) e orientado pela professora Eleonore Zulnara Freire Setz, teve como principal justificativa a hipótese de que em áreas fragmentadas, espécies de predadores de topo são as primeiras a sofrerem as consequências da extinção pela falta de recursos para sobrevivência. A bióloga esclarece que as áreas fragmentadas possuem de um a doze hectares; já a Mata Ribeirão Cachoeira conta com uma área de 220 hectares. A intenção da bióloga, no entanto, era analisar a comunidade de espécies em fragmentos com áreas de maior tamanho existentes na cidade, mas encontrou obstáculos junto aos proprietários dos locais.

Camila realizou o trabalho por meio de instalação de parcelas de areia com dois tipos de iscas odoríferas ao longo das quatro estações do ano, no período de julho de 2007 a junho de 2009. Totalizou um esforço de 665 parcelas-noite. Por quatro ou cinco dias, a cada manhã, ela visitava e analisava as pegadas dos animais que haviam passado pelo local e reunia os dados das espécies. Como entre as parcelas havia uma distância de 250 metros, isso diminuía a probabilidade de um mesmo animal passar em todas as armadilhas.

No total, a bióloga listou 20 espécies (veja a lista), variando de uma a sete espécies por fragmento e 11 na Mata Ribeirão Cachoeira. O estudo não identificou grandes carnívoros predadores de topo através das parcelas de areia – apenas a jaguatirica, o que evidencia a baixa densidade desses predadores. Somente através de outros indícios foi possível observar a presença da onça-parda e do lobo-guará na região. (R.C.S.)

Reportagem de Raquel do Carmo Santos, no Jornal da Unicamp Nº 455, publicada pelo EcoDebate, 25/03/2010

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