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Avaliação Ecossistêmica do Milênio revela a degradação ambiental do planeta, artigo de Carol Salsa

um planetinha doente...
Imagem do IHU

[EcoDebate] A Avaliação Ecossistêmica do Milênio foi solicitada pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em 2000, em seu relatório à Assembléia Geral das Nações Unidas, Nós, os Povos: O Papel das Nações Unidas no Século XXI. O objetivo da Avaliação do Milênio foi avaliar as conseqüências das mudanças nos ecossistemas sobre o bem-estar humano. Pretendia, também, estabelecer uma base científica que fundamentasse as ações necessárias para assegurar a conservação e uso sustentável dos ecossistemas. O relatório apresentado em 2005 , retrata a integração dos resultados de quatro Grupos de Trabalho da Avaliação do Milênio (AM), a saber: Condições e Tendências, Cenários, Respostas, e Avaliações Sub-globais.

A síntese foi organizada com base nas questões centrais inicialmente colocadas à avaliação:
1- de que forma os ecossistemas e seus serviços se modificaram?
2- o que causou a mudança?
3- de que forma essas mudanças influenciaram o bem-estar humano?
4- de que forma os ecossistemas podem mudar no futuro e quais as suas implicações para o bem-estar humano?
5- quais as opções existentes para assegurar a conservação dos ecossistemas e sua contribuição para o bem-estar humano?

Sem o comprometimento de 2.000 autores e revisores espalhados pelo mundo que contribuíram para o processo com o seu conhecimento, criatividade, tempo e entusiasmo não teria sido possível a elaboração deste Documento. A estrutura conceitual da AM nas interações entre a biodiversidade, serviços dos ecossistemas, bem-estar humano e vetores de mudanças, subsidia o entendimento do elo existente entre todos estes elementos.

As mudanças nos vetores que afetam diretamente a biodiversidade, entre eles a pesca e a aplicação de fertilizantes, resultam em variações significativas nos ecossistemas e nos serviços que eles oferecem, atingindo o bem-estar humano. Essas interações podem ocorrer em mais de uma escala, podendo também atravessar escalas. Por exemplo, uma demanda internacional por madeira pode acarretar uma perda regional de cobertura florestal, o que aumenta a magnitude das inundações na porção local de um rio.

Diferentes estratégias e intervenções podem ser aplicadas em muitos pontos dessa estrutura bastando que políticas públicas direcionem seu foco de ação para as consequências que disto possam advir.

A população do planeta é totalmente dependente dos seus ecossistemas através dos serviços e funções que desempenham incluindo alimentos, água, fibras, sementes, ciclagem de nutrientes, formação do solo, regulação do clima, controle de erosão, entre outros.

Três grandes problemas foram verificados como associados à gestão dos ecossistemas terrestres e que vêm causando danos significativos a algumas populações mais carentes.

Primeiro, cerca de 60% , ou seja, 15 entre 24 serviços ecossistêmicos examinados durante a Avaliação do Milênio têm sido degradados ou utilizados de forma não sustentável, incluindo água pura, captura de pesca, purificação do ar e da água, regulação climática local e regional, ameaças naturais e epidemias. É difícil mensurar o custo total resultante da perda e da deterioração desses serviços, mas as evidências demonstram que são custos substanciais e crescentes. Muitos serviços dos ecossistemas se deterioram em conseqüência de ações voltadas para intensificar o fornecimento de outros serviços, como alimentos. Em geral essas mediações ou transferem os custos da degradação de um grupo de pessoas para outro ou repassam os custos para gerações futuras.

Segundo, há evidência definida, porém incompleta, de que as mudanças em curso nos ecossistemas têm feito crescer a probabilidade de mudanças não lineares nos ecossistemas, incluindo mudanças aceleradas, abruptas, e potencialmente irreversíveis que acarretam importantes conseqüências para o ser humano. Exemplo dessas mudanças incluem aparecimento de “zonas mortas” em águas costeiras, colapso da pesca, e alterações nos climas regionais.

Terceiro, os efeitos negativos da degradação dos serviços dos ecossistemas, ou seja, a constante diminuição da capacidade de um ecossistema fornecer serviços, tem recaído de forma desproporcional sobre populações mais pobres, o que contribui para o aumento das desigualdades e disparidades entre diferentes grupos da população, sendo às vezes o principal fator gerador de pobreza e conflitos sociais.

A conclusão a que chegou o Relatório-Síntese assinada pelo Co-Presidente do Conselho da Avaliação do Milênio, Cientista-Chefe do Banco Mundial, Dr. Robert T. Watson, parece nos antecipar o que hoje estamos vivendo nestes quatro anos posteriores à finalização do relatório, reafirmando que se nada for feito, a situação mundial mudará para pior, lamentavelmente. Este relato serve como uma advertência aos que têm compromisso com o meio ambiente e aos tomadores de decisão política e administrativa.

Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.

EcoDebate, 28/08/2009

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