Investir na saúde do planeta pode aumentar PIB mundial em 10% até 2050, revela relatório da ONU
GEO-7, maior avaliação ambiental já realizada, aponta que transformação econômica verde pode evitar 9 milhões de mortes anuais e tirar milhões da pobreza

Transformação verde pode triplicar retorno econômico
O investimento em um planeta saudável não é apenas uma questão de sobrevivência ambiental, mas também uma estratégia econômica lucrativa. Esta é a principal conclusão do Global Environment Outlook 7 (GEO-7), divulgado pela ONU nesta segunda-feira durante a sétima sessão da Assembleia Ambiental das Nações Unidas, em Nairobi, no Quênia.
O relatório, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), representa a avaliação científica mais abrangente sobre o estado do meio ambiente global já realizada. Com a participação de 287 cientistas multidisciplinares de 82 países e mais de 800 revisores, o documento oferece uma análise detalhada sobre os impactos das mudanças climáticas, perda de biodiversidade, degradação do solo e poluição.
Benefícios econômicos começam em 2050
De acordo com o estudo, abordagens que envolvam toda a sociedade e todos os governos para transformar sistemas econômicos, financeiros, de materiais, energia, alimentação e meio ambiente podem gerar benefícios macroeconômicos globais expressivos. Os ganhos começariam a aparecer em 2050, cresceriam para US$ 20 trilhões anuais até 2070 e poderiam atingir US$ 100 trilhões por ano nas décadas seguintes.
As projeções indicam que, no mesmo período, quase 200 milhões de pessoas poderiam sair da subnutrição e mais de 100 milhões da pobreza extrema. O relatório também aponta que essas transformações podem evitar até 9 milhões de mortes anuais relacionadas a problemas ambientais.
Custo da inação: PIB global sob ameaça
Por outro lado, manter o curso atual de desenvolvimento terá consequências devastadoras. O documento alerta que, sem ação efetiva, a temperatura média global provavelmente excederá 1,5°C acima dos níveis pré-industriais no início da década de 2030, ultrapassando 2,0°C na década de 2040.
Nesse cenário catastrófico, as mudanças climáticas reduziriam 4% do PIB global anual até 2050 e impressionantes 20% até o final do século. O custo econômico dos danos à saúde apenas pela poluição do ar já atingiu aproximadamente US$ 8,1 trilhões em 2019, representando cerca de 6,1% do PIB global.
O custo dos eventos climáticos extremos atribuídos às mudanças climáticas nos últimos 20 anos é estimado em US$ 143 bilhões anualmente. A degradação da terra deve continuar nas taxas atuais, com o mundo perdendo anualmente terras férteis e produtivas equivalentes ao tamanho da Colômbia ou da Etiópia.
Cinco áreas-chave para transformação
O GEO-7 apresenta duas vias de transformação principais, analisando tanto mudanças comportamentais para reduzir o consumo material quanto alterações baseadas principalmente no desenvolvimento tecnológico e ganhos de eficiência. Essas vias exigem mudanças abrangentes em cinco áreas estratégicas:
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Economia e Finanças: Abandonar o PIB como único indicador econômico e adotar métricas que acompanhem também o capital humano e natural
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Materiais e Resíduos: Migrar para economias circulares, reduzindo drasticamente a geração de resíduos
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Energia: Descarbonizar completamente o sistema energético até 2050
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Sistemas Alimentares: Implementar agricultura sustentável e regenerativa
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Meio Ambiente: Investir na restauração de ecossistemas e conservação da biodiversidade
Investimento necessário: US$ 8 trilhões anuais
Para alcançar emissões líquidas zero até 2050 e garantir financiamento adequado para conservação e restauração da biodiversidade, o relatório estima que seria necessário um investimento anual de aproximadamente US$ 8 trilhões até 2050. Embora pareça um valor elevado, os retornos econômicos projetados superam amplamente este custo inicial.
Brasil no centro da discussão ambiental
O interesse dos(as) brasileiros(as) por temas ambientais tem crescido exponencialmente. Dados do Google Trends mostram que as buscas por “Amazônia” subiram mais de 80% nos últimos 10 anos no Brasil. O país é o segundo que mais pesquisa sobre clima, ficando atrás apenas da Argentina.
Termos como “ecoansiedade” registraram alta de 295,83% nas buscas de janeiro a agosto de 2025, refletindo a crescente preocupação da população com o futuro do planeta. Expressões como “consumo consciente” tiveram crescimento de 1.592% nas pesquisas, demonstrando que os(as) brasileiros(as) buscam ativamente informações sobre como contribuir para a preservação ambiental.
Janela de oportunidade está se fechando
As emissões de gases de efeito estufa aumentaram 1,5% ao ano desde 1990, atingindo um novo recorde em 2024. Entre 20% e 40% da área terrestre mundial está degradada, afetando mais de três bilhões de pessoas. Um milhão das oito milhões de espécies estimadas estão ameaçadas de extinção.
O relatório é enfático: alcançar objetivos ambientais acordados internacionalmente, junto com os benefícios sociais e econômicos que ofereceriam, ainda é possível, mas a janela de oportunidade está se fechando rapidamente. Governos e sociedades precisam implementar soluções transformadoras em sistemas financeiros, de resíduos, energia e alimentos, priorizando sustentabilidade e resiliência.
Foco em soluções práticas
Uma característica distintiva do GEO-7 é seu foco em soluções práticas para formuladores de políticas. O documento oferece orientações suficientes sobre passos práticos para desenvolvimento, adoção e implementação de políticas, incluindo gestão de sinergias, compensações, consequências não intencionais e aproveitamento de potenciais benefícios socioeconômicos.
Edgar Gutierrez-Espeleta, copresidente do relatório e ex-ministro do Meio Ambiente da Costa Rica, destacou que o GEO-7 marcará “um antes e um depois” na forma como as questões ambientais são abordadas globalmente. “Estamos trazendo uma visão sinérgica para a equação, não uma visão em compartimentos, para que possamos desenvolver soluções integradas”, afirmou.
Urgência e esperança
O Global Environment Outlook 7 representa simultaneamente um alerta urgente e uma mensagem de esperança. Enquanto documenta a gravidade da tripla crise planetária — mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição — o relatório demonstra que soluções viáveis existem e podem gerar retornos econômicos substanciais.
A transformação necessária exige colaboração em todos os níveis da sociedade, desde governos e empresas até cidadãos individuais. Com o Brasil sediando a COP30 em 2025, o país tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, implementando as recomendações do GEO-7 e demonstrando que desenvolvimento econômico e preservação ambiental não são objetivos conflitantes, mas complementares.
O relatório completo está disponível no site da UNEP e representa leitura essencial para formuladores de políticas, empresários, cientistas e cidadãos preocupados com o futuro do planeta.
Fonte: GEO-7, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) Data de publicação: 9 de dezembro de 2025
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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