Autistas Brasil repudia declarações de Donald Trump que associam autismo ao uso de Tylenol e vacinas
Entidade denuncia discurso eugenista e alerta para o risco de políticas que desumanizam pessoas autistas
A Autistas Brasil manifestou repúdio às declarações feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, sem apresentar evidências científicas, associou nesta segunda-feira (22) o uso de Tylenol durante a gravidez e a vacinação infantil ao desenvolvimento do autismo.
Durante coletiva na Casa Branca, Trump afirmou que bebês seriam “carregados” com até 80 vacinas “de uma só vez” e recomendou que gestantes evitem o uso de paracetamol. A FDA (agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA, equivalente à Anvisa) confirmou que atualizará informações sobre o medicamento, mas reforçou que não há comprovação de relação causal entre o paracetamol e o autismo.
Em nota, o vice-presidente da Autistas Brasil, Arthur Ataide Ferreira Garcia, classificou as declarações como parte de um projeto político de apagamento das pessoas com deficiência.
“Trump e Kennedy não estão apenas equivocados quando falam que o autismo é causado pelo uso de Tylenol, não é meramente um erro, é um projeto político. Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea, sem lugar para aqueles tidos como ‘diferentes’, ‘estranhos’, ‘deficientes’”, afirmou Garcia.
Segundo a entidade, o aumento de diagnósticos de autismo observado nas últimas décadas não é epidemia nem crise de saúde pública, mas reflexo de maior acesso à avaliação e diagnóstico, especialmente entre grupos historicamente invisibilizados, como mulheres autistas e pessoas negras.
Garcia destacou que não existe evidência científica consistente que sustente a associação entre paracetamol, vacinas e autismo. “Até o momento, não há ensaios clínicos randomizados, metanálises robustas ou grandes estudos populacionais que apontem uma relação real. O que vemos é uma estratégia deliberada de transformar nossa condição em um mal a ser combatido, uma cruzada capacitista em nome de um mundo supostamente mais ‘normal’”, disse.
A Autistas Brasil também alerta que discursos como o de Trump já encontram ressonância no Brasil, especialmente em setores ligados ao lobby de clínicas privadas que defendem a “cura” do autismo. Para a entidade, esse movimento ameaça a construção de políticas públicas baseadas na inclusão e na emancipação.
“O autismo não é doença e não precisa de cura. O que a sociedade deve buscar são políticas públicas que promovam emancipação, e isso não se dá com um discurso que patologiza a existência de pessoas autistas. Se dá com acessibilidade, educação inclusiva, cuidado humanizado e emprego apoiado”, completou Garcia.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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