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Estudo revela impacto fatal da colisão de aves em vidraças

 

Estudo com 4.103 registros em 11 países aponta picos de colisões durante migração e espécies ameaçadas, como gavião-pombo e saíra-pintor

Pesquisa publicada na “Ecology” alerta para mortes de aves em janelas; Brasil lidera registros, incluindo espécies endêmicas da Mata Atlântica. Dados podem embasar políticas urbanas sustentáveis.

foto de fachada envidraçada de prédio com reflexo de núvens

Foto: Freepik

Um total de 4.103 registros de mais de 500 espécies de aves colidindo em janelas de vidro, entre 1946 e 2020, foi reunido no artigo publicado hoje no periódico “Ecology”,  formando o maior banco de dados sobre colisões de aves em vidraças na América Latina, incluindo registros de 11 países da região neotropical – América Central e América do Sul.

O levantamento mostrou que 2.537 aves morreram imediatamente após as colisões, e 1.515 foram encontradas vivas e encaminhadas a centros de reabilitação.

As cinco ordens de aves mais frequentemente relatadas foram Passeriformes (2.451), Columbiformes (520), Apodiformes (377), Psittaciformes (202) e Piciformes (186).

Os registros sugerem picos temporais em março-abril e outubro-novembro, provavelmente coincidindo com os principais períodos de migração e reprodução. 

A pesquisa, liderada por Augusto João Piratelli e Bianca Ribeiro (Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba – SP) e Ian MacGregor-Fors (Universidade de Helsinki, Finlândia), contou com mais de 100 colaboradores, incluindo os pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) Flávia Guimarães Chaves, Mariane da Cruz Kaizer, Lucas Gonçalves da Silva, Claudio Novaes e Juliana Paulo da Silva. 

O estudo resultou de uma ampla campanha de coleta de informações via redes sociais e e-mail e revelou padrões sazonais e geográficos importantes para a conservação da avifauna dos países latinos.

O Brasil foi o país que forneceu o maior número de registros para este banco de dados:  foram 1.452 observações, que envolvem aves ameaçadas de extinção globalmente, como gavião-pombo-pequeno  (Buteogallus lacernulatus), cigarrinha-do-sul (Sporophila falcirostris) e saíra-pintor (Tangara fastuosa), endêmicas da Mata Atlântica.

“Os dados obtidos nesse levantamento foram filtrados e rigorosamente validados, permitindo a inclusão de observações sistemáticas, ocasionais e registros institucionais, com todo o rigor científico necessário”, explica Augusto João Piratelli.

Os pesquisadores do INMA forneceram dados de Santa Teresa/ES, onde a instituição está sediada, na região central-serrana do Espírito Santo. Esses dados referem-se a 29 colisões, com destaque para espécies como beija-flor-preto (Florisuga fusca), tangará-dançarino (Chiroxiphia caudata), tiê-preto (Tachyphonus coronatus), tiriba-de-barriga-vermelha (Pyrrhura frontalis) e saíra-douradinha (Tangara cyanoventris, que somente ocorrem na Mata Atlântica, além de aves migratórias como gavião-bombachinha (Harpagus diodon) e sabiá-una (Turdus flavipes).

“Esse esforço coletivo preenche uma lacuna importante no conhecimento sobre os impactos das estruturas envidraçadas nas aves neotropicais, uma ameaça amplamente documentada em países do hemisfério norte, mas até então pouco conhecida na América Latina”, destaca Piratelli. 

“O banco de dados disponibilizado publicamente poderá subsidiar políticas públicas, normas de construção e campanhas de conscientização voltadas à redução das colisões com vidros, um passo importante para tornar as cidades mais amigáveis à biodiversidade”, reforça Flávia Chaves, pesquisadora do INMA que participou do estudo.

Link para a publicação: https://esajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ecy.70126

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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