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Artigo

O Meio Ambiente está nos deixando gordos e doentes? artigo de Shelby Gonzalez

Foto de Marcello Casal JR / ABr
Foto de Marcello Casal JR / ABr

‘Obesogens’: outros fatores ambientais que contribuem para a síndrome metabólica.

[EcoDebate] A sabedoria convencional nos diz que o crescimento meteórico da obesidade , bem como de suas condições de saúde correlacionadas – cujos primeiros estágios são agora chamados síndrome metabólica – se devem ao Ocidente e a má repercussão da “ síndrome da batata do sofá.” Isto equivale a dizer que nas últimas décadas vimos comendo demais e exercitando muito pouco.

Conquanto dieta pobre e inatividade desempenhem papel inqüestionável no desenrolar da síndrome metabólica , isto não resume a historia toda. Evidências , clínicas e epidemiológicas , implicam cada vez mais um outro vilão: o Meio Ambiente.

Uma explicação insuficiente

Alguns cientistas suspeitam que uma combinação de fatores ambientais, incluindo-se um grupo de químicos denominados ‘obesogens’ , compartilham da culpa pela explosão da síndrome metabólica e seus estágios posteriores: diabete, obesidade, doenças cardiovasculares, e mesmo a Doença de Alzheimer.

“A despeito do que vimos ouvindo,” disse o Dr. Bruce Blumberg, Professor de Biologia Celular e do Desenvolvimento, e de Ciências Farmacêuticas na Universidade da Califórnia, em Irvine, “dieta e exercício apenas, são insuficientes para explicar a epidemia de obesidade.”

Uma teleconferência apresentada em 7 de maio pela organização sem fins lucrativos Collaborative on Health and the Environment, abordou este tópico urgente e instigante. Este artigo é baseado na teleconferência mencionada.

É estimado que a síndrome metabólica afete mais de um terço dos adultos norte-americanos, sendo 60% deles abaixo dos 65 anos.

Quando o ambiente colide com a biologia humana

O orador, Dr. David Jacobs, Professor de Saúde Pública na Universidade de Minnesota, um epidemiologista de doenças crônicas, definiu a síndrome metabólica como “uma constelação de anormalidades metabólicas relacionadas (gordura corporal, manutenção da gordura sanguínea, insulina, glicose).”

Os fatores ambientais suspeitos de contribuir para a síndrome metabólica incluem o sistema alimentar, o sistema de transporte, o ambiente construído, a poluição do ar, ‘obesogens’, outros contaminantes ambientais, e o estresse sócio-econômico.

Tais agentes estressantes alternam caminhos no corpo, causando inflamação, estresse oxidante , e sinalização do distúrbio da insulina. Caminhos alternados podem, por outro lado, conduzir ao diabete, obesidade, doença cardiovascular e lipídeos anormais (correlacionados à demência e à Doença de Alzheimer).

Você pode imaginar a síndrome metabólica como um cruzamento de estradas, disse o orador Dr. Jill Stein, co-fundador da Massachusetts Coalition para Saúde das Comunidades , membro da diretoria da Greater Boston Physicians for Social Responsibility, e co-autor do recente relatório Environmental Threats to Healthy Aging – Ameaças Ambientais ao Envelhecimento Saudável- (www.agehealthy.org).

“É aí que o ambiente encontra a bilogia humana nos estágios iniciais do processo da doença. Você consegue imaginar fatores ambientais como que colidindo com a biologia humana aqui ” ?

Culpados Químicos
A epidemia da obesidade, conforme o Dr. Bruce Blumberg pontuou, de uma certa forma correlaciona com o aumento dos químicos industriais (plásticos, pesticidas, etc.) desde os anos decorrentes da Segunda Guerra Mundial.

Contudo, ele observou para seus ouvintes, “correlação não é causa.”

Adicionalmente, muitos contaminantes ambientais afetam o sistema endócrino, o qual desempenha papel importante na determinação do peso controlando o apetite e o metabolismo, desenvolvimento das células da gordura e equilíbrio dos lipídeos. Estes fatos básicos , mais sugestiva pesquisa de laboratório, levou os cientistas a proporem rotulagem adicional para certos químicos: ‘obesogen’.

Há algum tempo atrás , Dr. Blumberg e seus colegas propuseram “a hipótese do obesogen ”, que define ‘obesogens’ como “químicos que inapropriadamente estimulam a adipogenesis e armazenagem de gordura , que existem e contribuem para a obesidade epidêmica.”

Vários estudos detectaram que exposição pré- e pós-natal aos ‘obesogens’ , reprograma o metabolismo de animais expostos , tornando-os predispostos a obesidade na vida madura.

Dr. Pete Myers, fundador, Presidente, e cientista chefe Environmental Health Sciences, iniciou a teleconferência descrevendo um desses estudos, por Soo Lim et al., publicado no jornal PLoS One em abril de 2009.

Este estudo [Chronic Exposure to the Herbicide, Atrazine, Causes Mitochondrial Dysfunction and Insulin Resistance] pode ser acessado clicando aqui.

O estudo envolveu exposição crônica de ratos a baixos níveis de atrazina, um herbicida comum. Após cinco meses de exposição , os ratos demonstraram taxa basal metabólica diminuída, aumento do peso corporal , aumento da gordura intra-abdominal , e resistência aumentada a insulina . Os efeitos foram mais fortes ainda quando os ratos foram submetidos a uma dieta alta em gorduras.

Os cientistas concluíram que exposição de longo termo a atrazina poderia contribuir para o desenvolvimento de resistência a insulina e diabete, nas pessoas, especialmente onde dietas ricas em gordura são prevalentes.

“As exposições que eles usaram estavam dentro dos parâmetros a que uma pessoa está frequentemente exposta, “ disse o Dr. Myers, “especialmente em campos de cultivo de milho. Eu imagino que estaremos ouvindo mais sobre esta linha de pesquisa no futuro.”

POPs, diabete e síndrome metabólica

Quando o CDC testou o sangue de 2,016 adultos para detectar a presença de seis POPs (Persistent Organic Pollutants) como parte dos estudos da National Health and Nutrition Examination Surveys (NHANES, 1999-2002), foi descoberto que cada POPs estava relacionado ao aumento da ocorrência do diabete. Pessoas com níveis de POPs no topo do quarter tinham o risco de desenvolver diabete, 38 vezes maior que aqueles que ficavam na base dos níveis do quarter.

Entre não diabéticos em NHANES, pessoas com níveis do pesticida organoclorado no topo do quarter tinham risco 5 vezes maior de adquirir a síndrome metabólica , comparadas a aquelas na base do quarter.

Estes agentes poluidores, embora a maior parte banida na década de 70, ainda persistem na nossa alimentação. São também encontrados em computadores, refrigeradores, retardantes de chama, e depósitos de lixo.

O que você pode fazer
No que tange a prevenção, disse o Dr. Stein , há três coisas que você pode fazer como indivíduo, para reduzir seu risco de síndrome metabólica.

“O caminho que você optar seguir depende dos particulares de sua vida e de sua comunidade. Há muitas intervenções dietéticas – eu abordarei a dieta do Mediterrâneo porque há muitos dados indutivos sobre seu efeito em reduzir não apenas a síndrome metabólica mas também as outras que já abordamos, e ainda algumas outras. Observe os passos básicos para reduzir a exposição química. Faça exercícios.”

A dieta do Mediterrâneo é composta principalmente de frutas e vegetais, muito grão integral, peixe, óleo de oliva, e muito pouco alimento processado ou carne vermelha.

O que podemos fazer
Inquirido sobre prevenção, o Dr. Jacobs pontuou a necessidade de se pensar em nível macro.

Shelby Gonzalez, shelbygonzalez{at}gmail.com, é escritora freelance, especializada em ciências e meio ambiente.

Textro traduzido por Cylene Dantas da Gama, Gestora do Instituto Serrano Neves, especialmente para o EcoDebate.

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[EcoDebate, 26/05/2009]

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