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Artigo

Cai o número de homicídios e sobe a expectativa de vida no Brasil

 

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Brasil é um dos países mais violentos do mundo e possui elevado número de assassinatos e uma alta taxa de homicídios.

Mas os homicídios estão diminuindo e quanto menor o número de mortes, maior é a expectativa de vida e melhores são as condições de vida e saúde das famílias e do país.

O Brasil teve uma redução de 20,3% no número de homicídios entre os anos de 2013 e 2023, como mostram os dados do gráfico abaixo do Atlas da Violência, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O gráfico abaixo mostra que o número de homicídios foi de 57,4 mil em 2013, subiu para 65,6 mil em 2017 e caiu nos anos seguintes até atingir 45,7 mil em 2023. Houve uma queda de 20,3% entre 2013 e 2023. A taxa de homicídios registrados foi de 28,8 por 100 mil habitantes em 2013, subiu para 31,8 em 2017 e caiu para 21,2 por 100 mil habitantes em 2023, o menor valor da série.

Brasil número e taxa de homicídios por 100 mil habitantes

A tabela abaixo mostra o número de homicídios no Brasil, por sexo. Houve uma queda de cerca de 20% no número de homicídios, tanto para homens quanto para mulheres. O número de homicídios masculinos é cerca de 11 vezes superior ao número de homicídios femininos.

número de homicídios por sexo no Brasil

As altas taxas de homicídios são uma tragédia persistente no Brasil, com impactos profundos na saúde pública e no desenvolvimento social:

  • Causa de morte prematura: A violência interpessoal, especialmente os homicídios, é uma das principais causas de morte, sobretudo entre jovens do sexo masculino, ceifando anos de vida potencialmente saudáveis e produtivos.

  • Impacto na expectativa de vida: Embora a expectativa de vida geral esteja aumentando, a violência, em particular os homicídios, atua como um fator limitante significativo, especialmente em certos grupos populacionais e regiões.

  • Desigualdades raciais e sociais: As vítimas de homicídio no Brasil têm um perfil bem definido, sendo majoritariamente jovens, negros e moradores de áreas periféricas, expondo as profundas desigualdades estruturais do país. O risco de uma pessoa negra ser vítima de homicídio é significativamente maior do que o de uma pessoa não negra.

  • Custos sociais e econômicos: A violência gera custos enormes para a sociedade, incluindo gastos com saúde, segurança pública, sistema prisional, além da perda de capital humano e do impacto psicológico nas famílias e comunidades afetadas.

  • Diferenças de gênero: Em comparação com as mulheres, a taxa de homicídios masculinos é muito mais elevada. Os homens jovens, negros e moradores de áreas periféricas são as principais vítimas da violência letal no Brasil.

  • Tendências recentes: Apesar de uma tendência de queda nas taxas de homicídio nos últimos anos em nível nacional, impulsionada em parte por dinâmicas de facções criminosas e fatores demográficos, algumas unidades federativas ainda apresentam altas taxas e, em alguns casos, aumento da violência letal.

A transição epidemiológica se caracteriza por sobreposição de perfis. Diferentemente de muitos países desenvolvidos que viram uma substituição gradual de doenças infecciosas por doenças crônico-degenerativas, o Brasil ainda enfrenta uma carga significativa de doenças infecciosas e parasitárias, coexistindo com o aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares, câncer e diabetes. Essa dupla carga ou, para alguns autores, até uma “tripla carga” com a inclusão de causas externas (violência e acidentes), representa um desafio complexo para o sistema de saúde.

A expectativa de vida ao nascer cresceu muito no Brasil entre 1950 e 2019, especialmente entre as mulheres, mas sofreu um baque com a pandemia da covid-19 entre os anos de 2020 e 2022. Em 1950 a expectativa de vida ao nascer, para ambos os sexos era de 48,5 anos, sendo 46,4 anos para os homens e 50,9 anos para as mulheres (diferença de 4,5 anos). Em 2019, os números passaram para 75,8 anos no total, 72,7 anos para as mulheres e 79 anos para os homens (diferença de 6,3 anos). Em 2021, a expectativa de vida ao nascer para ambos os sexos caiu para 73 anos, sendo 69,8 anos para os homens e 76,4 anos para as mulheres (diferença de 6,4 anos).

Felizmente, com o fim da epidemia, a expectativa de vida voltou a aumentar e atingiu 76,2 anos em 2025, para ambos os sexos, sendo 73,1 anos para os homens e 79,3 anos para as mulheres (diferença de 6,2 anos). Segundo a Divisão de População da ONU, a expectativa de vida deve continuar crescendo no século XXI e deve atingir 86,8 anos para ambos os sexos em 2100, sendo 85,3 anos para os homens e 88,3 anos para as mulheres (diferença de 3 anos), conforme mostra o gráfico abaixo.

expectativa de vida ao nascer por sexo no Brasil

Portanto, nas projeções da ONU, a desigualdade de gênero diminuirá nas próximas décadas, sendo que a redução do número de homicídios é fundamental para este processo de aumento da expectativa de vida ao nascer, com convergência das taxas entre os homens e as mulheres. Reduzir os níveis de violência é essencial para o aumento da longevidade e para o bem-estar da população brasileira.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

Atlas da Violência 2025.Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rio de Janeiro, 2025 https://forumseguranca.org.br/publicacoes/atlas-da-violencia/

UN, DESA, Population Division. World Population Prospects 2024 https://population.un.org/wpp/

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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