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Brasil registra aumento expressivo de dias perigosos para a gravidez devido ao calor extremo

 

44°C, em Laranjeiras, RJ, 2/2/2019. Foto: Beatriz Diniz
44°C, em Laranjeiras, RJ, 2/2/2019. Foto: Beatriz Diniz

 

Entre 2020 e 2024, gestantes em São Luís (MA) enfrentaram quase 50 dias por ano de calor extremo. Novo estudo revela que a mudança climática dobrou os dias perigosos para a gravidez em 90% dos países

Por Pamela Gouveia | Instituto ClimaInfo

O calor extremo, impulsionado pela mudança climática, representa uma ameaça crescente à saúde materna e aos desfechos da gravidez em todo o mundo, incluindo o Brasil, de acordo com uma nova análise da Climate Central. Nos últimos cinco anos, a mudança climática pelo menos dobrou o número médio anual de dias perigosamente quentes para grávidas em quase 90% dos países e territórios, e em 63% das cidades, em comparação com um mundo sem mudança climática.

O Brasil registrou uma média de 27 dias adicionais por ano com risco térmico elevado para gestantes, como consequência direta das mudanças no clima causadas pelas atividades humanas. A cidade de São Luís, no Maranhão, lidera esse ranking: foram, em média, 49 dias por ano com temperaturas acima do considerado seguro para a gestação.

A Climate Central analisou as temperaturas diárias de 2020 a 2024 em 247 países e territórios e 940 cidades para medir o aumento dos chamados dias de risco térmico gestacional — dias em que as temperaturas máximas ultrapassam 95% das temperaturas locais históricas, um limiar associado ao aumento do risco de parto prematuro. O parto prematuro pode gerar efeitos duradouros sobre a saúde do bebê e aumentar o risco de complicações na saúde materna após o nascimento.

Esta é a primeira análise que quantifica diretamente como a mudança climática está aumentando os dias perigosamente quentes e influenciando as gestações.

As principais conclusões incluem:

  • Todos os países analisados apresentaram aumento nos dias de risco térmico gestacional devido à mudança climática, causada principalmente pela queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.
  • Na maioria dos países e territórios (222 dos 247), a mudança climática pelo menos dobrou o número anual de dias de risco térmico gestacional nos últimos cinco anos, em todos os continentes, em comparação com um mundo sem mudança climática.
  • Em quase um terço dos países e territórios (78 de 247), a mudança climática acrescentou, a cada ano, o equivalente a um mês adicional de dias perigosos para a gestação, entre 2020 e 2024.
  • Em alguns países e cidades, todos os dias de risco térmico gestacional registrados nos últimos cinco anos foram causados pela mudança climática. Em outras palavras, em um mundo sem mudança climática, esses locais não teriam experimentado temperaturas iguais ou superiores ao percentil 95º de temperatura durante esse período.
  • A mudança climática adicionou o maior número de dias de risco térmico gestacional em países em desenvolvimento, frequentemente com acesso limitado a serviços de saúde, incluindo Caribe, América Central e do Sul, Ilhas do Pacífico, Sudeste Asiático e África Subsaariana. Essas regiões estão entre as mais vulneráveis aos impactos da mudança climática, apesar de contribuírem minimamente para as emissões de gases de efeito estufa.

O calor extremo é um dos riscos climáticos mais perigosos para a saúde materna e infantil.

Pesquisas ligam as altas temperaturas durante a gravidez ao aumento dos riscos de complicações como hipertensão, diabetes gestacional, hospitalização, morbidade materna grave, natimortos e partos prematuros, que podem acarretar impactos para toda a vida das crianças. Os países mais afetados são, ironicamente, os que menos contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa.

“O calor extremo é hoje uma das ameaças mais urgentes para pessoas grávidas em todo o mundo, colocando mais gestações em situação de alto risco — especialmente em locais que já enfrentam dificuldades no acesso à saúde. Reduzir as emissões de combustíveis fósseis não é apenas benéfico para o planeta — é uma medida crucial para proteger pessoas grávidas e recém-nascidos ao redor do mundo”, disse o Dr. Bruce Bekkar, médico especializado em saúde da mulher e autoridade sobre os perigos da mudança climática para a saúde humana.

“Mesmo um único dia de calor extremo pode aumentar o risco de complicações graves na gravidez”, disse Dra. Kristina Dahl, vice-presidente de Ciência na Climate Central. “A mudança climática está intensificando o calor extremo e dificultando ainda mais a chance de gestações saudáveis em todo o mundo, principalmente onde o acesso ao atendimento já é limitado. Os impactos sobre a saúde materna e infantil tendem a piorar se não pararmos de queimar combustíveis fósseis e não enfrentarmos urgentemente a mudança climática”.

Notas:

>> O relatório completo está disponível aqui.

>> Esta análise quantifica como a mudança climática influencia a frequência de calor extremo associado ao aumento do risco de partos prematuros e examina onde as pessoas grávidas estão mais em risco, com base em dois mecanismos principais:

  • Dias de risco térmico gestacional: Foram contabilizados os dias com temperaturas superiores a 95% das temperaturas observadas em determinado local — limiar associado ao aumento do risco de parto prematuro. Definimos esses dias extremamente quentes como “dias de risco térmico gestacional”.
  • Índice de Mudança Climática (Climate Shift Index – CSI): Foram calculados quantos dias de risco térmico gestacional teriam ocorrido em um mundo sem mudança climática causada pelo ser humano (ou seja, um cenário contrafactual) e comparamos com o total observado a cada ano. Isso permitiu quantificar quantos dias de risco térmico gestacional foram adicionados pela mudança climática anualmente.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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