As árvores: amigas do silêncio, do amor e da verdade
Há uma sabedoria ancestral nas árvores. Elas não têm olhos, mas veem tudo. A cada estação, respondem com elegância às mudanças do mundo
Ensaio de Rosângela Trajano
Em um mundo onde os sentimentos são, muitas vezes, disfarçados por palavras vazias ou gestos interesseiros, as árvores se erguem como amigas únicas e silenciosas, testemunhas vivas de um amor genuíno e de uma sinceridade que não precisa ser explicada. Elas não falam como os humanos, mas expressam tudo com sua presença firme, sua sombra acolhedora e sua oferta constante de vida. As árvores amam sem pedir nada em troca. Estão ali, enraizadas, sustentando o céu com seus galhos e protegendo a terra com suas raízes.
O amor das árvores é paciente. Elas crescem devagar, respeitando o tempo. Não forçam seus ramos nem correm para florescer; apenas seguem o ritmo da natureza, sem pressa e sem ostentação. São amigas leais: estão sempre no mesmo lugar, firmes, mesmo quando esquecidas ou maltratadas. Dão frutos, flores, abrigo e ar. E fazem tudo isso sem esperar reconhecimento. Essa generosidade muda e constante é talvez uma das maiores formas de sinceridade que o mundo já conheceu.
Diferente dos amores humanos, cheios de vaivéns e dúvidas, o amor da árvore é inteiro. Ela oferece sua beleza e seus recursos mesmo a quem nunca lhe dirige um olhar. E mesmo quando é ferida, derrubada ou ignorada, a árvore não odeia, não se vinga, não mente. Sua linguagem é feita de presença. Sua verdade está no que ela dá. Por isso, podemos dizer com segurança: entre todos os seres, as árvores talvez sejam aquelas que mais se aproximam do verdadeiro amor e da mais profunda sinceridade.
Há uma sabedoria ancestral nas árvores. Elas não têm olhos, mas veem tudo. A cada estação, respondem com elegância às mudanças do mundo: florescem quando o sol aquece, perdem as folhas quando o frio chega, e renascem mesmo depois das tempestades mais violentas. Essa resiliência é uma forma de amar a vida como ela é, sem reclamar, sem tentar controlá-la. Elas ensinam, em silêncio, que o amor verdadeiro está na aceitação serena e no cuidado contínuo, e não em promessas grandiosas ou sentimentos passageiros.
A sinceridade das árvores está também na forma como vivem. Elas não fingem ser o que não são. Uma figueira não tenta ser um ipê, nem uma mangueira tenta imitar uma oliveira. Cada uma tem sua forma, sua função, seu tempo. E é exatamente por serem fiéis à sua essência que se tornam tão belas e completas. Em um mundo onde tantas pessoas vivem tentando se adaptar às expectativas dos outros, as árvores nos lembram que ser autêntico é o maior gesto de integridade.
Quando uma criança se senta à sombra de uma árvore, ela é acolhida sem julgamento. Quando os pássaros constroem seus ninhos em seus galhos, não são expulsos. E até mesmo quando um andarilho cansado encosta-se a seu tronco, a árvore oferece descanso sem nada exigir. Essa hospitalidade muda é amor em sua forma mais pura. É cuidado sem interesse. É presença sem invasão. As árvores amam com o corpo inteiro: do tronco à raiz, das folhas ao perfume.
E talvez por isso, quando estamos em meio à natureza, sentimos uma paz que não encontramos nas cidades. É como se as árvores nos entendessem sem precisar de palavras. Elas nos oferecem uma amizade que não cobra explicações, uma escuta silenciosa que nos acalma.
Num mundo apressado, as árvores nos ensinam a estar, a ser, a permanecer — com calma, com verdade, com amor.
Rosângela Trajano, Colunista do EcoDebate, é poetisa, escritora, ilustradora, revisora, diagramadora, programadora de computadores e fotógrafa. Licenciada e bacharel em filosofia pela UFRN e mestra em literatura comparada também pela UFRN. É pesquisadora do CIMEEP – Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos Épicos. Com mais de 50 (cinquenta) livros publicados para crianças, ministra aulas de Filosofia para crianças na varanda da sua casa, de forma voluntária. Além disso, mora pertinho de um mangue aonde vai todas as manhãs receber inspiração para poetizar
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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