A queda na religiosidade nos EUA
Menos americanos se identificam com uma religião, a frequência e o número de membros de igrejas estão diminuindo e a religião desempenha um papel menos importante na vida das pessoas do que antes
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Uma pesquisa do Instituto Gallup, divulgada em novembro de 2025 mostra que houve uma redução da religiosidade nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e nos Estados Unidos da América (EUA) nos anos 2000, sendo que a queda de 17 pontos percentuais nos EUA está entre as maiores mudanças registradas pelo Gallup.
Quedas tão acentuadas na religiosidade são raras. Desde 2007, apenas 14 dos mais de 160 países participantes da Pesquisa Mundial de Religião registraram quedas de mais de 15 pontos percentuais na importância da religião em qualquer período de 10 anos.
Apenas um pequeno número de nações, em sua maioria ricas, experimentou perdas maiores em religiosidade, incluindo a Grécia de 2013 a 2023 (28 pontos percentuais), a Itália de 2012 a 2022 (23 pontos percentuais) e a Polônia de 2013 a 2023 (22 pontos percentuais). Outros países, como Chile, Turquia e Portugal, apresentaram declínios de magnitude semelhante ao dos EUA.
Com a queda da religiosidade nos EUA, a diferença entre os EUA e a média global aumentou, como mostra o gráfico abaixo. A média global de religiosidade permaneceu estável por quase duas décadas, com média de 81% desde 2007 e atingindo 83% no ano passado, o dado anual mais recente disponível.

Ao mesmo tempo, as atitudes nos EUA estão se aproximando das de outras economias avançadas. Nos 38 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2024, uma mediana de 36% dos adultos afirmou que a religião é importante em suas vidas diárias. A diferença entre os EUA e a mediana desses países é agora menor do que em qualquer outro momento da pesquisa Gallup.
O declínio de longo prazo na religiosidade coloca os EUA em uma posição singular no cenário religioso global. A maioria dos países se enquadra em um dos quatro padrões: alta religiosidade com identidade cristã; alta religiosidade com outra identidade religiosa (frequentemente maioria muçulmana, embora haja vários países no Oriente Médio onde a Gallup não inclui perguntas sobre identidade religiosa); baixa religiosidade com identidade cristã; ou baixa religiosidade sem identidade religiosa.
Segundo o Gallup, os EUA não se encaixam mais perfeitamente em nenhuma dessas categorias, apresentando uma identidade cristã de nível médio a alto, mas religiosidade mediana. Em termos de identidade religiosa, a porcentagem de americanos que se identificam como cristãos é semelhante à de países da Europa Ocidental e do Norte, como o Reino Unido, a Alemanha, a Finlândia e a Dinamarca, nações com fortes tradições protestantes. No entanto, a religião continua a desempenhar um papel maior na vida diária dos americanos do que na dos habitantes desses países.
Por outro lado, a importância da religião na vida diária nos EUA assemelha-se à de países como a Argentina, a Irlanda, a Polônia e a Itália — onde o catolicismo é mais influente —, mas um número significativamente menor de americanos se identifica como cristão em comparação com essas populações. Atualmente, menos da metade da população adulta dos Estados Unidos (49%) entende que a religião é uma parte importante de sua vida diária. Em 2015, esse percentual era de dois terços (66%).
Isso marca uma mudança em relação a 2008, quando o Gallup começou a monitorar consistentemente a identidade religiosa das pessoas e o papel da religião na vida diária na maior parte do mundo. Naquela época, os EUA estavam mais alinhados com países onde a religião era amplamente praticada e a maioria dos adultos se identificava como cristã.
O declínio constante da religiosidade nos EUA na última década tem sido evidente há anos.
Menos americanos se identificam com uma religião, a frequência e o número de membros de igrejas estão diminuindo e a religião desempenha um papel menos importante na vida das pessoas do que antes. Mas esta análise dos dados da World Poll, do Instituto Gallup, coloca o declínio num contexto mais amplo, mostrando a magnitude da mudança em termos globais. Desde 2007, poucos países registaram declínios tão acentuados na religiosidade.
Como mostrei no artigo “A menor influência da religião é essencial para o desenvolvimento econômico”, publicado aqui no Portal Ecodebate (Alves, 21/12/2018), os estudos acadêmicos mostram que os países seculares tendem a ser mais ricos e menos desiguais do que os religiosos. Os estudos mostram que o desenvolvimento econômico antecede o processo de secularização. No passado, a religião atendia as funções práticas da sociedade, como educação, saúde e bem-estar. Mas quando as sociedades prosperavam passavam a cumprir essas funções sozinhas e a religião se deslocava do ambiente público para o ambiente privado. Portanto, os EUA estão se alinhando aos demais países da OCDE.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Os países mais religiosos são os mais desiguais socialmente, Ecodebate, 23/12/2018
ALVES, JED. A menor influência da religião é essencial para o desenvolvimento econômico, Ecodebate, 21/12/2018 https://www.ecodebate.com.br/2018/12/21/a-menor-influencia-da-religiao-e-essencial-para-o-desenvolvimento-economico-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Benedict Vigers and Julie Ray. Drop in U.S. Religiosity Among Largest in World, Gallup, 13/11/2025
https://news.gallup.com/poll/697676/drop-religiosity-among-largest-world.aspx
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]