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Amazônia pode perder até 38% da floresta até 2100, alerta novo estudo

 

250611 desmatamento amazonia

Pesquisa revela impactos combinados do desmatamento e aquecimento global na maior floresta tropical do mundo

Análise inédita quantifica pela primeira vez os efeitos conjuntos das mudanças climáticas e alterações no uso da terra sobre a Amazônia, indicando que região pode ultrapassar ponto crítico de degradação irreversível.

Estudo alerta para perda catastrófica da floresta amazônica

Um novo estudo publicado pela Universidade Ludwig-Maximilians de Munique (LMU) traz alertas preocupantes sobre o futuro da Amazônia. A pesquisa estima que mudanças no uso da terra em conjunto com as mudanças climáticas podem levar à perda de até 38% da floresta amazônica até o final do século XXI.

A análise, publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), representa o primeiro estudo sistemático a considerar os efeitos combinados do desmatamento e do aquecimento global sobre o bioma amazônico. Os resultados indicam que a floresta pode estar se aproximando perigosamente de um ponto de não retorno.

Desmatamento e clima: uma dupla ameaça

Segundo a pesquisa, das perdas projetadas, 25% seriam atribuíveis às mudanças no uso da terra e 13% ao aumento das temperaturas. Esses números ganham ainda mais relevância quando contextualizados com dados recentes do Brasil.

De agosto de 2024 a julho de 2025, o desmatamento na Amazônia brasileira atingiu 5.796 km², representando queda de 11,08% em relação ao período anterior. Apesar da redução, pesquisas brasileiras mostram que as chuvas apresentaram redução de cerca de 21 milímetros na estação seca por ano, com o desmatamento contribuindo para uma diminuição de 15,8 mm.

A situação é complexa. O aumento da área sob alerta de desmatamento na Amazônia está relacionado ao avanço dos incêndios em florestas primárias, situação que anteriormente não era tão expressiva, mas que tem sido agravada pela mudança do clima.

O limiar crítico de 20-25%

A análise mostra que as projeções levariam a região além do limiar de 20 a 25% de perda florestal, que estudos anteriores apontaram como o ponto de não retorno para a Amazônia. Esse conceito se refere a um momento crítico em que o ecossistema não consegue mais se regenerar naturalmente.

A pesquisadora Selma Bultan, líder do estudo da LMU, explica que esse limiar representa uma transição potencialmente irreversível. Uma vez ultrapassado, a floresta densa poderia se transformar em uma paisagem de savana, com consequências devastadoras para o clima global.

Aquecimento de 2,3°C como ponto de ruptura

Um dos achados mais alarmantes do estudo é que o risco de perda abrupta de área florestal, em oposição ao declínio gradual, aumenta significativamente quando o aquecimento ultrapassa 2,3°C. Este dado é particularmente preocupante considerando as projeções atuais.

Com base nas políticas atuais e compromissos definidos para ação climática, o mundo está caminhando para um aquecimento global de pelo menos 2,5°C, segundo a professora Julia Pongratz, coautora do estudo e especialista em Geografia Física e Sistemas de Uso da Terra na LMU.

Impactos locais já são evidentes

Os efeitos dessa dupla pressão já são sentidos na região. A temperatura máxima aumentou cerca de 2°C, sendo 16,5% atribuídos ao efeito da perda florestal e o restante às mudanças climáticas globais.

Estudos brasileiros complementam essa análise. O desmatamento da Amazônia brasileira é responsável por cerca de 74,5% da redução de chuvas e por 16,5% do aumento da temperatura do bioma nos meses de seca, segundo pesquisa da Universidade de São Paulo.

Incêndios: um novo fator de destruição

A área da Amazônia afetada por incêndios florestais saltou de 500 km² em maio de 2024 para 960 km² em maio de 2025. Este aumento dramático representa uma mudança no padrão histórico de degradação da floresta.

Durante todo o ano de 2024, os incêndios florestais responderam por 51% da destruição, um aumento significativo em relação aos 1% registrados em 2022. Essa transformação reflete a crescente vulnerabilidade da floresta às secas e ao calor extremo.

A Amazônia como regulador climático global

A floresta amazônica não é importante apenas regionalmente. Em biomassa e solo, a floresta armazena um décimo de todo o carbono dos ecossistemas terrestres. Sua perda teria repercussões climáticas globais imensuráveis.

Através de seu enorme poder evaporativo, a floresta amazônica puxa umidade do oceano para o interior do continente, onde a precipitação evapora e chove constantemente novamente. Este ciclo hidrológico mantém a floresta viva e influencia padrões climáticos em toda a América do Sul.

Ações urgentes são necessárias

A professora Julia Pongratz enfatiza que desenvolvimentos positivos como as proteções aprimoradas das florestas tropicais acordadas na conferência climática na COP30, em Belém, precisam ser expandidos, enquanto aceleramos o ritmo de nossa luta contra o aquecimento global.

A pesquisa da LMU utilizou modelos do sistema terrestre com vegetação dinâmica, analisando o desmatamento na bacia amazônica de 1950 a 2014 e projetando o declínio futuro sob dois cenários climáticos diferentes. Essa abordagem metodológica representa um avanço significativo na compreensão dos riscos que a Amazônia enfrenta.

Contexto brasileiro de combate ao desmatamento

O Brasil implementou a reestruturação da governança ambiental, com a criação de Planos de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento para a Amazônia, o Cerrado e demais biomas brasileiros. Essas medidas têm mostrado resultados, mas especialistas alertam que os esforços precisam ser intensificados.

De agosto de 2024 a julho de 2025, as áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia atingiram 4.495 km², o segundo menor nível da série histórica do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Na comparação de corte raso, sem uso de fogo, houve queda de 8% em relação ao ciclo anterior.

Conclusão: uma janela de oportunidade estreita

O estudo da LMU deixa claro que o destino da Amazônia não está selado, mas a janela para ações efetivas está se fechando rapidamente. A combinação entre esforços locais de combate ao desmatamento e ações globais contra o aquecimento climático é essencial para evitar que a maior floresta tropical do mundo ultrapasse seu ponto de não retorno.

Pongratz conclui: “O valor da floresta amazônica é grande demais para colocar sua existência em risco”. As próximas décadas serão decisivas para determinar se conseguiremos preservar esse ecossistema vital para o planeta.

Referência:

S. Bultan, Y. Moustakis, S. Bathiany, N. Boers, R. Ganzenmüller, G. Gyuleva, & J. Pongratz, Amazon forest faces severe decline under the dual pressures of anthropogenic climate change and land-use change, Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 122 (50) e2418813122, https://doi.org/10.1073/pnas.2418813122 (2025).

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Amazônia pode perder até 38% da floresta até 2100, alerta novo estudo. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/12/16/amazonia-pode-perder-ate-38-da-floresta-ate-2100-alerta-novo-estudo/ (Acessado em dezembro 16, 2025 at 19:46)

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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