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O caminho da eletrificação do transporte rodoviário de carga no Brasil

 

 

Índice de registro global de caminhões - elétricos e outros

De acordo com uma nova pesquisa da Interact Analysis , prevê-se que os caminhões elétricos a bateria (BEV) representem 17% dos registros de caminhões em todo o mundo em 2025 e cheguem a 43% em 2030.

 

Eletrificação da carga no Brasil: uma corrida contra o tempo para modernizar o transporte nacional

A revolução dos caminhões elétricos, já em curso globalmente, impõe ao Brasil a urgência de superar desafios históricos para não perder competitividade e sustentar seu crescimento.

Por Henrique Cortez*

Enquanto o mundo acelera a transição para um futuro de baixo carbono, o setor de transportes no Brasil se encontra em uma encruzilhada decisiva. A eletrificação do transporte rodoviário de carga, impulsionada por uma revolução tecnológica liderada pela China, deixou de ser uma projeção futurista para se tornar uma questão de urgência estratégica. Para a nação que possui uma das maiores malhas rodoviárias e cuja economia depende intrinsecamente do caminhão, adiar essa transição é comprometer a competitividade, a sustentabilidade e a resiliência logística do país para as próximas décadas.

A urgência silenciosa: o mundo não espera

A discussão no Brasil ainda frequentemente gira em torno de “se” os caminhões elétricos são viáveis. No resto do mundo, especialmente na China, a questão já foi resolvida. Dados do especialista Michael Barnard, publicados no site CleanTechnica, revelam que a China foi responsável por 95% de todas as vendas globais de caminhões pesados elétricos em 2024.

Com mais de 53 mil unidades vendidas apenas no ano passado e uma frota operacional que já representa 70% do global, fica claro que não se trata de um nicho de mercado, mas de uma mudança estrutural.

A urgência para o Brasil reside nesse novo panorama global. Caminhões elétricos chineses, com custo total de propriedade (TCO) já inferior ao do diesel, começarão a ser exportados em massa. Empresas multinacionais com operações no Brasil, pressionadas por metas globais de ESG (Environmental, Social, and Governance), demandarão transportadoras com frotas limpas.

Quem não se adaptar, perderá contratos e verá seus custos logísticos se tornarem progressivamente mais altos em comparação com concorrentes de países que adotaram a nova tecnologia.

A importância estratégica: muito além do verde

A eletrificação da carga no Brasil vai muito além do benefício ambiental, que por si só já é crucial, considerando a participação significativa do transporte na matriz de emissões nacionais. Trata-se de um imperativo econômico com impactos diretos na competitividade:

  • Redução de custos logísticos: O custo da eletricidade para mover um caminhão é drasticamente menor que o do diesel. Para um setor onde o combustível pode representar até 40% dos custos operacionais, a economia é transformadora.

  • Previsibilidade financeira: A eletricidade oferece uma estabilidade de preço incomparável, frente à volatilidade do diesel, atrelada às incertezas geopolíticas do petróleo. Isso permite um planejamento financeiro de longo prazo muito mais seguro para transportadoras e embarcadores.

  • Modernização da frota: A eletrificação é a oportunidade para saltar de uma frota envelhecida e ineficiente para uma de ponta, com veículos conectados, mais seguros e com menor custo de manutenção.

Os desafios a serem superados

Reconhecer a urgência e a importância não basta. É essencial enfrentar os desafios concretos que impedem a aceleração dessa transição no país.

  1. Infraestrutura de recarga: O calcanhar de Aquiles. O Brasil precisa, com urgência, de um plano nacional para a instalação de uma rede de eletropostos de alta potência ao longo de seus principais corredores rodoviários. Sem a garantia de que um caminhão elétrico possa recarregar de forma rápida e confiável na BR-116 ou na BR-163, a operação de longa distância – a espinha dorsal do transporte nacional – se torna inviável.

  2. Políticas públicas: A falta de ‘sinal verde’. O Estado precisa sair da inércia e criar um marco regulatório incentivador. Isso inclui:

    • Incentivos fiscais: Redução ou isenção de IPI, ICMS, IPVA e impostos de importação para caminhões elétricos e componentes.

    • Financiamento: Criação de linhas de crédito específicas no BNDES e em bancos comerciais, com juros subsidiados, para a aquisição de frotas elétricas.

    • Regulamentação: Definição clara das regras para a comercialização de energia elétrica para terceiros, permitindo que postos de combustível e empresas privadas instalem e explorem pontos de recarga pública.

  3. Desenvolvimento da cadeia produtiva: Não apenas consumir, mas produzir. O maior desafio de longo prazo é evitar que o Brasil se torne um mero importador de tecnologia. É fundamental fomentar uma cadeia produtiva local, atraindo montadoras para fabricar veículos elétricos aqui e, principalmente, desenvolvendo a produção nacional de componentes críticos, como baterias, e serviços especializados em conversão e manutenção.

A janela de oportunidade para o Brasil se posicionar nessa nova economia não estará aberta para sempre. A transição para os caminhões elétricos é inevitável. A escolha do país é entre ser um líder regional, aproveitando para modernizar sua infraestrutura e indústria, ou um seguidor tardio, assistindo passivamente ao aumento do custo Brasil e à perda de competitividade no cenário global. O tempo para definir esse rumo é agora.

* Henrique Cortez, jornalista e ambientalista. Editor do EcoDebate.

 

Citação
EcoDebate, . (2025). O caminho da eletrificação do transporte rodoviário de carga no Brasil. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/12/02/o-caminho-da-eletrificacao-do-transporte-rodoviario-de-carga-no-brasil/ (Acessado em dezembro 23, 2025 at 01:04)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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