Como construir uma sociedade mais saudável e produtiva para sustentar vidas mais longas
O aumento da longevidade não deve ser visto apenas como um problema, mas, em especial, como uma oportunidade e um imperativo para a sociedade
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O envelhecimento populacional é a marca demográfica do século XXI. Pela primeira vez na história o número de idosos supera o de crianças no Brasil e no mundo. A elevação da longevidade é uma conquista civilizatória e, se bem aproveitada, pode garantir o aumento do bem-estar geral da sociedade.
O livro “The Longevity Imperative: How to Build a Healthier and More Productive Society to Support Our Longer Lives” (O imperativo da longevidade: como construir uma sociedade mais saudável e produtiva para sustentar nossas vidas mais longas) escrito por Andrew J. Scott, professor de Economia na London Business School é uma obra fundamental para entender o processo de envelhecimento.

O professor Andrew Scott parte do reconhecimento de que a longevidade, isto é, o fato de vivermos muito mais do que no passado, representa uma das maiores conquistas da história da humanidade, mas geralmente é visto como um problema, não uma oportunidade. Para se contrapor “ao catastrofismo demográfico”, ele busca transformar essa narrativa negativa, propondo que a longevidade seja vista como um imperativo positivo.
Scott faz uma diferenciação entre:
a) Idade cronológica – tempo de vida transcorrido;
b) Idade prospectiva – anos restantes esperados;
c) Idade biológica – índice de saúde real do organismo.
Ele destaca que envelhecer bem significa investir desde cedo em saúde, educação, riqueza, relacionamentos e propósito — para que os anos adicionais sejam ativos e produtivos.
O livro defende uma economia perene, onde indivíduos, instituições e mercados se adaptam para promover anos de vida mais saudáveis e produtivos. Isso requer:
1) Reformular a previdência, educação, saúde e mercado de trabalho;
2) Criar empregos e atividades amigáveis para pessoas mais velhas, com flexibilidade e incentivo à requalificação.
O professor Scott critica sistemas de saúde centrados em intervenções médicas tardias e propõe foco na prevenção, inclusive biotecnologias que retardem o envelhecimento biológico. Ele sugere que aumentar o healthspan (anos saudáveis) pode render benefícios econômicos imensos, mais que erradicar doenças isoladas.
Inspirado na ideia de uma vida com múltiplas fases — educação, família, reinvenção profissional — Andrew Scott recomenda:
a) Criação de carreiras diversificadas;
b) Mobilização de redes pessoais e profissionais;
c) Frequência à educação continuada e
d) Preparação financeira adaptável às mudanças de vida.
Em síntese, Scott, argumenta que o aumento da longevidade não deve ser visto apenas como um problema, mas, em especial, como uma oportunidade e um imperativo para a sociedade. Ele destaca que a estrutura social e econômica atual, baseada em um modelo de três fases (educação, trabalho e aposentadoria) é inadequada para um mundo com maior longevidade e vidas que se prolongam por mais de 100 anos.
Scott defende a necessidade de uma reestruturação do ciclo de vida, promovendo aprendizado contínuo, carreiras flexíveis e mais diversificadas e uma visão da aposentadoria como um período de novas atividades e contribuições, e não apenas de inatividade. O autor conclui que, para prosperar na era da longevidade, é crucial investir em saúde, educação e no bem-estar geral, transformando a sociedade para que ela sustente e valorize vidas mais longas.
Envelhecer melhor significa aumentar a expectativa de vida saudável, de modo a diminuir a diferença em relação à expectativa de vida. Precisamos nos preparar para vidas mais longas em idades cada vez mais jovens. Em vez de concentrar recursos apenas no apoio aos idosos, precisamos ajudar os jovens a se tornarem os idosos mais saudáveis de todos os tempos.
Sem dúvida, envelhecer é uma conquista civilizatória. Mais do que acrescentar anos à vida, é fundamental dar vida aos anos extras. A longevidade traz um verdadeiro bônus, que, se bem aproveitado, pode elevar de forma significativa a qualidade de vida.
Desta forma, o envelhecimento populacional é uma realidade inexorável e deve ser acolhido, não temido. Cabe aos indivíduos, à sociedade civil e às políticas públicas se adaptarem e explorarem plenamente as oportunidades dessa nova dinâmica demográfica do século XXI.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
Scott, A. J. 2024. The Longevity Imperative: How to Build a Healthier and More Productive Society to Support Our Longer Lives. New York: Basic Books.
SCOTT, Andrew. PIOT, Peter. The Longevity Dividend, F&D, IMF, June 2025
https://www.imf.org/en/Publications/fandd/issues/2025/06/the-longevity-dividend-andrew-scott
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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