Amazônia Já: ABC lança plano de ações urgentes para salvar o bioma

Documento “Amazônia Já!”, da Academia Brasileira de Ciências, sintetiza debates de cientistas e indígenas e apresenta caminhos concretos contra o desmatamento, crises urbanas e ameaças à saúde na região.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) divulgou o policy brief “Amazônia Já!” com recomendações urgentes para o bioma. O documento detalha ações em 5 áreas: conectividade ecológica, Amazônia urbana, saúde única, diálogo de saberes e infraestrutura científica. Confira as principais recomendações para desmatamento zero, saneamento e proteção dos povos indígenas.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) lançou um policy brief com os principais pontos discutidos em sua Reunião Magna de 2025. Intitulado “Amazônia Já! Ações urgentes para o futuro do bioma, sua biodiversidade e seus povos”, o documento reúne recomendações de especialistas sobre urbanismo, saúde, conectividade ecológica, diversidade cultural e infraestrutura científica e tecnológica da região. Confira a íntegra aqui.
O material organiza essas contribuições em cinco tópicos: conectividade ecológica, Amazônia urbana, saúde única, diálogo de saberes e ciência na Amazônia. As recomendações são resultado de debates entre cientistas brasileiros e internacionais, pesquisadores experientes e jovens, além de ativistas e representantes de povos indígenas que participaram da reunião, realizada em maio deste ano.
Para a ABC, os tópicos representam os desafios mais urgentes para garantir um futuro sustentável para a Amazônia. Isso exige unir ações estratégicas de preservação com iniciativas que promovam bem-estar às populações locais – medidas que precisam ser tomadas ainda nesta década, segundo o documento.
“A Amazônia é um sistema vivo, complexo e interdependente, que conecta clima, biodiversidade e pessoas. Não há futuro sustentável para o planeta sem o cuidado e a compreensão profunda desse bioma. O policy brief “Amazônia Já! Ações urgentes para o futuro do bioma, sua biodiversidade e seus povos” é um chamado à ação baseado em evidências científicas e no diálogo entre saberes. Ele reconhece que proteger a Amazônia significa também cuidar da saúde, da cultura e da economia do Brasil”, afirma Adalberto Val, pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e vice-presidente da ABC para a Região Norte, que liderou o trabalho.
“As recomendações reunidas apontam caminhos concretos para que a Amazônia seja não apenas um tema de debate, mas um projeto de país. O tempo da discussão já passou. É tempo de agir com base na ciência, com justiça social e com visão de futuro”, completa.
Confira os principais pontos do documento:
Conectividade ecológica
O policy brief reforça que a Amazônia funciona como um sistema interligado entre florestas, rios e atmosfera, e que essa conectividade está em risco com o avanço do desmatamento, degradação e de grandes obras de infraestrutura. A ABC alerta que esses impactos já resultam em secas severas, cheias históricas, incêndios e interrupções no abastecimento em diversas regiões. Para reverter o cenário, o texto recomenda manter o compromisso com o desmatamento zero, fortalecer a fiscalização, frear a expansão de estradas e barragens, ampliar áreas protegidas e investir em restauração florestal (ao menos 6 milhões de hectares até 2030) baseada em práticas locais.
Amazônia urbana
O resumo chama atenção para a Amazônia urbana, que concentra a maior parte da população da região, mas ainda enfrenta déficits críticos de saneamento, mobilidade, energia e abastecimento alimentar. Eventos climáticos extremos têm exposto ainda mais essas vulnerabilidades. Para a ABC, é preciso um planejamento urbano que considere a dinâmica das águas, acelere a universalização do saneamento, fortaleça a produção local de alimentos e incentive energia renovável descentralizada, reduzindo dependências e custos. O documento sugere ainda medidas específicas, como revisar planos diretores para mobilidade fluvial, acelerar o ritmo de investimentos e implementação do Plano Nacional de Saneamento Básico e do Plano Nacional de Saneamento Rural, utilizar sistemas fotovoltaicos flutuantes (painéis solares) e instituir fundos municipais socioambientais, entre outros pontos.
Saúde Única
A combinação entre mudanças climáticas, pressão sobre florestas e desigualdades territoriais aumenta o risco de doenças infecciosas e zoonoses na região. A dificuldade de acesso a serviços de saúde, especialmente para povos indígenas e comunidades isoladas, agrava o quadro. A ABC propõe ampliar a vigilância integrada entre saúde humana, animal e ambiental; expandir UBS fluviais e pontos de testagem; qualificar profissionais nos próprios territórios; e valorizar práticas interculturais de cuidado, integrando água, saneamento e resíduos às políticas de saúde.
Diálogo de saberes
O documento ressalta a importância dos povos indígenas e comunidades tradicionais na construção de soluções para o futuro da Amazônia, tanto pela proteção dos territórios quanto pelos conhecimentos acumulados sobre manejo, alimentação, saúde e biodiversidade. Para isso, é necessário fortalecer pesquisas lideradas por esses grupos, garantir repartição justa de benefícios, ampliar a presença indígena em universidades e órgãos de fomento, e criar mecanismos de proteção a defensoras e defensores ambientais.
Ciência na Amazônia
A Amazônia ainda recebe pouco investimento em ciência e tecnologia, o que limita a instalação de laboratórios, a formação de pesquisadores e o desenvolvimento de soluções criadas na própria região. Para mudar esse cenário, a ABC recomenda ampliar recursos de longo prazo, incentivar a fixação de cientistas amazônidas, criar editais com liderança local e participação de povos tradicionais, modernizar infraestrutura crítica e atrair centros de inovação que possam transformar conhecimento em aplicações de impacto regional.
Sobre a ABC
Fundada em 1916, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) é uma instituição independente e sem fins lucrativos que reúne os mais destacados cientistas do país em diferentes áreas do conhecimento.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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