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Alimentos ultraprocessados são ameaça global à saúde, alertam especialistas de The Lancet

 

alimentos ultraprocessados
Foto: EBC/ABr

Nova série de artigos expõe como o lucro corporativo impulsiona dietas não saudáveis e detalha as táticas da indústria para bloquear regulamentações eficazes.

Pesquisadores de 43 países pedem políticas coordenadas urgentes — de impostos a restrições de marketing e rótulos mais claros — para combater o crescimento de UPFs e financiar o acesso a alimentos frescos.

Descubra por que especialistas globais da revista The Lancet alertam que o consumo de alimentos ultraprocessados (AUPs) é uma ameaça urgente à saúde pública. Entenda a associação com doenças crônicas e as políticas necessárias para regulamentar a indústria alimentícia e priorizar sistemas alimentares saudáveis.

Uma nova e contundente série de três artigos, publicada na revista The Lancet, aponta que o aumento global de alimentos ultraprocessados (AUPs) representa uma grande ameaça à saúde pública e exige uma reforma urgente das políticas em todo o mundo.

De autoria de 43 especialistas globais, a série expõe como a economia alimentar moderna, impulsionada pelo lucro corporativo, e não pela nutrição ou sustentabilidade, tem remodelado as dietas globais.

O crescimento dos alimentos ultraprocessados e seus danos comprovados

Os AUPs são definidos como produtos de marca inovadores feitos com ingredientes industriais baratos, como óleos hidrogenados, isolados de proteína ou xarope de glicose/frutose, e aditivos alimentares cosméticos (como corantes ou adoçantes artificiais). Esses produtos são concebidos para substituir alimentos e refeições frescas e minimamente processadas, maximizando os lucros corporativos.

O consumo desses alimentos está aumentando drasticamente em muitos países. Por exemplo, a contribuição energética dos AUPs para a ingestão alimentar diária triplicou na Espanha e na China nas últimas três décadas. Nos EUA e no Reino Unido, o consumo se mantém elevado, acima de 50%.

A pesquisa revisada pela série apresenta evidências consistentes de que dietas ricas em AUPs estão associadas a múltiplos problemas. Os riscos incluem alimentação excessiva e baixa qualidade nutricional (excesso de açúcar e gorduras não saudáveis e pouca fibra e proteína). Uma revisão sistemática abrangendo 104 estudos de longo prazo constatou que 92 deles relataram maiores riscos associados a doenças crônicas. Meta análises demonstraram associações significativas para 12 condições de saúde, incluindo obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, depressão e morte prematura por todas as causas.

A influência corporativa é o maior obstáculo

Especialistas alertam que a crescente mudança nos hábitos alimentares é impulsionada por poderosas corporações globais. O setor de alimentos ultraprocessados é o mais lucrativo, com vendas globais anuais de US$ 1,9 trilhão.

O professor Carlos Monteiro, da Universidade de São Paulo, afirma que essas corporações geram lucros enormes ao priorizar produtos ultraprocessados, apoiadas por extenso marketing e lobby político para impedir políticas de saúde pública eficazes. As empresas empregam táticas políticas sofisticadas, como coordenar grupos de interesse, fazer lobby junto a políticos, realizar doações políticas e se envolver em litígios para atrasar regulamentações.

O Dr. Phillip Baker, da Universidade de Sydney, destaca que o desafio é tão grande que precisamos de uma forte resposta global de saúde pública, comparável aos esforços coordenados para desafiar a indústria do tabaco.

Políticas coordenadas urgentes

Embora o debate científico sobre os AUPs continue, os autores da série argumentam que pesquisas futuras não devem atrasar ações imediatas e decisivas de saúde pública, justificadas pelas evidências atuais. A melhoria das dietas não pode depender apenas da mudança de comportamento do consumidor, mas sim de políticas coordenadas.

A professora Camila Corvalan, da Universidade do Chile, e outros especialistas defendem que os governos implementem ações políticas ousadas. As propostas incluem um roteiro claro para a mudança:

  1. Rotulagem clara: Inclusão de marcadores de produtos ultraprocessados nos rótulos frontais das embalagens, juntamente com o excesso de gordura, açúcar e sal.

  2. Restrições de marketing: Restrições mais rigorosas, especialmente para anúncios direcionados a crianças e em mídias digitais.

  3. Ambientes livres de UPFs: Proibição de alimentos ultraprocessados em instituições públicas, como escolas e hospitais. Um exemplo de sucesso é o programa nacional de alimentação escolar do Brasil.

  4. Tributação estratégica: Imposição de impostos sobre determinados AUPs para financiar subsídios para alimentos frescos destinados a famílias de baixa renda.

A ação deve ser coordenada globalmente para combater as estratégias políticas das empresas. Como ressalta o Dr. Phillip Baker: “Nossa série destaca que um caminho diferente é possível — um caminho onde os governos regulamentam de forma eficaz, as comunidades se mobilizam e dietas mais saudáveis ​​são acessíveis e viáveis ​​para todos”.

Enfrentar o poder corporativo e regulamentar os alimentos ultraprocessados é o primeiro passo para construir sistemas alimentares que realmente priorizem a saúde e o bem-estar das pessoas. Proteger os espaços políticos da interferência da indústria é crucial para garantir que os benefícios econômicos da produção de alimentos retornem às comunidades, e não apenas aos acionistas.

Referências:

Carlos A MonteiroMaria LC LouzadaEuridice Steele-MartinezGeoffrey CannonGiovanna C AndradePhillip Bakeret al.

Gyorgy ScrinisBarry M PopkinCamila CorvalanAna Clara DuranMarion NestleMark Lawrenceet al.

Phillip BakerScott SlaterMariel WhiteBenjamin WoodAlejandra ContrerasCamila Corvalánet al.

Fonte: The Lancet

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Alimentos ultraprocessados são ameaça global à saúde, alertam especialistas de The Lancet. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/11/20/alimentos-ultraprocessados-sao-ameaca-global-a-saude-alertam-especialistas-de-the-lancet/ (Acessado em novembro 20, 2025 at 02:33)

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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