Decrescimento demográfico global: danação ou redenção?
As taxas globais de fecundidade vêm caindo há décadas e estão atingindo níveis historicamente baixos
“Árvores não crescem até o céu” (Provérbio popular)
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O mundo atravessa uma transformação demográfica sem precedentes. Pela primeira vez na história, haverá mais idosos do que crianças e a humanidade vivenciará um declínio populacional contínuo a partir da década de 2080, mesmo em um contexto de crescente abundância econômica.
Artigo dos pesquisadores Bloom, Kuhn e Prettner para a revista F&D do FMI (Junho de 2025) mostra que o decrescimento populacional traz desafios, mas também oportunidades. Segundo os autores, as taxas globais de fecundidade vêm caindo há décadas e estão atingindo níveis historicamente baixos. Embora a população humana já ultrapasse 8 bilhões e possa chegar a 10 bilhões até 2050, o impulso do crescimento está se dissipando devido ao declínio em seu motor mais poderoso: a fecundidade. Nos próximos 25 anos, o Leste Asiático, a Europa e a Rússia sofrerão declínios populacionais significativos.

O que isso significará para o futuro da humanidade é bastante ambíguo. Por um lado, alguns temem que este fenômeno possa prejudicar o progresso econômico, pois haverá menos trabalhadores, cientistas e inovadores. Isso pode levar à escassez de novas ideias e à estagnação econômica a longo prazo. Além disso, à medida que as populações diminuem, a proporção de idosos tende a se expandir, pesando sobre as economias e desafiando a sustentabilidade das redes de segurança social e das aposentadorias e pensões.
Por outro lado, menos crianças e populações menores significarão menor necessidade de gastos com moradia e cuidados infantis, liberando recursos para outros usos, como pesquisa e desenvolvimento e adoção de tecnologias avançadas. O declínio nas taxas de fecundidade pode favorecer o crescimento econômico, estimulando a expansão da participação na força de trabalho entre os idosos, o aumento da poupança e a maior acumulação de capital físico e humano. O declínio populacional também pode reduzir as pressões sobre o meio ambiente, associadas às mudanças climáticas, ao esgotamento dos recursos naturais e à degradação ambiental.
Claramente, os formuladores de políticas enfrentam escolhas cruciais na gestão das tendências demográficas em desenvolvimento. As respostas podem incluir medidas para incentivar a fecundidade, ajustes nas políticas de migração, expansão da educação e esforços para incentivar a inovação. Juntamente com os avanços na digitalização, automação e inteligência artificial, o declínio populacional iminente de algumas nações representa um desafio significativo, mas também uma oportunidade potencial para as economias nacionais e para o bem-estar global.
Como mostrei no artigo “Decrescimento populacional com prosperidade social na Coreia do Sul” (Alves, 06/10/2025) a Coreia do Sul tem uma das taxas de fecundidade mais baixas do mundo e já experimenta o decrescimento populacional, mesmo assim continua mantendo crescimento da renda per capita e aumento do poder de compra da população.
O economista Adair Turner, em artigo recente (PS, 03/10/2025), mostrou que a estabilização populacional e o eventual declínio demográfico global facilitariam o enfrentamento do maior desafio ambiental de todos: as mudanças climáticas. Com as temperaturas globais aumentando a um ritmo alarmante, a principal prioridade é reduzir as emissões per capita, melhorando o acesso à energia e garantindo a prosperidade por meio da implantação das tecnologias limpas atualmente disponíveis.
Bloom et al (2025) concluem dizendo que o mundo está vivenciando uma mudança demográfica drástica, do rápido crescimento populacional no século passado ao decrescimento no final do século atual. A queda implacável e abrupta da fecundidade é o principal impulsionador dessa transição, que necessariamente envolve um aumento historicamente sem precedentes no número de pessoas em idade avançada.
Os formuladores de políticas fariam bem em prestar muita atenção às evidências emergentes e ao discurso global sobre as consequências econômicas e sociais dessas mudanças demográficas. Eles podem não aceitar todas as consequências, mas pelo menos serão capazes de apontar estratégias plausíveis para lidar com elas.
Referências:
ALVES, JED. Decrescimento populacional com prosperidade social na Coreia do Sul, Ecodebate, 06/10/2025 https://www.ecodebate.com.br/2025/10/06/decrescimento-populacional-com-prosperidade-social-na-coreia-do-sul/
TURNER, Adair. The Case for Gradual Population Decline, Project Syndicate, 03/10/2025
D. BLOOM, M. KUHN, K. PRETTNER. A decline in global population later this century may threaten human progress, or it may lead to better lives, F&D IMF, June 2025 https://www.imf.org/en/Publications/fandd/issues/2025/06/the-debate-over-falling-fertility-david-bloom
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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