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Artigo

Sejamos menos máquinas e mais árvores

 

Árvore
Foto: Agência Pará/EBC

Ensaio de Rosângela Trajano

Parece que nos apegamos mais às máquinas e esquecemos que somos humanos e precisamos amar e ser amados, cuidar e ser cuidados

O sociólogo e filósofo alemão Georg Simmel, (1858-1918), criou o seu pensamento acadêmico baseado nos estudos da sociedade, cultura, dinheiro, consumo e na modernidade com as máquinas fabricadas no mundo inteiro. Nada passou despercebido ao seu redor. Ele sabia como ninguém do que as pessoas precisavam para poderem viver dignamente e nos alertou para isso.

Para Simmel a sociedade é o produto das interações entre os indivíduos. Pergunto a você, querido leitor, estamos vivendo essas interações? Ainda podemos ser chamados de sociedade? Ou estamos cada um dentro do nosso próprio mundo sem nos darmos conta de que ao nosso redor existem pessoas de carne e osso à espera de um simples “olá”. Por que temos vivido de forma tão robotizada como se precisássemos viver sob comandos de rotinas lógicas?

É sobre esta forma que estamos vivendo que venho conversar com você, meu leitor querido. Nos últimos dez anos, mais ou menos depois da pandemia da COVID-19, parece que nos apegamos mais às máquinas e esquecemos que somos humanos e precisamos amar e ser amados, cuidar e ser cuidados. Simmel nos perguntou: por que existir? Eu talvez não saiba lhe dar essa resposta de forma completa, mas acho que existimos para tornar o mundo mais bonito!

Ao andar pelas ruas das grandes cidades nos dias de hoje vemos as pessoas meio que perdidas, meio que sem olhar, meio que sem sorriso e prontas a qualquer momento para uma explosão, uma guerra, uma selfie! Os humanos simplesmente estão sendo mais máquinas do que elas próprias, parece que por dentro de cada um de nós em vez de um coração bate um parafuso com uma engrenagem meio enferrujada por falta de sensibilidade.

Não nos damos conta de que tanta gente ao nosso redor precisa dos nossos cuidados. Estamos bitolados, viciados, escravos das máquinas, ou o que é pior, nos tornamos máquinas obsoletas, ultrapassadas, porque as novas já conseguem sentir emoções e fazerem amigos enquanto nós nem damos conta do quanto uma árvore é importante com seus frutos e folhas secas no nosso quintal.

Sejamos mais árvores e menos máquinas. As árvores têm uma alma curiosa, uma alma inocente, um jeito travesso de viver apesar de ser secular, elas conseguem se manter com a mesma pureza das crianças pelo longo das suas vidas. As árvores sabem conversar coisas bonitas, elas gostam de cócegas, elas sorriem das coisas simples, elas nos dão frutos e presentes todos os dias como as suas sombras numa rua de concreto quente por onde passamos caminhando apressados com os pés feitos não mais de ossos, mas de pequenos parafusos que podem enferrujar a qualquer momento porque nós quase não saímos mais do lugar para nada.

As árvores sabem viver bem, elas nos mostram todos os dias a boniteza do mundo, elas guardam segredos existenciais que ninguém conseguiria desvendar, elas trazem nos seus caules os espíritos da sabedoria e nos proporcionam o verdadeiro sentido do existir além vida, além nada, além morte. Se Schopenhauer, Nietzsche e tantos outros filósofos se preocuparam com a nossa existência, Georg Simmel foi mais além, pois ele criou uma filosofia da vida que procura nos mostrar o conceito real do existir não somente por simplesmente estarmos vivos, mas porque somos criaturas pensantes e fabricantes de coisas que vão além da razão, mas se debruçam nas artes, nas canções e na poesia. Seja você uma poesia neste mundo cruel e deixe de ser máquina que vive em loop constante reclamando que viver dói mais do que a morte, pois o Criador de todas as coisas ainda não nos deu a infelicidade de sabermos o que é a morte e para que Ele nos daria? Ele é bom, é misericordioso, é afetuoso, não nos faria sofrer à toa.

Antes de encerrar eu gostaria de pedir-lhe que abraçasse mais as árvores ao seu redor, sentisse o perfume que elas exalam e conversasse com elas sobre os seus problemas, as suas dúvidas, os seus medos, pois nos seus silêncios elas sabem nos dar respostas grandiosas até mesmo sobre o por que existir, talvez precisemos de mais verdes, mais folhinhas balançando no azul do céu, mais frutos maduros, para enxergarmos a nossa pequenez diante da grandiosidade e sabedoria que as árvores podem nos oferecer. Para o nosso verdadeiro bem, elas ainda não se permitiram ser máquinas.

As árvores ainda não entendem nada de algoritmos e por isso falam de príncipes, princesas, bruxas, fadas, dragões e outros elementos dos contos de fadas dos quais não lemos mais para as nossas crianças; as árvores não vivem de “enquanto isso, faça isso” ou “ se for isso, então faça aquilo”. Não! Elas vivem a nos contar histórias com uma linguagem sem técnica, mas como se falassem com a doçura de uma mãe, por isso sejamos menos máquinas e mais árvores hoje e sempre.

Rosângela TrajanoColunista do EcoDebate, é poetisa, escritora, ilustradora, revisora, diagramadora, programadora de computadores e fotógrafa. Licenciada e bacharel em filosofia pela UFRN e mestra em literatura comparada também pela UFRN. É pesquisadora do CIMEEP – Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos Épicos. Com mais de 50 (cinquenta) livros publicados para crianças, ministra aulas de Filosofia para crianças na varanda da sua casa, de forma voluntária. Além disso, mora pertinho de um mangue aonde vai todas as manhãs receber inspiração para poetizar.

 

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Sejamos menos máquinas e mais árvores. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/10/29/sejamos-menos-maquinas-e-mais-arvores/ (Acessado em outubro 29, 2025 at 03:26)

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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