As diferenças regionais do envelhecimento da população brasileira
Com expectativa de vida saltando para mais de 75 anos, o Brasil vive uma revolução silenciosa na sua estrutura etária. Entenda a Transição Demográfica, seus bônus e os desafios para as políticas públicas.
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O envelhecimento populacional é o resultado esperado e inevitável da transição demográfica. Quando caem as taxas de mortalidade e natalidade há um encolhimento da base e um alargamento do topo da pirâmide etária. Diminui a proporção de crianças e jovens e aumenta a proporção dos idosos. A transição demográfica é a maior conquista da história da humanidade, sendo marco civilizatório que transformou radicalmente a vida humana.
Em primeiro lugar, há uma redução drástica da mortalidade. Historicamente, a humanidade sempre viveu com altas taxas de mortalidade, especialmente a mortalidade infantil e materna, e uma baixa expectativa de vida. A transição demográfica, impulsionada pelos avanços na medicina, saneamento básico, alimentação e qualidade de vida, permitiu uma queda sem precedentes das mortes precoces.
As pessoas “pararam de morrer como moscas”, levando a um aumento significativo da expectativa de vida ao nascer, que, no caso do Brasil, multiplicou-se por três vezes em dois séculos, passando de cerca de 25 para mais de 75 anos. Essa extensão da vida é uma conquista espetacular e fundamental para o desenvolvimento humano.
Em segundo lugar, há a queda da fecundidade e mudança cultural. Com aumento da sobrevivência dos filhos, tornou-se possível e desejável reduzir o número de nascimentos por casal. Essa queda da taxa de fecundidade não foi apenas um ajuste mecânico, mas uma mudança cultural fundamental. As famílias passaram a investir na qualidade de vida dos filhos em vez da quantidade, priorizando a educação e o bem-estar individual. Esse fenômeno é único e se reproduz invariavelmente em todos os países que passam pela transição demográfica, primeiro com a queda da mortalidade e, posteriormente, com a queda do tamanho das famílias.
Em terceiro lugar, cria-se uma janela de oportunidade demográfica e de desenvolvimento social. A transição demográfica gera uma mudança na estrutura etária da população, criando uma “janela de oportunidade” demográfica. Durante esse período, há uma proporção maior de pessoas em idade produtiva (adultos) em relação a dependentes (crianças e idosos), o que pode impulsionar o desenvolvimento econômico e social. Essa fase permite um maior investimento em educação, saúde e infraestrutura, favorecendo o aumento da produtividade e o avanço em diversas áreas sociais.
Em quarto lugar há a criação de outras oportunidades, decorrentes do 2º bônus demográfico (bônus da produtividade), do 3º bônus demográfico (bônus da longevidade) e do 4º bônus demográfico (bônus do decrescimento).
Além disso, a transição demográfica é acompanhada pela redução das desigualdades de gênero, com maior inserção das mulheres no mercado de trabalho e o aumento da sua escolaridade, o que contribui para o bem-estar de toda a sociedade.
A transição demográfica é a maior conquista da humanidade porque representa a superação do fatalismo e de uma realidade de alta mortalidade e baixa expectativa de vida, permitindo que a humanidade alcance uma longevidade sem precedentes e tenha a oportunidade de investir na qualidade de vida e no desenvolvimento social de suas populações.
A estrutura etária brasileira envelheceu. Mas o envelhecimento populacional é diferenciado segundo as Unidades da Federação. A tabela abaixo, com dados do censo demográfico 2022, mostra o Índice de Envelhecimento calculado com base na relação entre a população idosa de 60 anos e mais em relação a população de crianças e jovens de 0-14 anos.
O Índice de Envelhecimento (IE) do Brasil, em 2022, foi de 80 idosos para cada 100 crianças e jovens. Portanto, na média nacional, o Brasil ainda tinha mais jovens (0-14 anos) do que idosos (60+) no último censo demográfico.
Porém, considerando as Unidades da Federação (UFs) o quadro é bem diferenciado. Há 7 UFs com IE acima da média nacional, com destaque para o Rio de Janeiro com 105,9 idosos para cada 100 crianças e jovens e o Rio Grande do Sul com 115 idosos para cada 100 crianças e jovens. Portanto, RJ e RS possuem a estrutura etária mais envelhecida e já possuem mais idosos do que jovens.
Em contraste, Roraima com IE de 27,1 idosos para cada 100 crianças e jovens e Amapá, com IE de 31,2 idosos para cada 100 crianças e jovens, possuem a estrutura etária mais rejuvenescida do país.

Estas diferenças no processo de envelhecimento refletem diferentes histórias regionais e diferentes níveis de desenvolvimento. Garantir um envelhecimento digno e equitativo para todos, requer o reconhecimento destas desigualdades regionais no desenho das políticas públicas de saúde, previdência, moradia e cuidado, visando o bem-estar geral da população brasileira.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. As Ondas do envelhecimento populacional brasileiro, Ecodebate, 14/07/225
https://www.ecodebate.com.br/2025/07/14/as-ondas-do-envelhecimento-populacional-brasileiro/
ALVES, JED. Brasil 2042: Enfrentando a Nova Revolução Demográfica, Ecodebate, 23/08/2024
https://www.ecodebate.com.br/2024/08/23/brasil-2042-enfrentando-a-nova-revolucao-demografica/
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf
Liane THEDIM. Em um mundo mais velho, jovens também deveriam lutar contra etarismo, Valor, 30/04/2025 https://valor.globo.com/25-anos/noticia/2025/04/30/em-um-mundo-mais-velho-jovens-tambem-deveriam-lutar-contra-etarismo.ghtml
ALVES, JED. Os desafios de um Brasil mais velho. 25 anos do Valor Econômico, 30/04/2025
https://infograficos.valor.globo.com/especial/conversas-necessarias.html
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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