Nova diretriz SBNI: o que muda no diagnóstico e tratamento do TEA
Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil publica diretrizes atualizadas sobre TEA e alerta famílias sobre práticas sem evidência científica
Documento de 33 páginas reúne orientações baseadas em ciência sobre diagnóstico clínico, tratamentos comprovados e práticas que devem ser evitadas no Transtorno do Espectro Autista
Por Kelly Bessa
Autismo: Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil alerta sobre práticas sem comprovação científica e reforça a importância do diagnóstico precoce, cuidado multidisciplinar e informação de qualidade.
Uma nova diretriz publicada pela Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) está atualizando o que há de mais importante sobre o diagnóstico e o tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no país.
Com 33 páginas, o documento reúne orientações práticas baseadas em evidências científicas, direcionadas a profissionais da saúde, famílias e instituições de ensino.
O material foi elaborado por especialistas do Departamento Científico de Transtornos do Neurodesenvolvimento e destaca que o diagnóstico do autismo é essencialmente clínico, baseado em observação direta, entrevistas com os responsáveis e critérios definidos pelo DSM-5.
Segundo o texto, fatores como vulnerabilidade social e uso excessivo de telas podem mimetizar sintomas do transtorno e atrasar o diagnóstico, exigindo atenção redobrada dos profissionais.
Diagnóstico clínico e critérios de apoio
Entre as orientações, o documento detalha os principais pilares para a avaliação:
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História e observação clínica: análise do desenvolvimento neuropsicomotor, antecedentes gestacionais e familiares, além da observação direta e entrevista com os pais;
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Escalas de rastreio e apoio diagnóstico: uso de instrumentos como M-Chat, CARS-2, ADI-R e ADOS-2;
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Determinação do nível de suporte: definição dos níveis 1, 2 e 3, conforme o DSM-5;
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Exames complementares: laboratoriais e de imagem podem auxiliar em diagnósticos diferenciais, mas não são essenciais para confirmar o TEA.
Tratamento e práticas recomendadas
A diretriz ressalta que não existe tratamento único e que a intervenção deve ser individualizada, intensiva e multidisciplinar, com foco em práticas baseadas em evidências.
Entre as 28 abordagens reconhecidas, estão:
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Análise do Comportamento Aplicada (ABA)
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Modelos naturalísticos de intervenção precoce
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Terapia cognitivo-comportamental
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Treino de habilidades sociais e modelagem comportamental
O documento também destaca que não há medicamentos específicos para os sintomas centrais do autismo. Fármacos devem ser usados apenas para comorbidades associadas, como TDAH, ansiedade, agressividade e distúrbios do sono.
A melatonina é citada como a substância com melhor evidência para auxiliar o sono de crianças autistas.
O que não tem comprovação científica
A SBNI faz um alerta sobre abordagens sem base científica que vêm sendo amplamente divulgadas no Brasil.
Entre as práticas não recomendadas, estão:
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Dietas restritivas (sem glúten e caseína)
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Suplementações com ômega-3 e vitaminas
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Intervenções biológicas (como células-tronco, ozonioterapia e quelantes)
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Psicanálise e Son-Rise
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Uso de canabidiol (CBD), ainda experimental
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Ácido folínico (leucovorina), sem recomendação rotineira
Técnicas como Floortime, equoterapia e estimulação craniana não invasiva são mencionadas como promissoras, mas ainda carecem de evidências robustas para uso amplo.
A visão dos especialistas
O neuropediatra e neurocientista Dr. Paulo Liberalesso considera o documento um marco importante para a prática médica no Brasil.
“O autismo exige abordagem científica, não experimental. Essas novas diretrizes ajudam a separar o que é evidência real do que é promessa vazia — e protegem famílias de gastos e frustrações desnecessárias”, afirma.
Segundo ele, o diagnóstico precoce continua sendo o maior aliado das famílias:
“O cérebro infantil tem uma plasticidade extraordinária. Cada mês sem intervenção é uma janela de oportunidade perdida para o desenvolvimento cognitivo e social.”
A cientista e neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi destaca que as novas diretrizes da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil representam um marco para profissionais que atuam com o desenvolvimento infantil e o autismo.
“Quando reforçamos que o diagnóstico é clínico e que o tratamento deve ser individualizado e baseado em evidências científicas, estamos protegendo o desenvolvimento das crianças — prevenindo práticas sem comprovação e falsas promessas que muitas vezes geram frustrações e atrasos.”
Para ela, não existe fórmula mágica nem receita de bolo.
“O que existe é ciência, compromisso e afeto. É exatamente nessa união entre conhecimento técnico e olhar humano que transformamos trajetórias e potencializamos o desenvolvimento de cada criança.”
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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