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Artigo

Decrescimento e envelhecimento populacional em Hong Kong

 

A dinâmica demográfica de Hong Kong será marcada pelo decrescimento da população e o envelhecimento populacional durante o restante do século XXI

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Hong Kong será a região mais envelhecida do mundo já na próxima década e, em especial, na segunda metade do século XXI. A ilha de Hong Kong tornou-se uma colônia do Império Britânico após a Primeira Guerra do Ópio (1839-1842).

As fronteiras da colônia foram ampliadas em etapas para a Península de Kowloon em 1861 e, em seguida, para os Novos Territórios, em 1899. Tornou-se um entreposto comercial estratégico no Leste Asiático, com um sistema jurídico e administrativo de inspiração britânica e considerado um lugar onde o “Oriente encontra o Ocidente”.

Pelo acordo sino-britânico, Hong Kong voltou à soberania chinesa sob o princípio “um país, dois sistemas”, garantindo autonomia administrativa, liberdade econômica e direitos civis por 50 anos. Desde 2014 (Movimento dos Guarda-Chuvas) e especialmente em 2019 (protestos contra a lei de extradição), aumentaram os conflitos sobre liberdades civis e o grau de controle de Pequim. A Lei de Segurança Nacional de 2020 ampliou o poder do governo central, reduzindo a autonomia política.

No final da Segunda Guerra, Hong Kong tinha menos de 1 milhão de habitantes, mas recebeu muitos migrantes, refugiados e empresários chineses após a Revolução Chinesa de 1949. A economia cresceu impulsionando a industrialização nas áreas têxtil, eletrônicos, brinquedos. Mas, gradualmente, Hong Kong se tornou um dos maiores centros financeiros globais, com foco em serviços, comércio, logística e turismo, apoiado por baixa tributação e ambiente pró-mercado.

Hoje em dia é um hub para investimentos internacionais na China continental, mas enfrenta competição de cidades como Xangai e Shenzhen. Hong Kong apresentou uma renda per capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra de US$ 66 mil, uma das mais altas do continente asiático.

O gráfico abaixo mostra que a população de Hong Kong era de 2 milhões de habitantes em 1950, cresceu até atingir o pico populacional de 7,5 milhões de habitantes em 2020 e deve diminuir para 2 milhões de habitantes em 2100. Todo o crescimento populacional ocorrido nos 70 anos entre 1950 e 2020 deverá ser perdido nos 80 anos entre 2020 e 2100.

Concomitantemente ao decrescimento, Hong Kong experimentará um profundo e rápido envelhecimento populacional, com a idade mediana passando de 23 anos em 1950 para 46 anos em 2023 (dobrando em 73 anos), devendo alcançar 50 anos em 2030 e 72 anos em 2100. A partir da próxima década, Hong Kong será o país mais envelhecido do mundo e terá mais da metade da população acima de 72 anos em 2100. Os septuagenários e mais (70+) serão maioria dos hong-konguês.

população total e idade mediana em Hong Kong

A dinâmica demográfica de Hong Kong será marcada pelo decrescimento da população e o envelhecimento populacional durante o restante do século XXI. O gráfico abaixo mostra que a taxa de fecundidade total (TFT) era de 5 filhos por mulher no primeiro quinquênio da década de 1960, caiu para 2,06 filhos por mulher em 1980 (abaixo do nível de reposição), chegou a 0,9 filho por mulher em 2003, apresentou uma leve recuperação nos anos seguintes e voltou a cair para um nível muito baixo, de somente 0,73 filho por mulher em 2024.

A Divisão de População da ONU projeta um aumento da TFT no restante do atual século, mas com um taxa de 1,2 filho por mulher em 2100. Portanto, com uma taxa de fecundidade tão baixa o resultado é um decrescimento populacional acelerado (especialmente na ausência de um grande fluxo imigratório).

O gráfico abaixo também mostra que a expectativa de vida ao nascer estava em 58 anos em 1950 e chegou a 85,8 anos em 2025, valor superior à expectativa de vida do Japão e somente um pouco menor do que Mônaco com 86,6 anos. Para o final do século a estimativa é de uma expectativa de vida ao nascer de 94,4 anos em 2100.

taxa de fecundidade total e expectativa de vida ao nascer em Hong Kong

A despeito do decrescimento e do envelhecimento populacional, espera-se que a economia continue apresentando um crescimento moderado nos próximos anos, com aumento da renda per capita e avanço do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Hong Kong deverá continuar sendo um centro financeiro e logístico influente, especialmente especializado em serviços financeiros internacionais.

Em resumo, Hong Kong enfrenta um futuro econômico mais moderado e demograficamente desafiador.

Para se manter relevante e sustentável, precisará acelerar reformas, diversificar sua economia, sobretudo nos setores tecnológico e de serviços — e buscar estratégias para aumentar a participação da força de trabalho idosa e contrabalançar os efeitos do envelhecimento.

Mas o sucesso futuro dependerá da capacidade garantir um envelhecimento saudável e ativo e da agilidade em construir uma economia prateada dinâmica, com o aproveitamento de todo o potencial de sua enorme população madura.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. O envelhecimento populacional é uma conquista histórica, Ecodebate, 14/05/2025

https://www.ecodebate.com.br/2025/05/14/o-envelhecimento-populacional-e-uma-conquista-historica/

ALVES, JED. A importância da longevidade saudável e ativa para as pessoas e a economia, Ecodebate, 28/05/2025 https://www.ecodebate.com.br/2025/05/28/a-importancia-da-longevidade-saudavel-e-ativa-para-as-pessoas-e-a-economia/

ALVES, JED. Diversidade etária e Economia Prateada, Ecodebate, 04/06/2025

https://www.ecodebate.com.br/2025/06/04/diversidade-etaria-e-economia-prateada/

 

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Decrescimento e envelhecimento populacional em Hong Kong. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/10/13/decrescimento-e-envelhecimento-populacional-em-hong-kong/ (Acessado em outubro 13, 2025 at 01:56)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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