Norte da Amazônia passa por aumento rápido de extremos climáticos
Estudo revela que o norte amazônico é novo epicentro de eventos extremos de temperatura e umidade, com impactos diretos na população e no ecossistema.
Um novo estudo da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, trouxe um alerta urgente para a Amazônia. Contrariando expectativas anteriores, a pesquisa identificou que a porção norte da floresta amazônica – que engloba áreas do Brasil, Peru e Bolívia – é a que está experimentando o crescimento mais rápido e alarmante no número de extremos climáticos.
A pesquisa, publicada na revista Environmental Research Letters, analisou dados de temperatura e umidade de 1980 a 2022. Enquanto se sabia que o desmatamento torna as áreas degradadas mais vulneráveis ao calor, a grande surpresa foi descobrir que a tendência de eventos extremos está se acelerando com mais força justamente em uma região da floresta que ainda possui uma cobertura vegetal relativamente intacta.
De acordo com os cientistas, o norte amazônico se tornou um “epicentro” de extremos climáticos. Os dados são contundentes:
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O número de dias com calor extremo mais do que triplicou na região durante o período do estudo.
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Os eventos de secura extrema (baixa umidade do ar) aumentaram de forma dramática.
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A duração dos episódios de umidade extrema – que podem intensificar chuvas torrenciais e inundações – também cresceu significativamente.
O “efeito bola de neve” climático
Os pesquisadores explicam que esse fenômeno não está isolado. O aquecimento global, impulsionado pelas emissões de gases de efeito estufa, é o motor principal por trás da tendência. No entanto, o que ocorre no sudoeste da Amazônia é um perigoso “efeito bola de neve”.
As mudanças no clima global estão alterando os padrões de vento, que carregam o ar mais quente e seco do leste para o oeste da floresta. Esse ar quente, ao encontrar a umidade da floresta intacta, desencadeia os eventos extremos. É um sinal de que mesmo as partes mais preservadas do bioma já estão sob a pressão direta das mudanças climáticas globais.
Impactos para a população e a biodiversidade
Esses extremos não são apenas estatísticas. Eles têm um impacto profundo e direto na vida das pessoas e na biodiversidade local.
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Saúde pública: Ondas de calor e secura extrema representam sérios riscos à saúde, especialmente para crianças, idosos e populações vulneráveis, podendo levar a insolações e problemas respiratórios.
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Agricultura e subsistência: Eventos climáticos extremos prejudicam cultivos e afetam a segurança alimentar das comunidades que dependem da terra.
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Ecossistema: O estresse térmico e hídrico pode levar à mortalidade de árvores e tornar a floresta mais inflamável, aumentando o risco de incêndios florestais catastróficos, mesmo em áreas não desmatadas.
Urgência nas medidas de mitigação e adaptação
A principal mensagem do estudo é clara: o aquecimento global já está transformando a dinâmica climática da Amazônia de formas novas e alarmantes. Os autores enfatizam a necessidade crítica de políticas globais agressivas de redução de emissões de carbono para conter o aquecimento.
Além disso, é fundamental reforçar as medidas de adaptação nas comunidades locais, criando sistemas de alerta precoce para ondas de calor e seca, e investindo em infraestrutura de saúde pública para lidar com os novos desafios impostos pelo clima.
A pesquisa da Universidade de Lancaster serve como um aviso de que a crise climática já está batendo à porta da porção mais preservada da maior floresta tropical do mundo, demandando ações imediatas em escala local e global.
O relatório, “Rapid increase of climate extremes across northern Amazonia “ (Aumento rápido de extremos climáticos no norte da Amazônia), foi publicado no servidor de pré-impressão EarthArXiv .
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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