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Reflexões para a COP30: a crise climática e o agravamento da perda de biodiversidade

 

250917 biodiversidade

 

 

A relação entre mudanças climáticas e extinção da biodiversidade constitui um dos maiores desafios contemporâneos. Longe de ser uma ameaça distante, trata-se de um processo já em curso

Reinaldo Dias
Articulista do EcoDebate, é Doutor em Ciências Sociais -Unicamp
Pesquisador associado do CPDI do IBRACHINA/IBRAWORK
Parque Tecnológico da Unicamp – Campinas – Brasil
http://lattes.cnpq.br/5937396816014363
reinaldias@gmail.com

Em novembro de 2025, o mundo estará com os olhos voltados para Belém do Pará, onde será realizada a COP30, uma conferência que poderá se tornar um marco decisivo na luta contra a crise ambiental. O encontro reunirá chefes de Estado, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil para enfrentar uma agenda ampla e complexa: desde o financiamento para mitigação e adaptação até a transição energética, a proteção de comunidades vulneráveis e a redução das desigualdades socioambientais.

A realização da conferência na Amazônia, coração da diversidade biológica mundial, confere um simbolismo único. Não apenas pelo alerta sobre a urgência de conter o desmatamento e a degradação de biomas estratégicos, mas também porque esse território sintetiza a interdependência entre clima, biodiversidade, justiça social e modos de vida tradicionais. Nesse contexto, a crise de biodiversidade se apresenta como uma dimensão indissociável da crise climática, reforçando a necessidade de abordagens integradas.

A COP30 representa, portanto, uma encruzilhada histórica. Se, de um lado, pode consolidar compromissos fragmentados e insuficientes, de outro, abre a oportunidade de avançar em medidas concretas que articulem justiça climática, proteção da biodiversidade e sustentabilidade econômica. É a partir dessa perspectiva, a de um evento que abrange múltiplos e urgentes desafios globais, que se insere a reflexão proposta neste artigo sobre a relação entre mudanças climáticas e extinção da biodiversidade.

1. A crise da biodiversidade no Antropoceno

A Terra atravessa um momento crítico em sua história natural, marcado pelo que muitos cientistas já reconhecem como a Sexta Extinção em Massa. Diferentemente dos eventos anteriores, este não resulta de catástrofes naturais, mas das pressões humanas sobre o planeta. (Ceballos & Ehrlich, 2023). Esse quadro é descrito pelo conceito de Antropoceno, termo utilizado para caracterizar a atual época geológica em que a ação humana se tornou uma força capaz de transformar profundamente os sistemas terrestres, alterando o clima, os ciclos biogeoquímicos e a própria dinâmica da vida no planeta.

Um estudo recente publicado na revista PNAS Nexus, em agosto de 2025, reforça essa perspectiva ao analisar a perda de espécies nas ilhas do Atlântico na costa da África, após o século XV, quando foram colonizadas e exploradas no período das grandes navegações, sendo consideradas verdadeiros laboratórios naturais da evolução e da vulnerabilidade ecológica diante da intervenção humana.

As pressões antrópicas, como a degradação de habitats e a introdução de espécies invasoras, aceleraram a extinção de aves e outros organismos, indicando os primeiros capítulos da era das extinções em escala global. Os resultados do estudo evidenciam como a ação humana ultrapassou fronteiras locais, convertendo-se em um fator determinante na transformação da vida no planeta e consolidando o Antropoceno como marco de um processo com consequências irreversíveis para a biodiversidade (Fernández-Palácios, 2025).

O desmatamento, a poluição, a expansão agrícola e industrial e a urbanização acelerada configuram uma combinação devastadora para a biodiversidade, à qual se somam as mudanças climáticas como elemento cada vez mais determinante (Keck et al, 2025; Weston, 2025). O aumento das temperaturas médias, a alteração nos regimes de chuvas, o derretimento das geleiras e a intensificação de eventos extremos não apenas transformam habitats, mas impõem limites inéditos à sobrevivência de inúmeras espécies.

Organismos especializados, adaptados a nichos ambientais específicos, têm visto suas condições de vida desaparecerem em poucas décadas. Esse quadro, associado a outros fatores antrópicos, cria um cenário em que a perda de biodiversidade e o agravamento da crise climática se reforçam mutuamente, aprofundando os riscos para ecossistemas inteiros e para a humanidade (Keck et al, 2025; Weston, 2025).

Para especialistas em conservação, trata-se de um ponto de inflexão histórico. As evidências científicas acumuladas confirmam que a perda de espécies não é mais um fenômeno localizado, mas um processo global em ritmo acelerado, com impactos ecológicos, sociais e econômicos de enorme magnitude. A perspectiva é clara: se não houver uma mudança estrutural nas políticas ambientais e climáticas, o planeta poderá enfrentar transformações irreversíveis, caracterizando um verdadeiro colapso da vida como a conhecemos (Caroline, 2025).

2. Mudanças climáticas como motor de extinções

As mudanças climáticas não são apenas um pano de fundo para a crise da biodiversidade, mas um motor central de extinções em curso. O aquecimento global projeta alterações profundas nos ecossistemas, modificando a distribuição geográfica das espécies, a disponibilidade de recursos e a estabilidade de cadeias alimentares. Modelagens recentes indicam que o aumento de apenas alguns graus na temperatura média pode levar milhões de espécies à perda de habitat adequado, em especial nos trópicos e nas regiões polares, áreas onde a vida é mais sensível a pequenas variações ambientais (Socolar et al, 2025; Price et al, 2024).

A intensificação dos eventos climáticos extremos amplia esse cenário. Secas prolongadas, ondas de calor, incêndios florestais e inundações reduzem a resiliência das populações animais e vegetais, acelerando processos de extinção local. Além disso, o derretimento do gelo no Ártico e no Antártico está eliminando habitats essenciais para espécies adaptadas ao frio extremo, enquanto a acidificação dos oceanos compromete a sobrevivência de corais e organismos marinhos que sustentam cadeias alimentares inteiras (Yuan et al, 2024; Price et al, 2024).

Um aspecto particularmente preocupante é que as mudanças climáticas interagem com outros vetores de pressão humana, como o desmatamento, a fragmentação de habitats e a introdução de espécies exóticas. Essa combinação amplia as vulnerabilidades e torna os efeitos climáticos ainda mais letais. Em muitos casos, a alteração de padrões climáticos não dá tempo para que as espécies consigam se adaptar evolutivamente, rompendo equilíbrios que levaram milhares de anos para se consolidar (Socolar et al, 2025; Yuan et al, 2024)).

Em síntese, a crise climática está convertendo ecossistemas inteiros em territórios instáveis, onde a sobrevivência depende cada vez mais de condições improváveis. A consequência direta é a intensificação de processos de declínio populacional e a abertura de uma nova fronteira de extinções, cuja escala pode ser comparada às maiores transformações da história da Terra, mas agora em tempo real e por ação humana (Yuan et al, 2024).

3. Casos ilustrativos da crise em curso

Os impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade já são mensuráveis em diversos ecossistemas e espécies, revelando a gravidade da situação. Um exemplo marcante ocorreu em Botsuana, na África, onde a morte de 350 elefantes foi associada diretamente às variações climáticas. Doenças repentinas induzidas pelo clima afetaram os grandes ungulados, revelando amplos e devastadores impactos das mudanças climáticas na biodiversidade e na saúde dos ecossistemas, criando um ambiente insustentável para essas populações que dependem de grandes áreas para se alimentar e se hidratar, resultando em um evento de mortalidade sem precedentes (Lomeo et al, 2024).

Nas regiões polares, o aquecimento global ameaça espécies altamente especializadas. O caso dos ursos-polares é ilustrativo: o derretimento acelerado do gelo marinho restringe o acesso às áreas de caça, diminuindo a capacidade de sobrevivência e reduzindo drasticamente suas populações. Estudos apontam que em algumas regiões houve queda de cerca de 50% da população em poucas décadas, sinalizando um risco real de extinção local (Diego, 2025).

No Brasil, os ecossistemas também enfrentam pressões crescentes. No Pantanal, pesquisas indicam que até 2100 mais de 80% das espécies de anfíbios da região perderão áreas adequadas para viver, em razão da elevação das temperaturas e da alteração dos regimes hidrológicos. Esse dado é particularmente preocupante, pois os anfíbios são considerados bioindicadores sensíveis às mudanças ambientais (Julião, 2025). O agravante dessa situação é que os anfíbios são o grupo de vertebrados mais ameaçado do mundo, com 41% das espécies ameaçadas de extinção. Além da perda de habitat, os efeitos das mudanças climáticas estão emergindo como importante ameaça para esse grupo, pois os anfíbios são particularmente sensíveis às mudanças em seu ambiente (BB).

Outro exemplo vem da Amazônia, onde o macaco-de-cheiro-de-cabeça-preta (Saimiri vanzolinii), endêmico de uma estreita faixa de florestas de várzea no interflúvio Solimões–Japurá, na RDS Mamirauá (AM), possui uma das menores áreas de distribuição entre os primatas neotropicais. A intensificação e a maior duração das cheias, a alteração do pulso de inundação e a transformação das florestas de várzea, processos associados às mudanças climáticas, tendem a reduzir rapidamente os ambientes essenciais para alimentação, deslocamento e reprodução, elevando o risco de extinção da espécie nas próximas décadas (Menegassi, 2025).Essa espécie tem uma perspectiva sombria, podendo ser o primeiro primata a ser extinto tendo como causa determinante as mudanças climáticas.

Os polinizadores, essenciais para a reprodução de inúmeras plantas cultivadas, encontram-se sob forte pressão. Borboletas, abelhas e outros insetos vêm sofrendo declínios expressivos devido à elevação das temperaturas, à mudança nos ciclos de floração e à intensificação de eventos extremos. A redução dessas populações compromete diretamente culturas agrícolas que dependem da polinização — como frutas, legumes e oleaginosas —, ameaçando a produtividade e elevando riscos para a segurança alimentar global. Nesse sentido, a crise climática não apenas ameaça a biodiversidade em si, mas coloca em xeque a base de sistemas agrícolas que sustentam bilhões de pessoas (Edwards et al, 2025; Cheng, 2024).

Em conjunto, tais exemplos revelam que a extinção induzida pelas mudanças climáticas não é uma projeção distante, mas uma realidade já em curso, com impactos tangíveis em diferentes continentes e biomas. Os sinais de alerta estão claros e reforçam a necessidade de políticas urgentes de mitigação e adaptação.

4. Perda de funções ecológicas

A perda de espécies causada pelas mudanças climáticas não implica apenas a redução da diversidade biológica em termos numéricos. Ela compromete funções ecológicas vitais para a manutenção dos ecossistemas e para o equilíbrio climático. Muitos organismos desempenham papéis essenciais na regulação do ciclo do carbono, na dispersão de sementes e na polinização, atividades que mantêm a produtividade dos ecossistemas e contribuem diretamente para a estabilidade do clima global (Ziegler, 2025; Ripple, 2025).

O desaparecimento de animais dispersores de sementes, por exemplo, já tem sido documentado como um entrave significativo à regeneração florestal. Na Mata Atlântica e em áreas da Amazônia, a redução de populações de antas, bugios e cutias tem limitado a dispersão de árvores de grande porte, que são fundamentais para o sequestro de carbono. Sem esses agentes, as florestas perdem sua capacidade de se recompor após eventos extremos e de absorver carbono da atmosfera. A consequência é uma espiral negativa: a perda de biodiversidade reduz a capacidade de mitigação climática, o que, por sua vez, acelera ainda mais as mudanças no clima. (Ziegler, 2025)

Outro impacto preocupante é observado nos ambientes aquáticos. A degradação de corais e recifes, intensificada pela elevação das temperaturas e pela acidificação dos oceanos, ameaça não apenas milhares de espécies marinhas, mas também o sustento de comunidades humanas que dependem da pesca. A perda desses ecossistemas compromete serviços ambientais críticos, tornando populações costeiras mais vulneráveis e ampliando desigualdades sociais (Ripple, 2025).

Do ponto de vista da saúde, a Organização Mundial da Saúde tem destacado que a perda de biodiversidade, aliada às mudanças climáticas, aumenta a exposição a doenças infecciosas e zoonoses. Na Amazônia, por exemplo, a combinação entre desmatamento e alterações climáticas tem favorecido a expansão da malária, ao criar condições mais propícias para os mosquitos vetores. De forma semelhante, surtos de febre amarela silvestre estão associados à fragmentação florestal, mostrando como ecossistemas desequilibrados facilitam a disseminação de patógenos e criam novas ameaças globais que se somam às já conhecidas (WHO,2025).

Esses exemplos evidenciam que a extinção de espécies não é um fenômeno isolado: trata-se de uma quebra em redes ecológicas complexas, cuja desarticulação pode gerar efeitos de retroalimentação que intensificam a própria crise climática. Em outras palavras, cada perda de biodiversidade representa um passo adicional rumo a um planeta menos resiliente e mais instável.

5. Governança global e políticas públicas

O entrelaçamento entre mudanças climáticas e extinção da biodiversidade exige respostas em escala global. Nos últimos anos, organizações internacionais têm insistido que as agendas climática e de biodiversidade não podem mais ser tratadas separadamente, sob pena de comprometer qualquer esforço de mitigação. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente tem alertado que a preservação da vida depende de ações conjuntas capazes de integrar políticas de redução de emissões com a conservação dos ecossistemas (UNEP,2020).

Relatórios de referência reforçam esse diagnóstico. O Living Planet Report 2024, elaborado pelo WWF, mostrou que as populações de vertebrados monitoradas caíram drasticamente, e destacou que a crise climática figura entre os principais vetores de perda de espécies. O documento também argumenta que a degradação da biodiversidade compromete metas centrais de desenvolvimento humano, ampliando desigualdades e expondo comunidades vulneráveis a riscos crescentes (WWF,2024).

O Acordo de Paris, frequentemente lembrado pela sua meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C, possui uma dimensão direta sobre a biodiversidade. Ao reduzir as emissões e mitigar o aquecimento, abre-se a possibilidade de preservar habitats que, de outra forma, seriam inviabilizados em poucas décadas. Por isso, especialistas em conservação apontam que a implementação rigorosa do Acordo é, ao mesmo tempo, um instrumento de justiça climática e de proteção à biodiversidade (Sobreira, 2025).

Apesar dos avanços em compromissos internacionais, os resultados práticos ainda são limitados. A fragmentação entre as convenções de clima e biodiversidade, a lentidão nas negociações multilaterais e a falta de financiamento adequado para países em desenvolvimento permanecem como barreiras. Sem superar esses entraves, as políticas seguirão aquém da urgência requerida pela gravidade do problema. Nesse sentido, a governança ambiental global enfrenta o desafio de alinhar metas, recursos e compromissos políticos em torno de um objetivo comum. O futuro dependerá da capacidade coletiva de agir no presente. Mais do que escolhas distantes, trata-se de decisões que precisam ser tomadas agora. A COP30, realizada na Amazônia, representa um momento decisivo para transformar discursos em compromissos concretos e para alinhar políticas que enfrentem, de forma conjunta, a crise climática e a perda da biodiversidade.

6. As vulnerabilidades específicas da América Latina e Brasil

A América Latina é uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta e, ao mesmo tempo, uma das mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. A combinação entre alta diversidade biológica e forte pressão humana — marcada por desmatamento, mineração, expansão agrícola e urbanização — cria um terreno fértil para o agravamento da crise de extinções. Nesse contexto, as mudanças climáticas funcionam como um fator multiplicador de riscos, ampliando ameaças já presentes (Baroni, 2024; Koop, 2024).

No Brasil, exemplos recentes demonstram essa realidade. O isolamento de áreas protegidas, provocado pela fragmentação da paisagem e pela pressão do agronegócio, tem colocado em risco espécies emblemáticas como a onça-pintada. Mesmo em regiões oficialmente destinadas à conservação, como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, pesquisas apontam que a ausência de conectividade ecológica reduz a capacidade de adaptação das espécies às alterações climáticas, transformando unidades de conservação em verdadeiras “ilhas ecológicas” (Scarpato et al, 2025).

Pesquisas também apontam para um aprofundamento da perda de habitats naturais. Estimativas indicam que, nos próximos 50 anos, mais da metade das áreas de vida selvagem da região poderá ser convertida para uso humano. Esse avanço ocorre de forma particularmente intensa no MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), hoje fronteira agrícola de expansão da soja e do milho, responsável pela rápida substituição de áreas de Cerrado, um dos biomas mais impactados pelas mudanças climáticas (Bandeira, 2023).

Além disso, análises recentes alertam para a possibilidade de pontos de não retorno ecológicos, em que a degradação dos ecossistemas brasileiros atingiria um patamar irreversível. Na Amazônia, estudos indicam que a continuidade do desmatamento, combinada ao aquecimento global, pode levar ao colapso do regime de chuvas e à savanização de grandes áreas da floresta, com impactos continentais (Baroni, 2024). Esse alerta torna ainda mais significativo o fato de a COP30 ser realizada em Belém, dentro da própria Amazônia, colocando a região no centro do debate global.

A perda de biodiversidade na América Latina não é apenas uma questão ambiental: é também social, econômica e política. Povos indígenas, comunidades ribeirinhas e populações tradicionais, que historicamente atuam como guardiões da biodiversidade, são os primeiros a sofrer os impactos. No Xingu, povos indígenas já relatam escassez de água em períodos críticos; no Baixo Amazonas, comunidades ribeirinhas enfrentam queda na pesca e insegurança alimentar, resultado da alteração dos ciclos de cheias e secas (Koop, 2024). Ignorar essa dimensão significaria negligenciar a justiça socioambiental, aspecto central para qualquer política eficaz de enfrentamento da crise.

Esses elementos demonstram que, na América Latina e no Brasil, as mudanças climáticas não apenas aceleram a perda de espécies, mas também aprofundam desigualdades e fragilidades históricas. A região concentra tanto uma das maiores riquezas biológicas do planeta quanto alguns dos contextos sociais mais vulneráveis aos impactos ambientais. Essa dupla condição reforça a necessidade de políticas integradas que articulem conservação, justiça social e desenvolvimento sustentável, de modo a reduzir riscos já evidentes e garantir maior resiliência socioecológica no futuro.

7. Conclusão

A relação entre mudanças climáticas e extinção da biodiversidade constitui um dos maiores desafios contemporâneos. Longe de ser uma ameaça distante, trata-se de um processo já em curso, que compromete ecossistemas inteiros e fragiliza as bases que sustentam a vida humana. Cada perda de espécie enfraquece redes ecológicas complexas, reduz serviços ambientais e limita a capacidade de adaptação diante de um clima em transformação.

Os exemplos discutidos ao longo do artigo mostram que não existem fronteiras capazes de conter os impactos dessa crise. Savanas, florestas tropicais, regiões polares e ambientes aquáticos estão passando por transformações rápidas e profundas. A extinção, nesse contexto, revela-se também como questão social, econômica e de saúde pública, afetando de modo desigual comunidades e países.

Responder a esse cenário exige mais do que ações isoladas. É necessária uma mudança estrutural que una políticas climáticas e de biodiversidade em uma mesma estratégia, superando interesses imediatistas e reconhecendo a urgência do momento. Sem essa convergência, os esforços permanecerão fragmentados e insuficientes diante da escala do problema.

O futuro dependerá da capacidade coletiva de agir no presente. Mais do que escolhas distantes, trata-se de decisões que precisam ser tomadas agora. A COP30, realizada na Amazônia, representa um momento decisivo para transformar discursos em compromissos concretos e para alinhar políticas que enfrentem, de forma conjunta, a crise climática e a perda da biodiversidade.

Referências

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Citação
EcoDebate, . (2025). Reflexões para a COP30: a crise climática e o agravamento da perda de biodiversidade. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/17/reflexoes-para-a-cop30-a-crise-climatica-e-o-agravamento-da-perda-de-biodiversidade/ (Acessado em setembro 17, 2025 at 19:53)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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