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Artigo

A nossa atitude blasé diante das árvores nas cidades grandes

 

arborização urbana, Tijuca, RJ

Estamos perdendo as nossas delicadezas diante das coisas ao nosso redor, do meio ambiente e dos homens

Ensaio de Rosângela Trajano

Ah, se passássemos pelas árvores como passamos pelas propagandas de automóveis ou mulheres nuas e ficássemos admirados, como seria belo! Porém, estamos diante de uma indiferença marcada pela industrialização, modernização, política econômica que só visa o lucro das grandes cidades.

Vamos falar aqui da atitude blasé conceituada pelo filósofo e sociólogo Georg Simmel, (1858-1918) que nasceu na Alemanha e é considerado o fundador da Sociologia Formal ou Sociologia das Formas Sociais. Na sua vasta experiência com as sociedades, Simmel nos fala da atitude blasé do homem urbano diante da modernidade das cidades demonstrando uma falta de interesse em tudo o que está ao seu redor. Vivendo para dentro de si ou para um mundo utópico sugerido pela seu eu sintetizado de lembranças dos seus antepassados.

Assim como o homem de Simmel está indiferente a toda essa modernidade das grandes cidades nós também nos tornamos indiferentes às árvores que embelezam os canteiros das nossas ruas, bairros e lugares onde vivemos. Passamos por elas sem darmos conta do quanto merecem um carinho, um abraço, um cumprimento ou apenas um mero sorriso.

Estamos perdendo as nossas delicadezas diante das coisas ao nosso redor, do meio ambiente e dos homens. Já não olhamos admirados para as coisas e nem mesmo utilizamos a Inteligência Artificial de forma correta porque não sabemos fazer perguntas. Perdemos a nossa criatividade. Estamos nos tornando sistemas especialistas. É uma pena que a humanidade esteja seguindo o caminho do horror às bruxas novamente, principalmente àquelas que foram queimadas vivas em praças públicas.

Assim é que estamos agindo com a atitude blasé defendida por Simmel diante das árvores ao nosso redor. Eu mesma muitas vezes passo pela da minha rua e nem a percebo mais. Fico dias sem olhar para ela, anos sem falar com ela, meio século sem saber quem é seu grande amor.

A atitude blasé defendida por Simmel me assusta porque mostra um homem indiferente a tudo, que não se deixa ser tomado emocionalmente pela singeleza das coisas, pela beleza de um ninho de pássaro num poste de iluminação pública, pelo despertar das manhãs, pela chuva… por tantas coisas que antes chamavam a atenção dos homens da Antiguidade que chegaram a criar mitos explicando a razão da existência de cada fenômeno, coisa ou objeto estranho.

Portanto, para nos salvar da catástrofe do Apocalipse da indiferença a tudo e ao nada ao mesmo tempo, peço que deixemos a nossa atitude blasé guardada no fundo do baú e saiamos pelas ruas abraçando as árvores e olhando com carinho para natureza, para o verde das nossas cidades, para as flores e pássaros. Se pudermos, cheiremos as folhas secas caídas das árvores que o vento nos traz. Sejamos menos blasé!

Rosângela Trajano, Colunista do EcoDebate, é poetisa, escritora, ilustradora, revisora, diagramadora, programadora de computadores e fotógrafa. Licenciada e bacharel em filosofia pela UFRN e mestra em literatura comparada também pela UFRN. É pesquisadora do CIMEEP – Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos Épicos. Com mais de 50 (cinquenta) livros publicados para crianças, ministra aulas de Filosofia para crianças na varanda da sua casa, de forma voluntária. Além disso, mora pertinho de um mangue aonde vai todas as manhãs receber inspiração para poetizar.

 

Citação
EcoDebate, . (2025). A nossa atitude blasé diante das árvores nas cidades grandes. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/17/a-nossa-atitude-blase-diante-das-arvores-nas-cidades-grandes/ (Acessado em setembro 17, 2025 at 09:45)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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