Mudança da estrutura etária e o Índice de Envelhecimento
O envelhecimento populacional em 2100 é uma realidade que exige planejamento estratégico e políticas públicas inovadoras
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O mundo está passando por uma profunda mudança na estrutura etária que ocorre no longo prazo. Para se medir este processo um dos indicadores mais utilizados é o Índice de Envelhecimento (IE). O gráfico abaixo mostra o IE ((60+/0-14)*100) para o mundo e alguns países selecionados. Em 1950, o IE do mundo era de 23 (60 anos e mais) idosos para cada 100 jovens (0-14 anos) e passou para 88 no ano 2000. Portanto, havia mais crianças e adolescentes (0-14 anos) do que idosos no século passado.
Mas a situação está mudando com o avanço do envelhecimento populacional e, pela primeira vez na história, o IE global será de 107 idosos para cada 100 crianças e jovens em 2050 e 180 em 2100. Ou seja, haverá 1,8 vezes mais idosos no topo da pirâmide no mundo do que jovens na base da pirâmide.
No Brasil os jovens eram maioria no século passado, mas os idosos (60+) vão ultrapassar os jovens (0-14) em 2029, chegarão a 200 idosos em 2050 e 323 em 2100. Ou seja, haverá 3,2 vezes mais idosos no topo da pirâmide no Brasil do que jovens na base da pirâmide no final do atual século.
Mas a grande inversão irá acontecer em Hong Kong que tinha mais jovens do que idosos no século passado e deve chegar em 2100 com 12,9 vezes mais idosos (60+) do que jovens (0-14).
Dos países do gráfico, somente o Níger continuará com uma estrutura relativamente rejuvenescida no século XXI. O IE do Níger era de 3 em 1950, passou para 8 no ano 2000, deve ficar em 16 em 2050 e 86 idosos para cada 100 jovens em 2100. Portanto, a população nigerense vai envelhecer, mas em ritmo bem mais lento do que a média mundial.
A expectativa de vida ao nascer no mundo era de 46,4 anos em 1950 e deve chegar 81,7 anos em 2100. Desta forma, o envelhecimento atingirá de forma diferente as diversas gerações.
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Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964): Cresceram no pós-guerra, valorizando o trabalho árduo, a estabilidade e a lealdade às empresas. Embora mais distantes da tecnologia em suas origens, muitos têm se digitalizado para melhorar sua qualidade de vida. A expectativa de vida no nascimento dos Baby Boomers estava pouco acima de 50 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2030.
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Geração X (nascidos entre 1965 e 1980): Acompanharam a transição para a era digital, valorizando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a flexibilidade e a autonomia. São multitarefas e se adaptam rapidamente às novas tecnologias. A expectativa de vida no nascimento da Geração X estava pouco abaixo de 60 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2050.
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Geração Y (Millennials – nascidos entre 1981 e 1996): A primeira geração a crescer com a internet amplamente disponível. Possuem habilidades digitais avançadas, valorizam a autenticidade, o desenvolvimento pessoal e buscam ambientes de trabalho inclusivos e colaborativos. A expectativa de vida no nascimento da Geração Y estava em torno de 65 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2070.
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Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012): Nativos digitais, cresceram com smartphones e redes sociais. São realistas, preocupados com questões globais, valorizam a diversidade e tendem a ter uma mentalidade empreendedora. A expectativa de vida no nascimento da Geração Z estava próximas de 70 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2080.
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Geração Alpha (nascidos a partir de 2013): Essa geração está crescendo em um mundo cada vez mais digital e tecnológico. Devem ser influenciadores nas compras da casa e prezarão ainda mais pela experiência e hábitos de consumo digitais. A expectativa de vida no nascimento da Geração Alpha estava acima de 70 anos e grande parte deve sobreviver até o início do século XXII.
As projeções indicam que, em 2100, a expectativa de vida média de Hong Kong pode ultrapassar os 95 anos. Essa longevidade é um triunfo da humanidade, mas também implica em uma significativa mudança na pirâmide etária. Essa transição demográfica apresenta diversos desafios para os países: como no sistema de saúde, na previdência social, no mercado de trabalho, nas infraestrutura e planejamento urbano e no combate ao etarismo.
Apesar dos desafios, o envelhecimento populacional também gera oportunidades significativas:
Economia da Longevidade: A crescente demanda por produtos e serviços voltados para a terceira idade impulsiona setores como saúde (telemedicina, geriatria), cuidados de longo prazo, turismo sênior, tecnologia assistiva e bem-estar.
Capital Humano Experiente: Idosos representam uma vasta fonte de conhecimento, experiência e sabedoria que pode ser aproveitada no mercado de trabalho, na mentoria de jovens profissionais e no voluntariado.
Novos Modelos de Negócio: Surgem oportunidades para empresas que desenvolvem soluções inovadoras para as necessidades da população idosa, como moradias adaptadas, programas de educação continuada e plataformas de conexão social.
Fortalecimento da Comunidade: O engajamento dos idosos em atividades sociais e voluntárias pode fortalecer os laços comunitários e promover um envelhecimento ativo e participativo.
A Geração Alpha será a mais impactada pela crise climática, pois passará a maior parte de suas vidas em um planeta com os efeitos mais severos das mudanças climáticas.
Isso se traduzirá em uma série de desafios e mudanças significativas em suas vidas. Do sucesso da Geração Alpha dependerá o sucesso da humanidade no século XXII.
Em suma, o envelhecimento populacional em 2100 é uma realidade que exige planejamento estratégico e políticas públicas inovadoras. Ao invés de apenas focar nos desafios, é crucial enxergar as oportunidades que essa mudança demográfica oferece para construir sociedades mais inclusivas, equitativas e prósperas para todas as gerações.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Brasil 2042: Enfrentando a Nova Revolução Demográfica, Ecodebate, 23/08/2024
https://www.ecodebate.com.br/2024/08/23/brasil-2042-enfrentando-a-nova-revolucao-demografica/
ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022
https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf
Liane THEDIM. Em um mundo mais velho, jovens também deveriam lutar contra etarismo, Valor, 30/04/2025 https://valor.globo.com/25-anos/noticia/2025/04/30/em-um-mundo-mais-velho-jovens-tambem-deveriam-lutar-contra-etarismo.ghtml
ALVES, JED. Os desafios de um Brasil mais velho. 25 anos do Valor Econômico, 30/04/2025
https://infograficos.valor.globo.com/especial/conversas-necessarias.html
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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