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Artigo

População e renda per capita no Afeganistão, Brasil e Tailândia

 

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A dinâmica demográfica e econômica do Afeganistão, Brasil e Tailândia são bastante diferentes, com resultados diversos sobre a erradicação da pobreza e o bem-estar da população.

O gráfico abaixo mostra que a população brasileira era de 53 milhões de habitantes em 1950, deve atingir o pico populacional com cerca de 220 milhões em 2042 e deve diminuir para 163 milhões de habitantes em 2100. A população da Tailândia era de 20 milhões de habitantes em 1950, já atingiu o pico populacional de 72 milhões em 2022 e deve decrescer para 46 milhões em 2100.

Já a população do Afeganistão era de 8 milhões de habitantes em 1950, ultrapassou 40 milhões atualmente e deve continuar crescendo até 130 milhões de habitantes em 2100. Nos 150 anos em questão, a população do Afeganistão deve crescer 16,7 vezes, o Brasil 3,1 vezes e a Tailândia 2,2 vezes. No final do atual século o Afeganistão deve ter uma população cerca de 3 vezes maior do que a Tailândia.

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O gráfico abaixo mostra a densidade demográfica nos três países. O Brasil sempre teve a menor densidade demográfica, seguida do Afeganistão e da Tailândia, mas o Afeganistão assumirá a maior densidade nas últimas décadas do atual século. O Brasil tinha uma densidade demográfica de 6,4 hab/km² em 1950 e deve atingir 20 hab/km² em 2100. A Tailândia tinha uma densidade demográfica de 40 hab/km² em 1950 e deve atingir 90 hab/km² em 2100. Já o Afeganistão tinha uma densidade demográfica de 12 hab/km² em 1950 e deve atingir 200 hab/km² em 2100. No final do atual século o Afeganistão terá uma densidade demográfica 10 vezes maior do que no Brasil e mais do dobro da Tailândia.

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A principal variável que determina a dinâmica da população é a taxa de fecundidade total (TFT). O gráfico abaixo mostra que, em 1950, a TFT estava acima de 6 filhos por mulher no Brasil (6,2 filhos) e na Tailândia (6,4 filhos) e acima de 7 filhos no Afeganistão (7,3 filhos). No Brasil e na Tailândia, a taxa de fecundidade começou a diminuir na década de 1970, mas no Afeganistão a TFT aumentou para quase 8 filhos por mulher na década de 1990 e só começou a cair nos anos 2000. Na Tailândia a transição foi mais rápida e a TFT chegou abaixo do nível de reposição (2,1 filhos por mulher) em 1992, enquanto o Brasil chegou em 2003 e o Afeganistão só chegará no final do século.

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O gráfico abaixo mostra a renda per capita, em poder de paridade de compra, dos três países de 1950 a 2022, segundo dados do Projeto Maddison (2023). Nota-se que a Tailândia e o Afeganistão tinham uma renda per capita semelhante, em torno de US$ 1,2 mil em 1950 e o Brasil tinha uma renda per capita de quase o dobro, US$ 2,3 mil. Em 1980, a renda per capita do Afeganistão era de US$ 1 mil, da Tailândia de US$ 4 mil e do Brasil de cerca de US$ 8 mil. Portanto, a renda per capita brasileira era 8 vezes maior de que a afegã e 2 vezes maior do que a renda tailandesa.

No ano 2000 a renda per capita do Afeganistão caiu para US$ 502 e a renda per capita do Brasil e da Tailândia ficou em torno de US$ 9,7 mil. O Brasil manteve uma renda maior do que a da Tailândia até 2014. Em 2022, a renda per capita estava em US$ 1,3 mil no Afeganistão, US$ 14,6 mil no Brasil e US$ 16,4 mil na Tailândia. Portanto, o Brasil tinha uma renda per capita 11 vezes maior do que a do Afeganistão e a Tailândia 12 vezes maior.

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Não houve avanço na renda per capita do Afeganistão nos últimos 70 anos. A renda per capita do Brasil quase quadruplicou entre 1950 e 1980, mas menos do que dobrou entre 1980 e 2022. Entre 1950 e 2022 a renda per capita brasileira aumentou 6,5 vezes e a da Tailândia 12,6 vezes.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 2023, foi de 0,798 na Tailândia, 76º lugar no ranking global, de 0,786 no Brasil, 84º lugar no ranking global e de 0,496 no Afeganistão, 181º lugar no ranking global.

O sucesso da Tailândia em relação ao Brasil e, principalmente, em relação ao Afeganistão tem várias explicações, mas um dos fatores de destaque foi a rápida transição demográfica. A queda das taxas de mortalidade e natalidade contribuíram para a mudança da estrutura etária e para o surgimento do 1º bônus demográfico.

O bônus demográfico ocorre quando a proporção da população em idade ativa (geralmente entre 15 e 64 anos) é maior do que a proporção de dependentes (crianças e idosos). Essa janela de oportunidade pode impulsionar o crescimento econômico e a renda per capita se o país investir em educação, saúde e criar um ambiente favorável ao emprego. A Tailândia aproveitou melhor sua janela de oportunidade demográfica em relação ao Brasil.

Já a transição demográfica do Afeganistão não tem avançado suficientemente e não tem contribuído positivamente para o aumento da renda per capita, pelo contrário, tem sido um fator de estagnação. Isto ocorre devido ao fardo da dependência, pois uma grande proporção de crianças significa uma enorme pressão sobre os recursos públicos (educação, saúde) e familiares. Há menos pessoas em idade de trabalhar para sustentar um grande número de dependentes.

Sem a queda mais profunda da taxa de fecundidade, o Afeganistão não consegue colher o dividendo demográfico porque a grande coorte de jovens que poderia se tornar uma força de trabalho produtiva enfrenta: a) conflitos prolongados e instabilidade política; b) baixo capital humano; c) falta de oportunidades econômicas e d) restrições à participação feminina no mercado de trabalho e na sociedade.

Em vez de impulsionar o crescimento, a estrutura demográfica do Afeganistão, combinada com fatores socioeconômicos e políticos adversos, resulta em uma “armadilha da pobreza”, onde o rápido crescimento populacional sem as condições adequadas para absorver essa força de trabalho mantém a renda per capita estagnada ou em declínio.

A Tailândia é um exemplo de país do Sudeste Asiático que passou por uma transição demográfica muito rápida e bem-sucedida, estando agora na Fase 4 (sociedade envelhecida). Agora a Tailândia busca aproveita o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade). Desta forma, a Tailândia caminha para ter uma renda per capita próxima daquelas dos países

O Brasil chegou a apresentar um dos maiores desempenhos econômicos do mundo entre 1950 e 1980. Mas depois de 1981 o país perdeu o ritmo e tem convivido com uma produtividade estagnada. A economia cresce pouco no ritmo do avanço populacional. Mas com o fim do 1º bônus demográfico, existe a possibilidade de o país ficar preso na “armadilha da renda média”, se não conseguir capitalizar o 2º e o 3º bônus demográfico.

Em resumo, a transição demográfica oferece uma janela de oportunidade (os bônus demográficos), mas seu aproveitamento depende crucialmente de políticas adequadas em áreas como educação, saúde, criação de empregos e governança eficaz.

O alto crescimento demográfico, como no Afeganistão, costuma ser mais um obstáculo do que um estímulo ao desenvolvimento humano.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Negacionismo climático e negacionismo demográfico, Ecodebate, 03/07/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/07/03/negacionismo-climatico-e-negacionismo-demografico/

ALVES, JED. Os avanços desiguais do IDH no Brasil, Venezuela e Tailândia, Ecodebate, 20/05/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/05/20/os-avancos-desiguais-do-idh-no-brasil-venezuela-e-tailandia/

ALVES, JED. Fecundidade e renda per capita na Tailândia e em Moçambique, Ecodebate, 04/09/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/09/04/fecundidade-e-renda-per-capita-na-tailandia-e-em-mocambique/

 

Citação
EcoDebate, . (2025). População e renda per capita no Afeganistão, Brasil e Tailândia. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/03/populacao-e-renda-per-capita-no-afeganistao-brasil-e-tailandia/ (Acessado em setembro 3, 2025 at 05:08)

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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