Modelo IAC para gestão do carbono na propriedade agrícola
O Modelo IAC para Gestão do Carbono na Propriedade Agrícola articula práticas administrativas, gerenciais e operacionais para conduzir a emissão, o sequestro, a conservação e a comprovação do carbono
Artigo de Afonso Peche Filho*
RESUMO
O carbono é um elemento-chave na sustentabilidade agrícola, desempenhando papéis na fertilidade do solo, no equilíbrio climático e na resiliência produtiva. O Centro de Engenharia e Automação (CEA) do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) estruturou o Modelo IAC para Gestão do Carbono na Propriedade Agrícola, que articula práticas administrativas, gerenciais e operacionais para conduzir a emissão, o sequestro, a conservação e a comprovação do carbono. Esta sistematização técnica apresenta as diretrizes e estratégias do modelo, demonstrando como a gestão do carbono deve ser integrada à burocracia documental, à otimização de recursos disponíveis e à execução operacional em campo, tornando-se referência para propriedades rurais que buscam sustentabilidade produtiva e inserção nos mercados de carbono.
Palavras-chave: manejo do carbono, gestão agrícola, sequestro de carbono, certificação ambiental, sustentabilidade.
INTRODUÇÃO
A gestão do carbono em propriedades agrícolas transcende o campo técnico e alcança o nível administrativo, gerencial e operacional da propriedade.
Não basta adotar práticas isoladas: é necessário organizar documentação (gestão administrativa), otimizar recursos e estratégias (gestão gerencial) e executar procedimentos padronizados (gestão operacional).
O Modelo IAC para Gestão do Carbono na Propriedade Agrícola foi desenvolvido com a finalidade de integrar essas dimensões. A proposta considera quatro eixos centrais:
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Emissão: controle e redução de gases de efeito estufa.
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Sequestro: práticas que aumentam o acúmulo de carbono no solo e na biomassa.
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Conservação: proteção dos estoques já armazenados.
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Comprovação: monitoramento e validação para certificação.
Esses eixos são necessariamente atravessados por processos administrativos, gerenciais e operacionais, que asseguram coerência, eficiência e legitimidade ao manejo do carbono. A figura 1, esquematiza essa relação.
FIGURA 1 – Representação esquemática do Modelo IAC de Gestão de Carbono.
EXEMPLOS ESTRUTURAIS DO MODELO IAC.
1. Gestão Administrativa (Burocrática)
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Planejamento,
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Capacitação de equipe.
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Registro e documentação: inventários de emissões, análises periódicas de solo e biomassa.
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Procedimentos de comprovação: relatórios técnicos para atender certificadoras de crédito de carbono.
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Integração normativa: atendimento às exigências ambientais e legais.
2. Gestão Gerencial (Otimização de Recursos)
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Planejamento estratégico: definição de metas de sequestro e redução de emissões.
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Alocação de recursos: uso racional de insumos, energia e mão de obra.
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Otimização de práticas: escolha de sistemas de cultivo, rotação de culturas e tecnologias de monitoramento.
3. Gestão Operacional (Procedimentos e Padrões)
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Execução prática: mecanização, manejo cultural, logística, uso de insumos, manejo de resíduos.
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Rotinas de campo: controle, inspeção, monitoramento, proteção do solo, pastejo, romaneio, proteção ambiental, prevenção de incêndios.
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Padronização de processos: práticas de conservação de solo, água, biodiversidade, qualidade e eficiência operacional.
DIRETRIZES TÉCNICAS APLICADAS ÀS DIMENSÕES DE GESTÃO
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Emissão:
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Administrativa: inventários de emissões.
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Gerencial: planejamento de uso eficiente de insumos.
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Operacional: controle de poluição veicular, manejo de dejetos animais e adoção de biodigestores.
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Sequestro:
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Administrativa: planejamento e manutenção de áreas verdes. Registro e comprovação de área cultivada com cobertura ou agrofloresta.
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Gerencial: otimização de sistemas de rotação e consórcio de culturas.
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Operacional: plantio direto, compostagem e adubação orgânica.
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Conservação:
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Administrativa: registros de práticas conservacionistas e sua continuidade.
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Gerencial: priorização de recursos para manutenção de cobertura do solo.
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Operacional: controle de exposição do solo, manutenção de cobertura e biomassa vegetal.
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Comprovação:
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Administrativa: relatórios oficiais e auditorias.
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Gerencial: uso de modelagens e indicadores para tomada de decisão.
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Operacional: coleta de dados em campo e análises periódicas.
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RESULTADOS ESPERADOS
O modelo permite:
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Capacitar proprietários e profissionais do setor agrário.
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Maior eficiência administrativa: documentação clara que facilita certificações.
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Otimização gerencial: melhor uso de recursos naturais, humanos e financeiros.
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Excelência operacional: execução prática de técnicas regenerativas de alto impacto.
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Valorização econômica: acesso a programas de créditos de carbono e geração de receitas adicionais.
CONCLUSÕES
– O Modelo IAC para Gestão do Carbono na Propriedade Agrícola estabelece que a dinâmica do carbono não pode ser dissociada da organização da propriedade.
– Cada ação, da emissão ao sequestro, da conservação à comprovação, depende da integração entre gestão administrativa, gerencial e operacional.
– Esse tripé garante que o agricultor vá além da adoção pontual de práticas, estruturando um verdadeiro sistema de gestão do carbono: documentado, eficiente e padronizado.
– Dessa forma, o modelo transforma a propriedade em unidade de referência ecológica, produtiva e certificável, preparada para os desafios climáticos e para oportunidades econômicas emergentes.
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* Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas – IAC.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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