EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Os habitantes das florestas e o desapego as mercadorias

 

floresta

Pequeno ensaio baseado no texto intitulado “Paixão pela mercadoria” de Davi Kopenawa

Ensaio de Rosângela Trajano

O homem branco gosta de consumir. Ele compra tudo o que ver, ele fabrica coisas, ele cria, ele guarda o que já não serve mais para si, no entanto não consegue se desapegar e nas suas casas costumamos encontrar pequenos lugares cheios de coisas sem uso apenas alojadas ali porque eles não conseguem se desfazer delas.

Se o homem branco tem um grande apego pelas suas mercadorias assim como nos Davi Kopenawa, os habitantes das florestas não costumam ter esse apego. Se alguém lhes visita ou deseja algo que eles têm é da sua sabedoria e do seu espírito generoso presentear a pessoa que gostou da sua mercadoria. Ele dá tudo o que não necessita.

Quando morre alguém, por exemplo, na comunidade dos Yanomamis, eles costumam queimar as coisas que eram dessa pessoa e guardam as suas cinzas como saudades. Os Yanomamis são desapegados dos seus bens, eles sabem que nada disso tem valor depois da morte. Se alguém na comunidade não é generoso logo passa a ser visto como sovina e assim chamado pelos outros.

Quando morre algum habitante da floresta os seus ossos são cremados e os dos dedos são guardados como lembrança da sua generosidade.

Os homens brancos no intuito de fabricar mercadorias começaram a cortar todas as árvores, a maltratar a terra e a sujar os rios, segundo Kopenawa. Sim, os brancos não cuidam do nosso meio ambiente, eles se preocupam tão somente em acumulares bens e mercadorias mesmo que não sirvam para nada. Compram tudo o que veem, gastam dinheiro com tolices e muitas vezes exploram os homens das florestas querendo trocar seus bens pelos deles que artesanalmente são feitos com amor e carinho.

Ninguém pode maltratar as cinzas dos ossos de um homem da floresta e deve guardá-las com cuidado. Se qualquer mal foi feito as suas cinzas poderá haver uma confusão na comunidade. Quando morrer um deles, até mesmo os galhos das árvores onde se dependuravam são queimados e as suas roupas também. Tudo o que era seu é queimado em rituais e festas ao espírito daquele homem generoso que partiu do seio do seu povo amado.

“As pedras, as águas, a terra, as montanhas, o céu e o sol nunca morrem, como também os xapiri”, segundo Kopenawa. E isso é verdade, por isso as árvores de quem tanto falo sempre também nunca morrem, elas são interligadas umas as outras pelas suas raízes e apenas adormecem para sempre ao passar dos séculos e mesmo quando são derrubadas ainda assim continuam a existir nos espíritos das florestas.

Os brancos gostam de acumular mercadorias porque não sabem o quanto é bom ser generoso. Eles exploram os homens das florestas quando deles se aproximam e desejam alguma coisa sempre oferecendo em troca as suas bugigangas que chamam atenção por serem coloridos e diferentes do que já viram. Os brancos são profundamente apegados as coisas materiais, infelizmente.

Rosângela Trajano é discente do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Os habitantes das florestas e o desapego as mercadorias. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/01/os-habitantes-das-florestas-e-o-desapego-as-mercadorias/ (Acessado em setembro 1, 2025 at 02:00)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O conteúdo do EcoDebate está sob licença Creative Commons, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao EcoDebate (link original) e, se for o caso, à fonte primária da informação