Onda de calor afeta os países nórdicos

Artigo de Vivaldo José Breternitz (*)
A intensa onda de calor que atingiu a Escandinávia em julho foi potencializada pela crise climática e mostra que “nenhum país está a salvo das mudanças do clima”, alertam cientistas.
Tradicionalmente conhecidos por seu clima frio, Noruega, Suécia e Finlândia enfrentaram temperaturas inéditas. A Finlândia registrou um recorde de 22 dias consecutivos acima de 30 °C, enquanto a Suécia viveu 10 noites com os termômetros não caindo abaixo de 20 °C.
Segundo pesquisadores do consórcio internacional World Weather Attribution, que tem como objetivo analisar a relação entre eventos climáticos extremos e as mudanças climáticas causadas pela ação humana, o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis torna ondas de calor ao menos dez vezes mais prováveis e 2 °C mais quentes. Alguns modelos climáticos indicaram que o fenômeno seria impossível sem a ação humana.
Os impactos foram sentidos em várias frentes. Hospitais superlotaram e chegaram a cancelar cirurgias devido ao calor excessivo. Pelo menos 60 pessoas morreram afogadas com o aumento do banhos em rios e lagos, onde também se multiplicaram algas tóxicas; centenas de incêndios florestais foram registrados. Em 2018, uma onda de calor semelhante provocou 750 mortes na Suécia, com especialistas prevendo números semelhantes neste ano.
A fauna também sofreu: renas, símbolo da Escandinávia, morreram ou buscaram refúgio em áreas urbanas. Motoristas foram alertados sobre o risco de animais procurarem sombra em túneis rodoviários.
O episódio se insere em um padrão mais amplo: ondas de calor recentes atingiram também Reino Unido, Espanha, Croácia – onde os incêndios já destruíram o dobro da média histórica – além de EUA, Japão e Coreia do Sul. Para os cientistas, não há dúvida de que a crise climática está intensificando esses eventos extremos.
Nenhuma nação está segura, afirmou a climatologista Friederike Otto, do Imperial College de Londres. “A queima de petróleo, gás e carvão está matando pessoas. Os combustíveis fósseis estão alimentando as mudanças climáticas extremas, e só a transição para energias renováveis pode evitar que o problema se agrave.”
Um dado revelador (e assustador) é que o aumento de apenas 0,2 °C na temperatura global desde 2018 dobrou a probabilidade de ondas de calor como a deste ano. “Cada fração de grau conta”, resumiu a pesquisadora Clair Barnes, também do Imperial College.
A especialista Maja Vahlberg, da Cruz Vermelha sueca, reforça o alerta: “Nossa infraestrutura não foi feita para suportar temperaturas tão altas, e uma população envelhecida torna-se ainda mais vulnerável.
O que vimos neste julho é um lembrete de que o calor extremo não é ameaça distante, mas já está dentro de hospitais, lares de idosos e casas do norte europeu.”
Infelizmente, situações similares já estão afetando o Brasil.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor e consultor – vjnitz@gmail.com.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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