Mudanças climáticas ameaçam biodiversidade dos campos rupestres brasileiros, aponta estudo da UFMG
Campos rupestres. Foto: Geraldo Wilson Fernandes
Pesquisa internacional revela como aquecimento global favorece plantas invasoras e prejudica espécies nativas em ecossistemas montanhosos
Aumento de temperatura reduz em até 90% a germinação de plantas endêmicas, enquanto espécies invasoras se adaptam melhor aos distúrbios ambientais causados pela ação humana
Estudo da UFMG publicado no Journal of Mountain Science mostra que mudanças climáticas e alterações no solo ameaçam a biodiversidade dos campos rupestres brasileiros, favorecendo plantas invasoras em detrimento das espécies nativas.
Uma revisão de estudos científicos, publicada na revista Journal of Mountain Science neste mês, mostrou um cenário preocupante para a biodiversidade de campos rupestres. Tais campos são ecossistemas montanhosos brasileiros conhecidos por suas altas biodiversidades e endemismo e apresentam uma vegetação que, apesar de adaptada a condições extremas como solos pobres e alta irradiação solar, enfrenta ameaças crescentes devido à ação humana.
Por Luana Macieira | com informações do Biodiv
No artigo Germination niche of campo rupestre plants: effects of increased temperature and darkness, pesquisadores da UFMG, da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), da Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina, e do Centro de Investigaciones sobre Desertificación, da Espanha, revelam como o aquecimento global e as alterações no uso do solo podem impactar a germinação de plantas nos campos rupestres.
Segundo o estudo, o aumento da temperatura e os impactos no ambiente favorecem a germinação de plantas invasoras, enquanto espécies nativas são prejudicadas. A redução na capacidade de germinação das espécies nativas põe em risco a produção de alimentos, os polinizadores e as interações que mantêm a complexa rede da vida no topo das montanhas. A pesquisa também indica que mudanças na temperatura pode alterar o quadro de espécies que conseguem crescer nos ambientes delicados dos campos rupestres.
“No alto das montanhas, um leve aumento de temperatura pode ajudar as sementes a germinar, melhorando a sua capacidade de brotar. Porém, se a temperatura aumenta mais do que o esperado pelas plantas nativas do topo das montanhas, essas plantas, que não estão acostumadas àquela condição, podem não se adaptar a tempo”, explica Geraldo Wilson Fernandes, coordenador do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (Biodiv) e professor do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG.
Acesso à luz e tamanho das sementes
Outra constatação feita pelos pesquisadores diz respeito ao fato de que o manejo do solo pelo homem pode influenciar diretamente no nascimento de novas plantas, selecionando somente aquelas mais aptas a germinar na ausência de luz. Segundo Fernandes, há risco de perda da camada natural e de soterramento do solo quando ele é revolvido por máquinas agrícolas ou por outras atividades. “O processo pode atrapalhar a germinação de algumas sementes que precisam de luz. Mostramos que a ausência dessa luz reduz a germinação de espécies nativas em até 90%, com impacto mais severo entre as endêmicas. Já as invasoras não foram afetadas pela escuridão, indicando maior adaptação a distúrbios do solo, como os causados por atividades humanas.”
Os pesquisadores também investigaram as relações entre as mudanças climáticas e o tamanho das sementes. Foi constatado que sementes pequenas, mais sensíveis à luz e à temperatura, podem germinar rapidamente, mas também podem perder a capacidade de germinação quando são soterradas. As sementes grandes, apesar de demorarem mais para germinar, são mais resistentes.
Segundo o professor do Departamento de Biologia Geral da Unimontes, Walisson Kenedy-Siqueira, “as sementes maiores aguentam melhor as mudanças do ambiente, podendo gerar brotos mais vigorosos. De forma alarmante, o estudo mostrou a necessidade de realizarmos monitoramento contínuo de áreas perturbadas, de desenvolvermos estratégias de restauração ecológica que considerem as necessidades específicas de germinação das espécies nativas e de criarmos políticas públicas para reduzir impactos antrópicos resultantes de atividades como mineração e expansão urbana desordenada”, sugere.
Wallison acrescenta que os resultados apresentados no artigo expõem a vulnerabilidade do campo rupestre. “A conservação desse ecossistema requer ações urgentes para mitigar os efeitos combinados das mudanças climáticas e da perda de habitat”, conclui.
Referência:
Kenedy-Siqueira, W., Aguilar, R., Borghetti, F. et al. Germination niche of campo rupestre plants: effects of increased temperature and darkness. J. Mt. Sci. 22, 2541–2554 (2025). https://doi.org/10.1007/s11629-023-8519-2
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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