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Artigo

As ondas do envelhecimento populacional brasileiro

 

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O envelhecimento populacional é o resultado inevitável da transição demográfica.

Quando caem as taxas de mortalidade e natalidade há um encolhimento da base e um alargamento do topo da pirâmide etária. Diminui a proporção de crianças e jovens e aumenta a proporção dos idosos.

A transição demográfica é a maior conquista da história da humanidade por diversos motivos, principalmente, é um marco civilizatório que transformou radicalmente a vida humana.

  1. Redução drástica da mortalidade. Historicamente, a humanidade sempre viveu com altas taxas de mortalidade, especialmente a mortalidade infantil e materna, e uma baixa expectativa de vida. A transição demográfica, impulsionada pelos avanços na medicina, saneamento básico, alimentação e qualidade de vida, permitiu uma queda sem precedentes na mortalidade. As pessoas “pararam de morrer como moscas”, levando a um aumento significativo da expectativa de vida ao nascer, que, no caso do Brasil, multiplicou-se por três vezes em dois séculos, passando de cerca de 25 para mais de 75 anos. Essa extensão da vida é uma conquista espetacular e fundamental para o desenvolvimento humano.

  2. Queda da fecundidade e mudança cultural. Com menos mortes precoces, tornou-se possível e desejável reduzir o número de nascimentos por casal. Essa queda da taxa de fecundidade não foi apenas um ajuste mecânico, mas uma mudança cultural fundamental. As famílias passaram a investir na qualidade de vida dos filhos em vez da quantidade, priorizando a educação e o bem-estar individual. Esse fenômeno é único e se reproduz invariavelmente em todos os países que passam pela transição demográfica, primeiro com a queda da mortalidade e, posteriormente, com a queda do tamanho das famílias.

  3. Janela de oportunidade demográfica e desenvolvimento social. A transição demográfica gera uma mudança na estrutura etária da população, criando uma “janela de oportunidade” demográfica. Durante esse período, há uma proporção maior de pessoas em idade produtiva (adultos) em relação a dependentes (crianças e idosos), o que pode impulsionar o desenvolvimento econômico e social. Essa fase permite um maior investimento em educação, saúde e infraestrutura, favorecendo o aumento da produtividade e o avanço em diversas áreas sociais.

Além disso, a transição demográfica é acompanhada pela redução das desigualdades de gênero, com maior inserção das mulheres no mercado de trabalho e o aumento da sua escolaridade, o que contribui para o bem-estar de toda a sociedade.

A transição demográfica é a maior conquista da humanidade porque representa a superação do fatalismo e de uma realidade de alta mortalidade e baixa expectativa de vida, permitindo que a humanidade alcance uma longevidade sem precedentes e tenha a oportunidade de investir na qualidade de vida e no desenvolvimento social de suas populações.

A população brasileira era de 53 milhões de habitantes em 1950, deve atingir o pico de 220 milhões em 2042, para iniciar um processo de decrescimento até 163,4 milhões de habitantes em 2100, segundo estimativa da Divisão de População da ONU. O envelhecimento populacional ocorre em ondas e a população brasileira já está diminuindo na maioria dos grupos decenais, conforme mostra o gráfico abaixo.

O grupo 0-9 anos começou a diminuir em 1989, o grupo 10-19 anos em 1999, o grupo 20-29 anos começou a diminuir em 2009 e o grupo 30-39 anos em 2019. O grupo 40-49 anos vai começar a diminuir em 2029 e o grupo etário 50-59 em 2039. O grupo etário 60-69 anos irá diminuir em termos absolutos a partir de 2050 e o grupo 70-79 anos irá decrescer a partir de 2060.

Somente o grupo de 80 anos e mais irá continuar crescendo durante todo o século XXI, passando de 184 mil pessoas em 1950 para 24 milhões em 2100, um crescimento de 130 vezes em 150 anos. Portanto, o Brasil passa por um processo de envelhecimento e também por um envelhecimento do envelhecimento, com um peso cada vez maior do grupo 80 anos e mais no topo da pirâmide.

população brasileira por grupos etários decenais

O envelhecimento populacional, embora traga desafios inerentes a sistemas de saúde e previdência, também abre um leque de oportunidades significativas, especialmente no que tange à chamada Economia Prateada (ou Silver Economy).

Essa nova realidade demográfica, com um número crescente de pessoas acima de 60 anos vivendo mais e com maior qualidade de vida, está remodelando mercados e impulsionando a inovação. As principais oportunidades do Envelhecimento Populacional são:

  • Maior Poder de Consumo: A população idosa, em muitos casos, possui maior poder de compra, seja por ter acumulado bens e poupanças ao longo da vida, seja por ter acesso a aposentadorias e outros benefícios. Isso cria um mercado consumidor robusto e diversificado para produtos e serviços.

  • Experiência e Conhecimento no Mercado de Trabalho: Muitos idosos, mesmo após a aposentadoria formal, desejam permanecer ativos. Sua vasta experiência, conhecimento acumulado e sabedoria podem ser um diferencial em diversas áreas, seja como consultores, mentores, empreendedores ou em trabalhos flexíveis. Há um crescente reconhecimento da importância da diversidade etária nas equipes, que pode trazer novas perspectivas e soluções.

  • Voluntariado e Engajamento Social: O tempo livre após a aposentadoria permite que muitos idosos se engajem em atividades voluntárias e sociais, contribuindo significativamente para suas comunidades e para a sociedade como um todo.

  • Estímulo à Inovação: As necessidades e desejos de uma população que envelhece impulsionam a inovação em diversas áreas, desde tecnologias assistivas até novos modelos de moradia e serviços.

  • Demanda por Serviços Especializados: O aumento da longevidade gera uma demanda crescente por serviços especializados em saúde (geriatria, fisioterapia geriátrica, cuidados paliativos), bem-estar (massoterapia, podologia), lazer e turismo adaptado.

A Economia Prateada refere-se ao conjunto de atividades econômicas e segmentos de mercado voltados para atender às preferências, demandas e necessidades das pessoas mais maduras, especialmente aquelas acima de 50 ou 60 anos.

É um mercado em franca expansão globalmente, movimentando trilhões de dólares e representando uma grande oportunidade para empresas, empreendedores e trabalhadores prateados.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Brasil 2042: Enfrentando a Nova Revolução Demográfica, Ecodebate, 23/08/2024

https://www.ecodebate.com.br/2024/08/23/brasil-2042-enfrentando-a-nova-revolucao-demografica/

ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI (com a colaboração de GALIZA, F), ENS, maio de 2022

https://prdapi.ens.edu.br/media/downloads/Livro_Demografia_e_Economia_digital_2.pdf

Liane THEDIM. Em um mundo mais velho, jovens também deveriam lutar contra etarismo, Valor, 30/04/2025 https://valor.globo.com/25-anos/noticia/2025/04/30/em-um-mundo-mais-velho-jovens-tambem-deveriam-lutar-contra-etarismo.ghtml

ALVES, JED. Os desafios de um Brasil mais velho. 25 anos do Valor Econômico, 30/04/2025

https://infograficos.valor.globo.com/especial/conversas-necessarias.html

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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