A América Latina e Caribe: continente com o maior envelhecimento populacional no século XXI
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A América Latina e Caribe (ALC) é a região que deve apresentar o maior envelhecimento populacional do mundo, ao longo do século XXI.
Para 2100, a ALC terá uma idade mediana de 49,1 anos, a Europa 48,6 anos, a Ásia 46,8 anos, América do Norte 45,5 anos, Oceania 42,4 anos e África 35,1 anos.
Alguns países da ALC se destacam, como pode ser visto pelo Índice de Envelhecimento (IE), que é uma das principais medidas para avaliar a mudança da estrutura etária de uma população e para mostrar a relação entre o topo e a base da pirâmide populacional.
O gráfico abaixo mostra o IE ((60+/0-14)*100) para o Brasil e outros países da região com os maiores índices de envelhecimento. Em 2000, o IE do Brasil era de 26 idosos (60 anos e mais) para cada 100 jovens (0-14 anos), deve passar para 200 no ano 2050 e chegar a 323 em 2100. Ou seja, haverá 3,2 vezes mais idosos do que jovens (0-14 anos) no Brasil no final do atual século.
Em 2100, o Índice de Envelhecimento do Uruguai deve chegar a 401 idosos para cada 100 jovens. O IE deve chegar a 407 na Jamaica, 411 em Cuba, 490 no Chile e 807 em Porto Rico. Ou seja, haverá 8,1 vezes mais idosos do que jovens em Porto Rico no final do atual século.
As gerações prateadas de 50 anos e mais serão maioria no final do atual século em todos os países do gráfico. Porém, o envelhecimento populacional não deve ser visto como um problema irresolvível e nem os idosos devem ser tratados como “peso morto” para a sociedade.
O reconhecimento de que o envelhecimento populacional é uma tendência inescapável do século XXI nos obriga a sair da inércia.
As nações que conseguirem antecipar e se adaptar a essa nova estrutura etária serão as mais bem-sucedidas em promover o bem-estar de seus cidadãos, garantindo que a longevidade seja, de fato, a grande conquista da humanidade, e não uma fonte de problemas.
A Economia Prateada é a resposta adequada para esta nova realidade demográfica. Refere-se ao conjunto de atividades econômicas e segmentos de mercado voltados para atender às preferências, demandas e necessidades da população mais velha, especialmente aquelas acima de 50 ou 60 anos. É um mercado em franca expansão globalmente, movimentando trilhões de dólares e representando uma grande oportunidade para empresas, empreendedores e a sociedade.
Como visto, Porto Rico está enfrentando um dos mais profundos e rápidos processos de envelhecimento populacional do mundo, impulsionado por uma combinação de fatores demográficos e socioeconômicos. Este fenômeno tem implicações significativas para o futuro da ilha, afetando sua economia, sistemas de saúde e estrutura social.
Historicamente, Porto Rico passou por uma transição demográfica típica, com queda das taxas de mortalidade e, posteriormente, das taxas de natalidade. No entanto, o que torna o caso porto-riquenho particularmente notável é a intensidade e a velocidade desses processos, agravadas por um fator adicional e crucial: a emigração em massa.
Porto Rico tem uma das taxas de fecundidade mais baixas do mundo, com 0,98 nascimentos por mulher em 2019 e 0,94 filhos por mulher em 2024. Isso está muito abaixo da taxa de reposição populacional de 2,1 filhos, o que significa que nascem muito menos crianças do que o necessário para substituir a geração atual. Essa queda acentuada na fecundidade tem raízes complexas, incluindo urbanização, acesso a métodos contraceptivos e mudanças nos valores sociais.
Assim como em muitos países desenvolvidos, Porto Rico tem visto um aumento constante na expectativa de vida. Dados de 2024 indicam uma expectativa de vida média de 82 anos, com mulheres vivendo mais (cerca de 85 anos) do que homens (78 anos). Esse avanço na longevidade, embora seja um indicador positivo de saúde pública, contribui para a proporção crescente de idosos na população.
A emigração em massa é o fator mais crítico. Este é o motor mais potente e distintivo do envelhecimento acelerado em Porto Rico. Décadas de dificuldades econômicas, a crise da dívida e, mais recentemente, o impacto de desastres naturais como o furacão Maria (2017) e terremotos, levaram a um êxodo massivo de porto-riquenhos para os Estados Unidos.
A emigração é desproporcionalmente composta por jovens e adultos em idade produtiva, em busca de melhores oportunidades de emprego, educação e qualidade de vida. Isso resulta em uma perda significativa da população jovem, deixando para trás uma proporção cada vez maior de idosos. Em 2017, por exemplo, o número de emigrantes atingiu picos, com dezenas de milhares de porto-riquenhos deixando a ilha anualmente.
O fato dos porto-riquenhos serem cidadãos americanos facilita essa migração, tornando-a uma válvula de escape para as pressões econômicas, mas ao custo de um desequilíbrio demográfico acentuado.
As projeções indicam que a população de Porto Rico continuará a diminuir e envelhecer nas próximas décadas, com a população total estimada em cerca de 3,17 milhões em 2026. Este cenário exige respostas multifacetadas e urgentes:
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Políticas de retenção e atração: Esforços para reter a população jovem e atrair de volta porto-riquenhos que emigraram, oferecendo oportunidades econômicas e melhor qualidade de vida.
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Reforma da previdência e saúde: Medidas para garantir a sustentabilidade dos sistemas de seguridade social e saúde, possivelmente através de reformas estruturais e investimento em modelos de cuidado mais eficientes.
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Aproveitamento da economia da longevidade: Desenvolvimento de indústrias e serviços voltados para a população idosa, aproveitando o poder de compra e as necessidades desse segmento.
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Inovação e produtividade: Investimento em tecnologia e automação para compensar a diminuição da força de trabalho e aumentar a produtividade.
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Promoção do envelhecimento ativo: Incentivo à participação de idosos no mercado de trabalho, em atividades voluntárias e na vida comunitária, valorizando sua experiência e conhecimento.
O caso de Porto Rico serve como um alerta global sobre os desafios complexos que surgem quando o envelhecimento populacional é acelerado por fatores como a emigração em massa, adicionando uma camada extra de complexidade às transições demográficas observadas em outros países.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Podemos ter um mundo com menos habitantes e melhor qualidade de vida social e ambiental, Ecodebate, 03/06/2024 https://www.ecodebate.com.br/2024/06/03/podemos-ter-um-mundo-com-menos-habitantes-e-melhor-qualidade-de-vida-social-e-ambiental/
ALVES, JED. Decrescimento populacional com prosperidade social em Portugal, Ecodebate, 10/07/2024
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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