Transição religiosa entre a população indígena de 1991 a 2022
A religiosidade indígena é dinâmica e resiliente e precisa ser melhor compreendida junto com a análise da longa história do colonialismo
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O IBGE tem divulgado os dados sobre as filiações religiosas da população indígena brasileira desde 1991. Existem diversas dificuldades na coleta dos dados da dinâmica religiosa da população como um todo e, em especial, entre a população indígena.
Há diferenças entre os moradores de áreas rurais e urbanas e uma grande diversidade cultural das diversas etnias que compõem a rica diversidade dos povos originários – falantes de múltiplas línguas – distribuídos em todo o território nacional.
O gráfico abaixo mostra a percentagem de católicos, evangélicos, sem religião e outras religiões (incluindo tradições indígenas) entre a população indígena entre 1991 e 2022. Nota-se que, em 1991, os católicos representavam 64,3%, os evangélicos 13,6%, os sem religião representavam 15,9% e as outras religiões 6,2%. Mas este quadro mudou nos anos seguintes.
As filiações católicas caíram para 58,9% em 2000, 50,7% em 2010 e 45,4% em 2022, perdendo a maioria absoluta entre os indígenas. As filiações evangélicas passaram para 20% em 2000, para 25,5% em 2010 e para 32,6% em 2022.
Houve uma redução entre as pessoas que se declaram sem religião. Este grupo passou de 15,9% em 1991 para 10,2% em 2022. Houve crescimento das outras religiões que passaram de 6,2% em 1991 para 11,9% em 2022.
No artigo “Cambios en el perfil religioso de la población indígena del Brasil entre 1991 y 2010” (Alves e Cavenaghi, 2017), publicado na revista Notas de Población, da Cepal (n. 104, jan-jun 2017) analisamos as mudanças religiosas que ocorreram entre os indígenas no Brasil, entre 1991 e 2010, de forma contextualizada, com base nos microdados dos Censos Demográficos.
O artigo já mostrava que os católicos – grupo majoritário – apresentavam tendências declinantes, enquanto, os evangélicos que possuem grande heterogeneidade, apresentavam crescimento contínuo. Também houve aumento das outras denominações e daquelas pessoas que se declaram sem religião.
Os dados do censo demográfico 2022 mostram a continuidade da transição religiosa na população indígena que apresenta percentuais de católicos abaixo da média nacional e percentagem de evangélicos acima da média nacional.
Os dados divulgados pelo IBGE ainda são preliminares. Não foram divulgados os microdados que permitiriam uma análise mais detalhada e aprofundada da dinâmica religiosa entre a população indígena brasileira.
A religiosidade indígena é dinâmica e resiliente e precisa ser melhor compreendida junto com a análise da longa história do colonialismo, levando em consideração o cenário atual da transição religiosa brasileira.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A transição religiosa no Brasil: 1872-2049, Ecodebate, 09/06/2025
https://www.ecodebate.com.br/2025/06/09/a-transicao-religiosa-no-brasil-1872-2049/
ALVES, JED e CANENAGHI, S. Cambios en el perfil religioso de la población indígena del Brasil entre 1991 y 2010, CEPAL, CELADE, Notas de Población, N. 104, enero-junio de 2017, p 237-261
http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/41954/1/S1700164_es.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]