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Mais uma ameaça: a acidificação dos oceanos

 

Limite planetário de acidificação dos oceanos. (a) Porcentagem (%) redução entre o estado de saturação de aragonita pré-industrial para o oceano global de superfície e as sete regiões oceânicas, também em comparação com a avaliação planetária de Richardson et al. (2023) (círculo azul e linha azul). Os círculos vermelhos representam o conjunto multimodelo mediano com os erros propagados associados para o desvio padrão multi-modelo e as incertezas pré-industriais.
Limite planetário de acidificação dos oceanos. (a) Porcentagem (%) redução entre o estado de saturação de aragonita pré-industrial para o oceano global de superfície e as sete regiões oceânicas, também em comparação com a avaliação planetária de Richardson et al. (2023) (círculo azul e linha azul). Os círculos vermelhos representam o conjunto multimodelo mediano com os erros propagados associados para o desvio padrão multi-modelo e as incertezas pré-industriais.

Artigo de Vivaldo José Breternitz

Um estudo publicado recentemente pela revista Global Change Biology descobriu que a acidificação dos oceanos — o processo em que os oceanos absorvem o excesso de dióxido de carbono da atmosfera, tornando-se mais ácidos — ultrapassou um “limite planetário” ou em outras palavras, atingiu-se uma “zona de perigo”.

A acidificação reduz a quantidade de carbonato de cálcio presente na água. Nina Bednaršek, uma das autoras do estudo e pesquisadora Oregon State University, afirmou que esses limites já foram atingidos por todos os oceanos – eles são atingidos quando a quantidade de carbonato de cálcio na água, essencial para que organismos marinhos desenvolvam conchas, cai para menos de 20% dos níveis registrados nos tempos pré-industriais. O novo relatório estima que esse valor está ao redor de 17%.

Outro dos autores do estudo, Steve Widdicombe, do Plymouth Marine Laboratory, afirmou que a acidificação dos oceanos é uma bomba-relógio para os ecossistemas marinhos e economias costeiras, pois à medida em que os mares se tornam mais ácidos, acontece a deterioração de habitats dos quais inúmeras espécies marinhas dependem, o que traz grandes implicações sociais e econômicas.

O estudo descobriu que a acidez dos oceanos é maior nas águas mais profundas. Em torno de 200 metros abaixo da superfície, 60% das águas oceânicas já haviam ultrapassado o limite de 20%, em comparação com cerca de 40% na superfície.

“A maior parte da vida marítima não está na superfície ou próxima dela— as águas mais profundas abrigam muitos outros tipos de plantas e animais”, disse Helen Findlay, oceanógrafa do laboratório de Plymouth e também autora do estudo. “Como essas águas profundas estão mudando tanto, os impactos da acidificação dos oceanos podem ser muito piores do que pensávamos.”

O aumento da acidez dos oceanos já levou à perda de mais de 40% dos habitats dos recifes tropicais e subtropicais.

Nas regiões polares, borboletas-do-mar — um importante componente das cadeias alimentares marinhas — perderam mais de 60% de seu habitat. Espécies costeiras de moluscos perderam 13% das áreas em que conseguem sobreviver.

O estudo foi divulgado enquanto os principais especialistas em políticas oceânicas e pesquisadores marinhos se reuniam na França para a recente Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, que tinha como objetivo discutir a crescente crise dos mares, desde a poluição por plásticos até a mineração em águas profundas.

“Vivemos uma época em que estudos como este não estão mais tendo impacto imediato nas políticas, o que é lamentável”, disse Bednaršek. “Mas acho extremamente importante documentar essas mudanças, e espero que isso tenha algum efeito sobre as políticas e os políticos.”

(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas

Referência:

Findlay, H.S., Feely, R.A., Jiang, L.-Q., Pelletier, G. and Bednaršek, N. (2025), Ocean Acidification: Another Planetary Boundary Crossed. Glob Change Biol, 31: e70238. https://doi.org/10.1111/gcb.70238

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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