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Censo 2022: Crescimento de sem religião favorece a laicidade nacional

 

 

Análise dos dados do IBGE revela aumento de 7,9% para 9,3% de brasileiros sem religião, com destaque para o sudeste e RJ, e seu impacto na neutralidade do estado

Acompanhe os dados do Censo 2022 que mostram não apenas a mudança entre católicos e evangélicos, mas principalmente o crescimento de 1,4 % da população sem religião. Com 16,4 milhões de pessoas, e o Rio de Janeiro com a maior proporção (16,9%), esse fenômeno é um pilar para o fortalecimento da laicidade estatal e a garantia de direitos plurais.

Por Henrique Cortez.

 

Distribuição da população de 10 anos ou mais (%) Por grandes grupos de religião - Brasil 1872/2022

Além da polarização religiosa: o crescimento dos sem religião e o fortalecimento da laicidade no Brasil

O Censo Demográfico de 2022 trouxe à tona discussões importantes sobre o panorama religioso brasileiro. A grande mídia, com razão, deu destaque à redução percentual de católicos apostólicos romanos e ao contínuo crescimento dos evangélicos, uma tendência já observada em censos anteriores.

No entanto, um dado igualmente relevante, e muitas vezes subestimado, é o aumento percentual das pessoas que se declaram sem religião. Essa parcela da população, que já representa mais de 16 milhões de brasileiros, desempenha um papel crucial no fortalecimento da laicidade do Estado no longo prazo.

O que os dados revelam

Os números do Censo 2022 são claros:

  • De 2010 a 2022, a proporção de católicos apostólicos romanos na população de 10 anos ou mais diminuiu de 65,1% para 56,7%, uma queda de 8,4 pontos percentuais.
  • No mesmo período, os evangélicos viram sua participação crescer de 21,6% para 26,9%, um aumento de 5,2 pontos percentuais.
  • Enquanto isso, a parcela dos que se declaram sem religião saltou de 7,9% em 2010 para 9,3% em 2022, um crescimento de 1,4 %. Embora possa parecer modesto em comparação com as oscilações das duas maiores religiões, esse aumento é constante e significativo, refletindo um fenômeno social em evolução. Em números absolutos, são 16,4 milhões de pessoas que se identificam sem religião.

Perfil e distribuição geográfica

É interessante notar o perfil demográfico desse grupo: a maioria das pessoas que se declaram sem religião são homens, representando 56,2% ou 9,2 milhões do total.

Geograficamente, a Região Sudeste se destaca, com 10,6% de sua população sem religião, superando a média nacional e concentrando 7,9 milhões de pessoas. Já a Região Sul apresenta a menor proporção, com 7,1%. Entre as unidades da federação, Roraima e Rio de Janeiro lideram com 16,9% de sua população sem religião, enquanto Piauí (4,3%), Ceará (5,3%) e Minas Gerais (5,7%) registram as menores proporções.

A importância do crescimento dos sem religião para a laicidade

O Brasil é um Estado laico, o que significa que não há uma religião oficial e que o Estado deve ser imparcial em relação a todas as crenças e descrenças. No entanto, a influência de grupos religiosos na esfera pública e política ainda é um tema constante de debate.

O contínuo crescimento do percentual de pessoas que se declaram sem religião é de suma importância para o futuro da laicidade brasileira por diversos motivos:

  1. Diversidade de Vozes: À medida que mais pessoas se identificam fora de um arcabouço religioso tradicional, aumenta a diversidade de perspectivas e demandas na sociedade. Isso pode levar a um maior questionamento de políticas ou leis que possam ter um viés religioso, promovendo uma discussão mais abrangente sobre temas como direitos humanos, educação e saúde pública.
  2. Pressão por Neutralidade Estatal: O aumento de cidadãos sem filiação religiosa fortalece a cobrança por uma atuação estatal verdadeiramente neutra, desvinculada de dogmas ou interesses de grupos religiosos específicos. Quanto maior a proporção de indivíduos que não se identificam com nenhuma fé, menor a legitimidade de discursos que busquem impor visões religiosas na esfera pública.
  3. Diálogo e Respeito: Embora não professem uma religião, a presença crescente dos sem religião reforça a necessidade de um diálogo respeitoso e da coexistência pacífica entre diferentes visões de mundo. Isso contribui para uma sociedade mais tolerante e plural, onde a liberdade de crença – e de não crença – é plenamente assegurada.

Olhando para o futuro

Os dados do Censo 2022 são um lembrete de que a sociedade brasileira é dinâmica e está em constante transformação.

O crescimento das pessoas que se declaram sem religião não é apenas um número estatístico, mas um indicativo de uma mudança cultural que, no longo prazo, poderá pavimentar o caminho para um fortalecimento ainda maior da laicidade do Estado, garantindo que os direitos e liberdades de todos os cidadãos, independentemente de suas convicções ou ausência delas, sejam plenamente respeitados.

Como você percebe essa evolução da paisagem religiosa e secular no Brasil?

Henrique Cortez, jornalista e ambientalista. Editor do EcoDebate.

 

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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