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Artigo

O sentido político do Dia Mundial do Meio Ambiente

250604 dia mundial do meio ambiente

A força do Dia Mundial do Meio Ambiente não está nos discursos, mas na pressão por mudanças reais.

 

Reinaldo Dias
Articulista do EcoDebate, é Doutor em Ciências Sociais -Unicamp
Pesquisador associado do CPDI do IBRACHINA/IBRAWORK
Parque Tecnológico da Unicamp – Campinas – Brasil
http://lattes.cnpq.br/5937396816014363
reinaldias@gmail.com

Por que voltar ao tema da poluição plástica? Embora eu tenha tratado recentemente do tema da poluição plástica em artigo anterior (Dias, 2025), volto a ele por uma razão incontornável: a gravidade crescente da crise e o contexto político decisivo em que ela se insere.

Naquele ensaio, concluí que “diante da catástrofe ambiental e social representada pela poluição plástica, é imperativo rejeitar a falsa narrativa sustentada pelos interesses econômicos da indústria petroquímica […] e implementar acordos internacionais juridicamente vinculantes, capazes de obrigar os produtores a assumir plena responsabilidade sobre o ciclo de vida dos plásticos”.

O presente texto, embora parta do mesmo diagnóstico, se distingue por seu foco: aqui, o objetivo é refletir sobre o significado político do Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025, marcado pela escolha do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) de colocar os plásticos no centro do debate público. O acerto da escolha é evidente: o tema foi definido não apenas como alerta, mas como estratégia de pressão política para influenciar diretamente as negociações do Tratado Global dos Plásticos, cuja etapa final ocorrerá em agosto.

Datas como o Dia Mundial do Meio Ambiente não são neutras, nem devem ser encaradas apenas como momentos de celebração. Elas são instrumentos de disputa simbólica e política, capazes de reunir atenção, expor interesses divergentes e identificar quem está com quem. No caso específico da crise dos plásticos, é fundamental deixar claro: os principais adversários da mudança são as grandes corporações petroquímicas, os lobbies da indústria fóssil e os governos que se recusam a romper com esse modelo predatório.

Este artigo, portanto, não se propõe a repetir diagnósticos já consolidados, mas a reforçar a urgência de uma ação política coordenada. Em geral, por trás do agravamento das crises ambientais está um fator recorrente: a lógica da ganância, o poder desmedido do lucro privado sobre os bens comuns. Desnaturalizar essa lógica, apontar os verdadeiros responsáveis e mobilizar a sociedade são passos fundamentais para conter o colapso em curso.

INTRODUÇÃO

Em um mundo marcado por múltiplas emergências — climática, ecológica, social — o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) permanece como uma das poucas datas capazes de reunir atenção global para as questões ambientais. Mas, passadas mais de cinco décadas desde sua criação pela ONU em 1972, a pergunta permanece: qual o sentido político real de uma data como essa em tempos de colapso ambiental?

A edição de 2025 atualiza esse debate ao trazer para o centro das atenções uma das maiores ameaças à saúde do planeta e à dignidade humana: a poluição plástica. Com mais de 430 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente — dois terços das quais destinados a produtos de vida curta — o mundo está diante de um desafio que combina injustiça socioambiental, riscos à saúde humana e colapso dos ecossistemas (UNEP, 2025a). O tema deste ano, “Acabar com a Poluição Plástica”, acompanha a etapa decisiva das negociações do Tratado Global dos Plásticos, previsto para ser concluído nas discussões que ocorrerão a partir de agosto de 2025 em Genebra, Suíça.

A escolha do tema reflete mais do que um problema visível nas praias ou nos mares. A poluição plástica se infiltra em rios, solos, alimentos, corpos humanos e sistemas climáticos. Os microplásticos já foram encontrados em leite materno, no ar e nos tecidos de órgãos vitais. O plástico tornou-se um símbolo contemporâneo do modelo de desenvolvimento que naturaliza o descarte, a desigualdade e a degradação ambiental.

Este artigo busca refletir criticamente sobre esse cenário. Ao examinar a crise do plástico em suas múltiplas dimensões — ambiental, social, econômica e política —, pretende-se recuperar o potencial transformador do Dia Mundial do Meio Ambiente. Em vez de apenas celebrar, é preciso denunciar e propor. Em vez de limitar-se a campanhas de conscientização, é hora de exigir políticas concretas, compromissos vinculantes e justiça ambiental global.

A CRISE GLOBAL DOS PLÁSTICOS: produção, descarte e desigualdades

A produção e o consumo de plásticos cresceram mais de 230 vezes desde 1950, com impactos catastróficos sobre o planeta (OECD, 2025). Em 2024, foram geradas cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos — e mais de 7 bilhões de toneladas já se acumularam no ambiente desde o início da era dos polímeros (UNEP, 2025b). A maior parte desse material é utilizada para embalagens e produtos descartáveis com vida útil inferior a um ano.

O problema central não é apenas o volume de plástico, mas a forma como ele é projetado, consumido e descartado. Estima-se que 83% do plástico produzido em 2020 virou resíduo — dos quais apenas 9% foram reciclados (OECD, 2025). A lógica de uso único e descarte imediato, alimentada por interesses industriais, torna os plásticos uma ameaça sistêmica: eles invadem todos os biomas, afetam cadeias alimentares, agravam a crise climática e impõem altos custos sociais.

A situação nos oceanos é dramática. Cerca de 1,4 milhão de toneladas de plástico chegam ao mar a cada ano por meio dos rios, com tendência de dobrar até 2060 sem mudanças significativas (OECD, 2025). Esses resíduos se acumulam em regiões específicas dos oceanos, formando gigantescas áreas de concentração conhecidas como “manchas de lixo”, verdadeiras ilhas— embora, na verdade, sejam zonas difusas, compostas por bilhões de fragmentos plásticos dispersos na coluna d’água. A mais conhecida é a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, que se estende por cerca de 1,6 milhão de km² — uma área maior que a soma dos territórios da França e da Espanha. Estima-se que contenha mais de 1,8 trilhão de pedaços de plástico, com uma massa total de cerca de 100 mil toneladas. Esses resíduos permanecem por décadas à deriva, prejudicando a vida marinha, dificultando a fotossíntese do plâncton e comprometendo toda a cadeia alimentar oceânica.

Mas os impactos não se limitam à natureza. A exposição humana ao ciclo completo do plástico — da extração de petróleo à incineração de resíduos — também tem consequências severas. Além de gerar emissões que agravam o aquecimento global, esse ciclo coloca comunidades inteiras em risco, sobretudo nas periferias urbanas e nas zonas costeiras dos países mais pobres, onde o descarte irregular e a queima de resíduos são prática comum (UNEP, 2025b; Naidu, 2025). Essas desigualdades expõem a dimensão social da crise plástica e reforçam a urgência de políticas ambientais pautadas pela justiça. Apesar de global, a crise plástica é assimétrica. Os países mais pobres são os mais atingidos pelos resíduos exportados por países ricos, alimentando o que muitos chamam de “colonialismo do lixo” (Naidu, 2025). Enquanto comunidades costeiras enfrentam mares contaminados e impactos sobre a pesca, grandes corporações seguem lucrando com cadeias produtivas altamente poluentes.

MICROPLÁSTICOS E SAÚDE HUMANA: a ameaça invisível

A crise dos plásticos não se limita ao lixo visível que flutua nos oceanos ou se acumula em aterros. Uma das faces mais preocupantes dessa poluição está em sua forma mais invisível: os microplásticos (partículas com menos de 5 mm de diâmetro) e os nanoplásticos (com menos de 1 micrômetro – µm). Essas partículas, geradas pela fragmentação de plásticos maiores ou produzidas intencionalmente para uso industrial e cosmético, já estão disseminadas nos alimentos, na água potável, no ar e até mesmo nos tecidos do corpo humano (Pérez-Méndez et al., 2025).

Estudos recentes apontam a presença de microplásticos no leite materno, no sangue, nos pulmões e em órgãos como fígado e testículos (UNEP, 2025b; Pérez-Méndez et al., 2025). Uma pesquisa publicada em 2025 identificou que um único litro de água engarrafada pode conter, em média, 240 mil partículas microplásticas — evidência preocupante sobre a exposição cotidiana a esses contaminantes (UNEP, 2025b). A inalação de microplásticos presentes no ar de ambientes fechados e a ingestão por meio de alimentos contaminados configuram formas comuns de contato com essas partículas, mas ainda pouco compreendidas em seus efeitos potenciais.

A inalação de microplásticos presentes na poeira do ar interior e a ingestão por meio de alimentos contaminados configuram rotas de exposição ainda pouco compreendidas, mas potencialmente graves.

Os impactos à saúde ainda estão sendo investigados, mas as evidências acumuladas sugerem efeitos inflamatórios, disfunções hormonais, toxicidade reprodutiva e imunológica (Pérez-Méndez et al., 2025; Naidu, 2025). Experimentos com animais revelam que essas partículas podem atravessar barreiras biológicas, acumular-se em tecidos e interagir com células, provocando estresse oxidativo, danos ao DNA e perturbações endócrinas. Além disso, os microplásticos funcionam como vetores de contaminantes químicos, como metais pesados, pesticidas e aditivos tóxicos — amplificando seus riscos à saúde.

O problema se agrava pela ampla disseminação dessas partículas. Microplásticos já foram detectados em regiões remotas como a Antártida e em áreas extremas, como a Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos. Em zonas agrícolas irrigadas com água de rios poluídos, partículas plásticas acumulam-se nos solos, afetando o ciclo de nutrientes e podendo ser absorvidas por plantas — o que representa mais um caminho para que os plásticos alcancem a alimentação humana(Pérez-Méndez et al., 2025).

A exposição desproporcional a esses riscos também revela uma dimensão de injustiça: populações periféricas, comunidades ribeirinhas e trabalhadores do setor informal do lixo estão mais vulneráveis à contaminação, devido à sua proximidade com fontes de descarte irregular e à falta de acesso a sistemas de saneamento e saúde adequados (Naidu, 2025). Nesse sentido, a crise dos microplásticos é também uma questão de saúde pública e justiça ambiental.

Apesar dos alertas da comunidade científica, as políticas de regulação ainda são incipientes. A ausência de limites legais para a presença de microplásticos em alimentos, cosméticos e produtos de consumo contrasta com a crescente evidência de seus efeitos danosos. A construção de protocolos de monitoramento, padrões internacionais e investimentos em tecnologias de filtração e substituição de plásticos são passos urgentes para conter a ameaça.

Como alerta o relatório da UNEP (2025b), estamos apenas começando a entender a extensão da crise dos microplásticos. A pergunta não é mais se estamos contaminados, mas quanto, como e com quais consequências. O Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025 é, portanto, um marco necessário para trazer essa discussão à tona — com a seriedade que o tema exige.

JUSTIÇA AMBIENTAL E DESIGUALDADE GLOBAL NA CRISE DOS PLÁSTICOS

A crise dos plásticos não afeta todas as pessoas da mesma maneira. Embora seja global em escala e onipresente em seus impactos, seus efeitos mais severos recaem desproporcionalmente sobre as populações menos responsáveis por sua origem. A poluição plástica é, portanto, não apenas um problema ambiental, mas uma expressão direta de desigualdades sociais e econômicas profundas — uma questão de justiça ambiental.

Países do Sul Global, especialmente na Ásia, África e América Latina, estão entre os mais atingidos pela poluição plástica, ainda que sejam os que menos consomem plásticos per capita. Muitos recebem toneladas de resíduos exportados por países desenvolvidos, sob o pretexto de reciclagem — uma prática conhecida como “colonialismo do lixo” (Naidu, 2025; UNEP, 2025a). Grande parte desses resíduos é, na realidade, não reciclável ou contaminada, e acaba sendo incinerada ou despejada em aterros precários, gerando riscos à saúde pública e ao meio ambiente.

As comunidades que vivem próximas a aterros sanitários, lixões, zonas industriais ou corpos d’água contaminados estão particularmente vulneráveis aos efeitos da poluição plástica. Crianças expostas a queima de resíduos plásticos enfrentam maior risco de doenças respiratórias; pescadores artesanais veem suas fontes de sustento reduzidas por oceanos repletos de lixo; famílias ribeirinhas consomem água contaminada por microplásticos e outros poluentes (Pérez-Méndez et al., 2025). Essas populações raramente são ouvidas nos fóruns de decisão que moldam as políticas ambientais globais.

Além disso, o trabalho de coleta e triagem do lixo é muitas vezes realizado por trabalhadores informais, em condições insalubres e sem proteção adequada. Esses trabalhadores desempenham papel essencial no reaproveitamento de materiais, mas enfrentam altos níveis de exposição a contaminantes e baixos níveis de reconhecimento social e econômico. Qualquer política que vise enfrentar a crise dos plásticos deve, portanto, incluir medidas de justiça ocupacional e inclusão social.

A crise dos plásticos também se entrelaça com questões de gênero, raça e território. Mulheres, especialmente em regiões periféricas urbanas ou rurais, são frequentemente as responsáveis pela gestão cotidiana dos resíduos domésticos, mas não participam das instâncias de formulação de políticas ambientais. Povos indígenas e comunidades tradicionais têm seus modos de vida ameaçados pela contaminação de territórios sagrados e corpos d’água essenciais à sua cultura e subsistência.

Diante desse quadro, o combate à poluição plástica exige mais do que inovação tecnológica. Exige reparação histórica, inclusão nos processos decisórios e redistribuição de responsabilidades. Como destacou a UNEP no contexto do Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025, “livrar o planeta da poluição plástica é também um passo decisivo para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” — especialmente os que dizem respeito à justiça social, ao consumo responsável e à igualdade (UNEP, 2025a).

A justiça ambiental implica reconhecer que não há solução eficaz para a crise dos plásticos sem enfrentar seus fundamentos políticos e econômicos. Requer responsabilizar as indústrias petroquímicas e as grandes corporações pelo design de produtos descartáveis, e não apenas os consumidores. Requer fortalecer a governança ambiental internacional com mecanismos vinculantes e participativos. E, sobretudo, requer ouvir quem mais sofre com o problema — e quem há muito tempo já aponta caminhos alternativos.

O TRATADO GLOBAL DOS PLÁSTICOS E O PAPEL DO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE DE 2025

A urgência em enfrentar a crise dos plásticos impulsionou, nos últimos anos, um movimento inédito de cooperação internacional. Em março de 2022, durante a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, foi aprovada por unanimidade uma resolução histórica que estabeleceu o compromisso de desenvolver um tratado global juridicamente vinculante para acabar com a poluição plástica. Desde então, uma série de rodadas de negociação vem sendo conduzida, com previsão de conclusão até o final de 2025.

A cerimônia do Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025, sediada na República da Coreia, assume papel estratégico nesse contexto. Trata-se de um ponto de inflexão: não apenas uma plataforma de visibilidade, mas um marco de pressão política e diplomática para que o tratado seja ambicioso, justo e eficaz. Como declarou o Ministro do Meio Ambiente da Coreia do Sul, Han Wha-jin, “o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025 será um momento decisivo para a preservação do meio ambiente global” (UNEP, 2025a).

Esse tratado — se efetivamente concluído com mecanismos fortes — poderá se tornar para a poluição plástica o que o Acordo de Paris representa para o clima: um novo regime internacional de responsabilidades compartilhadas, porém diferenciadas, com metas vinculantes, mecanismos de fiscalização e apoio técnico e financeiro aos países em desenvolvimento. A proposta é abranger toda a cadeia do plástico: da extração de matérias-primas ao design de produtos, da comercialização ao descarte e à remediação ambiental.

O desafio, no entanto, é gigantesco. Setores industriais poderosos têm atuado para enfraquecer o escopo das negociações, buscando restringir o tratado apenas ao gerenciamento de resíduos, em vez de abordar a redução da produção e a eliminação de plásticos problemáticos. A resistência à regulamentação global tem sido particularmente forte entre produtores de combustíveis fósseis, dada a ligação direta entre o plástico e o petróleo (OECD, 2025; UNEP, 2025b).

Em contraste, a sociedade civil tem se mobilizado ativamente. Campanhas como #BeatPlasticPollution, lideradas pelo PNUMA, ampliaram a pressão por soluções sistêmicas e baseadas na justiça ambiental. Países como a Coreia do Sul, anfitriã do evento de 2025, vêm adotando estratégias de ciclo de vida completo, com regulamentação sobre design de embalagens, estímulo à economia circular e responsabilização de produtores (UNEP, 2025a).

O sucesso do tratado dependerá, em grande parte, da capacidade política e técnica dos Estados em negociar compromissos concretos, assim como da mobilização pública que sustente esses avanços. O Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025, ao reforçar a visibilidade e o clamor por soluções, pode ser determinante para evitar que o acordo seja mais uma promessa vazia.

Trata-se, portanto, de uma disputa sobre os rumos do futuro. Um tratado fraco legitimará o modelo atual, com sua lógica de produção ilimitada e descarte irresponsável. Um tratado robusto, por outro lado, poderá inaugurar uma nova governança internacional sobre o plástico, com impactos positivos sobre a saúde, o clima, a biodiversidade e a justiça social.

CONCLUSÃO

O Dia Mundial do Meio Ambiente de 2025 não é apenas mais uma data no calendário da ONU. É uma encruzilhada histórica. Em um planeta saturado de resíduos plásticos — nos oceanos, no solo, no ar e até nos corpos humanos —, a edição deste ano traz à tona um dos desafios mais complexos e urgentes da atualidade. A poluição plástica, embora há muito diagnosticada, alcançou um ponto de não retorno em diversas regiões e sistemas ecológicos, exigindo uma resposta coletiva à altura da crise.

Mais do que denunciar a degradação visível ou invisível dos ecossistemas, este ensaio buscou evidenciar as conexões profundas entre a crise dos plásticos e as estruturas econômicas, políticas e sociais globais. O plástico não é apenas um material: é o símbolo de um modelo de desenvolvimento baseado no descarte, na desigualdade e na naturalização da injustiça ambiental. Enfrentá-lo exige mais do que reciclagem — exige uma reconfiguração ética e política das relações entre humanidade e natureza.

A produção desenfreada de plásticos descartáveis, a injusta distribuição dos impactos, os riscos silenciosos à saúde humana e a contaminação persistente dos ecossistemas revelam que estamos diante de uma crise sistêmica. A resposta, portanto, deve ser sistêmica. E é nesse sentido que o Tratado Global dos Plásticos, a ser concluído em 2025, representa não apenas uma negociação técnica, mas uma disputa pelos rumos do futuro.

A reconstrução de um futuro sustentável — justo, plural, solidário — passa pela valorização do conhecimento científico, pelo fortalecimento de acordos internacionais vinculantes e pela mobilização das sociedades civis. Mas passa, sobretudo, pela escuta ativa das populações mais atingidas, que há décadas denunciam os danos da poluição e indicam caminhos de resistência e regeneração.

Ao refletir sobre o “sentido político” do Dia Mundial do Meio Ambiente, este ensaio reafirma que datas simbólicas só são transformadoras quando se articulam a ações concretas. A força do 5 de junho de 2025 não estará nos discursos, mas na pressão por mudanças reais. É tempo de romper com a lógica do plástico como descartável — e, com ela, com o modelo de desenvolvimento que trata o meio ambiente e as populações vulneráveis como descartáveis também.

O combate à poluição plástica é uma luta por justiça ambiental, por dignidade e pela própria possibilidade de futuro. Que este 5 de junho seja lembrado não, somente apenas, como mais um alerta, mas como o início de uma transformação irreversível.

Referências

Dias, R. (2025, março 26) Lucros que não se decompõem: a tragédia persistente do plástico. EcoDebate. Edição 4236. https://www.ecodebate.com.br/2025/03/26/lucros-que-nao-se-decompoem-a-tragedia-persistente-do-plastico/#:~:text=Entre%20suas%20principais%20medidas%2C%20o,OCEANA%2FWWF%2C%202024

Naidu, M. (2025). Impact of plastic pollution on marine ecosystems: A growing global concern. Open Access Journal of Multidisciplinary Research, 1(1), 4–6. https://doi.org/10.47760/OAJMR.2025.v01i01.002

OECD (2025, May 21) Stemming plastic pollution to protect the ocean. https://www.oecd.org/en/data/insights/data-explainers/2025/05/stemming-plastic-pollution-to-protect-the-ocean.html

Pérez-Méndez, M. A., Fraga-Cruz, G. S., Domínguez-García, S., et al. (2025). Microplastic pollution in soil and water and the potential effects on human health: A review. Processes, 13(502). https://doi.org/10.3390/pr13020502

The Ocean Cleanup. (2025). The Great Pacific Garbage Patch. https://theoceancleanup.com/great-pacific-garbage-patch/

UNEP. (2025a). World Environment Day 2025 – #BeatPlasticPollution. United Nations Environment Programme. https://www.unep.org/beatpollution/beat-plastic-pollution

UNEP. (2025b). Answering 10 pressing questions about plastic pollution. United Nations Environment Programme. https://www.unep.org/resources/report/answering-10-pressing-questions-about-plastic-pollution

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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