Aquecimento global deve bater recordes até 2029, alertam cientistas
Relatório da ONU prevê temperaturas acima do limite de 1,5°C nos próximos anos, com impactos como secas, incêndios e eventos climáticos extremos.
Os últimos anos já foram marcados por ondas de calor históricas, incêndios florestais devastadores e tempestades cada vez mais intensas. Mas, segundo um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o pior ainda está por vir.
Publicado no Los Angeles Times, o artigo de Corinne Purtill, “A warming planet is poised to get even hotter, forecasters warn“, destaca que o mundo deve enfrentar temperaturas recordes até 2029, ultrapassando o limite crítico de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais — meta estabelecida pelo Acordo de Paris para evitar as piores consequências das mudanças climáticas.
O que diz o relatório?
Baseado em mais de 200 modelos climáticos de 14 institutos internacionais, o estudo aponta que:
- Há 86% de chance de pelo menos um ano entre 2025 e 2029 superar o recorde de 2024 como o mais quente da história.
- 70% de probabilidade de a temperatura média dos próximos cinco anos exceder 1,5°C acima da era pré-industrial.
- Ondas de calor, secas prolongadas e eventos extremos, como furacões e enchentes, devem se intensificar.
Para cientistas como Mike Flannigan, da Universidade Thompson Rivers, o cenário é “desolador”. Ele alerta que os impactos podem ser ainda piores do que o previsto, afetando regiões como o oeste dos EUA, onde incêndios florestais e escassez hídrica já são realidade.
Por que o limite de 1,5°C é tão importante?
O Acordo de Paris definiu essa meta para evitar colapsos irreversíveis, como:
- Degelo acelerado no Ártico, elevando o nível do mar.
- Mortandade de corais, essenciais para ecossistemas marinhos.
- Secas extremas na Amazônia, ameaçando o regime de chuvas na América do Sul.
- Crises agrícolas globais devido a perdas de safras.
Apesar disso, o relatório ressalta que o aquecimento médio em 20 anos pode permanecer abaixo de 1,5°C — um alívio temporário, mas insuficiente sem cortes drásticos nas emissões de gases-estufa.
Os EUA e a crise climática
O artigo destaca que os Estados Unidos, um dos maiores emissores históricos de CO₂, estão reduzindo investimentos em ciência climática. No governo Trump, cortes orçamentários na NOAA (agência meteorológica) e a exclusão de termos como “crise climática” de documentos oficiais fragilizam a capacidade de prever e mitigar desastres.
Enquanto isso, fenômenos como os incêndios na Califórnia em janeiro de 2024 — alimentados por vegetação seca após chuvas intensas — ilustram o “efeito chicote” climático: oscilações bruscas entre extremos de seca e umidade.
O que esperar?
Para Park Williams, climatologista da UCLA, a tendência de recordes anuais de temperatura deve continuar enquanto as emissões não caírem. Ko Barrett, da OMM, reforça: “Não há sinais de trégua nos próximos anos”, com impactos crescentes na economia, biodiversidade e saúde pública.
O relatório da OMM é mais um alerta urgente. Se governos e sociedade não acelerarem a transição para energias limpas e políticas de adaptação, os próximos anos trarão caos climático a “quintais” em todo o mundo — incluindo o Brasil, onde a Amazônia e as cidades já sofrem com eventos extremos. Como disse Flannigan: “É assustador. E em breve estará no quintal de quase todo mundo.”
Referências adicionais:
Crise climática: Impacto econômico, mortalidade e desigualdade social
Extremos climáticos marcarão a vida de crianças em todo o mundo
Estamos próximos de pontos de não retorno climáticos, diz estudo
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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