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Artigo

A América Latina tem uma década de estagnação da pobreza e do IDH

 

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A América Latina e Caribe (ALC) tem apresentado um desempenho econômico abaixo da média mundial.

O Produto Interno Bruto da ALC representava 12,3% do PIB global em 1980 e caiu para 7,2% em 2024, segundo o último relatório WEO do Fundo Monetário Internacional (Abril de 2025), que também mostra que a renda per capita, em poder de paridade de compra, ficou estagnada entre 2014 e 2024.

Neste decênio perdido, a luta pela redução da pobreza também não avançou. O relatório Panorama Social da América Latina e do Caribe, 2024 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), mostra que a taxa de pobreza teve uma grande redução entre 1990 e 2010, quando caiu de 51,2% para 31,5%. Mas entre 2014 e 2024 a taxa de pobreza variou ligeiramente de 27,7% para 26,8%, conforme mostra o gráfico abaixo.

A taxa de pobreza extrema se reduziu pela metade entre 1990 e 2014, caindo de 15,5% para 7,7%. Mas nos últimos 10 anos houve aumento da pobreza extrema que subiu para 13,2% em 2020, durante a pandemia da covid-19 e chegou a 10,4% em 2024

pessoas em situação de pobreza e pobreza extrema na américa latina

O relatório da Cepal também mostra que, no agregado regional, em 2023 a incidência da pobreza entre as mulheres de 20 a 59 anos foi de 22,2%, quase 4 pontos percentuais mais alta do que a dos homens da mesma faixa etária. Entre 2014 e 2023, a pobreza diminuiu mais entre os homens do que entre as mulheres, motivo pelo qual o índice de feminidade da pobreza aumentou de 113 para 125. Por sua vez, em 2023, 4 de cada 10 crianças e adolescentes viviam em domicílios abaixo da linha de pobreza, uma proporção apreciavelmente maior do que a observada na população adulta, em que 2,4 de cada 10 pessoas entre 18 e 59 anos e 1,5 de cada 10 adultos de 60 anos ou mais se encontravam na mesma situação.

A estimativa da pobreza está estreitamente vinculada com a renda gerada no mercado de trabalho.

Em 8 dos 12 países que reduziram a pobreza no período 2021-2023, a renda proveniente do trabalho assalariado foi a principal força que impulsionou essa diminuição. Em três países, o aumento da renda das pessoas que trabalham por conta própria também contribuiu para a redução da pobreza.

Do mesmo modo, as transferências públicas, que incluem programas como as transferências monetárias condicionadas e não condicionadas, as ajudas de emergência e os sistemas não contributivos de aposentadoria, também tiveram importantes efeitos sobre a pobreza, como se observou durante o primeiro ano da pandemia.

No período posterior, essas transferências continuaram contribuindo para reduzir a pobreza em alguns países, particularmente no Brasil, Colômbia e México. Conforme indicado, as transferências não contributivas representam uma fonte de renda muito importante para os domicílios de menores recursos.

O relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado em maio de 2025, indica que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo e da América Latina e Caribe (ALC) atingiu o maior valor em 2023, mas apresenta uma preocupante tendência de desaceleração.

O gráfico abaixo mostra que o IDH global era de 0,608 no ano 1990 e passou para 0,756 em 2023, um aumento de 24,3% no período. O IDH da ALC era de 0,648 em 1990 e passou para 0,783 em 2023, um aumento de 20,8% entre 1990 e 2023. Portanto, o IDH da ALC avançou em ritmo mais lento do que a média global, especialmente depois de 2015. A Venezuela, por exemplo, teve redução do IDH entre 2105 e 2023.

idh da américa latina e no mundo

O último Relatório de Desenvolvimento Humano de 2025, dedica uma atenção significativa a como lidar com a inteligência artificial (IA) para o progresso do desenvolvimento humano. O relatório argumenta que a IA representa uma “encruzilhada” para o desenvolvimento humano, oferecendo tanto oportunidades sem precedentes quanto riscos potenciais. Em vez de tentar prever o futuro da IA, o relatório enfatiza a necessidade de moldar ativamente seu desenvolvimento e implementação por meio de decisões conscientes e ousadas.

A meta 1.1 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável inclui o compromisso de erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas e em todos os lugares até 2030. Porém, a ALC só conseguirá efetivar as metas dos ODS se houver aumento da produtividade da economia latino-americana e do fortalecimento das políticas públicas na área social.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Panorama Social da América Latina e do Caribe, 2024. Santiago, 2025. https://repositorio.cepal.org/server/api/core/bitstreams/950fc6d4-2795-4db9-9d98-b2cf3b4646ad/content

The Human Development Report 2025, UNDP, 2025

https://hdr.undp.org/content/human-development-report-2025

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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