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Cálculo de emissão de carbono e neutralização de jogo de futebol

 

Plantio de 10 árvores simbólicas no terreno do novo Hospital Pediátrico do Pequeno Príncipe, em Curitiba, marca ação inédita na América Latina de neutralização de emissões de carbono de um jogo de futebol

Hospital Pequeno Príncipe e o Escritório Verde da UTFPR fazem em Curitiba o primeiro jogo de futebol “carbono neutro” da América Latina

Por Eloy F. Casagrande Jr, Libia Patricia Peralta Agudelo, Bruno Kobiski

Plantio de 10 árvores simbólicas no terreno do novo Hospital Pediátrico do Pequeno Príncipe, em Curitiba, marca ação inédita na América Latina de neutralização de emissões de carbono de um jogo de futebol

Estima-se que o futebol — o principal esporte do mundo, o mais praticado, o mais assistido e o que mais movimenta dinheiro, contribui por ano com algo entre 0,8% e 0,9% das emissões de gases do efeito estufa do planeta, segundo estimativas de especialistas. De acordo com o relatório da New Weather Institute e Scientists for Global Responsability, as emissões poluentes da indústria mundial do futebol fixam-se entre as 64 e 66 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) por ano, o que equivale às emissões de um país como a Áustria e cerca de 60% mais que o Uruguai.

Num esforço das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC) lançou em 2021, uma série de metas ambiciosas de redução de emissões no quadro de Esportes para Ação Climática (S4CA), que visava atingir o Net Zero até 2040 e reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em 50% até 2030, o mais tardar. Entre os signatários deste documento está a FIFA (Federação Internacional de Futebol), UEFA (Confederação Europeia de Futebol) e do Brasil, uma única instituição, o Comitê Olímpico.

Na Europa, a Confederação Europeia de Futebol (UEFA) lançou em março de 2024, uma ferramenta para combater o aquecimento global. Se trata de uma “Calculadora de Pegada de Carbono”, uma ferramenta online projetada para ajudar clubes e equipes a gerenciar suas emissões de carbono, e não apenas de viagens, mas também de bens, instalações e serviços adquiridos. A calculadora, que tem verificação de terceiros, está em desenvolvimento há dois anos.

Curitiba dando o primeiro exemplo ao Brasil

No Brasil, o futebol é um elemento central da cultura e da economia, mas tem se tornado cada vez mais suscetível à impactos climáticos. As intensas inundações ocorridas no Rio Grande do Sul no início de 2024, evidenciaram os efeitos diretos desses fenômenos sobre os clubes de futebol. Equipes tradicionais, como Internacional e Grêmio, sofreram prejuízos financeiros e estruturais significativos, resultando no adiamento de partidas que afetaram toda a Série A brasileira, além do aumento dos custos logísticos e da queda no desempenho esportivo.

Uma análise detalhada da literatura identificou uma carência de estudos focados especificamente nos efeitos das mudanças climáticas sobre o futebol. Ainda assim, as pesquisas disponíveis já apontam para riscos à saúde e segurança de atletas e torcedores, interferências no desempenho esportivo, danos à infraestrutura, elevação dos custos de manutenção, desafios logísticos e prejuízos financeiros.

Apesar destes impactos, o futebol brasileiro ainda não assumiu uma postura pró-ativa de responsabilidade para reduzir as emissões de GEE associadas a este esporte.

Avaliando este cenário, que o Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Curitiba, por meio de seu coordenador, Prof. Dr. Eloy Casagrande e especialistas, como a Profa. Dra. Libia Patricia Peralta Agudelo e o mestre em Engenharia Civil, Bruno Kobiski, resolveu dar o primeiro passo, sugerindo que se fizesse o inventário de carbono de um jogo de futebol, indicando a possibilidade de sua neutralização.

O jogo em questão foi “Pelé Pequeno Príncipe Legends X Barça Legends”, que ocorreu como parte de uma ação beneficiente organizada pelo Hospital Pediátrico Pequeno Príncipe (HPP), de Curitiba, e que reunindo ex-jogadores da Seleção Brasileira e ex-jogadores do time espanhol do Barcelona, que mantém uma fundação para eventos de natureza filantrópica. Sendo o primeiro projeto da América Latina para calcular e neutralizar as emissões de dióxido de carbono de uma partida de futebol

O jogo aconteceu em 17 de dezembro de 2024, na Ligga Arena (estádio do Athlético Paranaense e teve um público de 28 mil pessoas, contando com a presença da filha do eterno rei Pelé, Flávia Kurtz Arantes do Nascimento, que também integra o Conselho de Administração da mantenedora do Pequeno Príncipe e o preparador físico Carlinhos Neves, que coordenou a ação esportiva como diretor-técnico da Seleção Pelé Pequeno Príncipe. Também teve a participação voluntária de jogadores famosos como Edmilson, Romário, Ricardinho, Edmundo, Adriano, Rivaldo, Amaral, Cafu. D´Alessandro, Richarlyson, Lugano, Washington, Djalminha, Zé Roberto, Mancini, Fernando Pras, entre outros.

Para sensibilizar a sociedade, houve o plantio simbólico de dez araucárias, em referência ao mais famoso número 10 de seleção brasileira, realizada no dia 25 de abril deste ano, no terreno do novo Hospital do Pequeno Príncipe, que está sendo construído no lado norte da cidade de Curitiba. Na ocasião também estiveram presentes o Prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, a Secretária Municipal de Meio Ambiente, Marilza Dias, o Diretor do HPP, José Álvaro Carneiro, a filha do Pelé, o preparador físico Carlinhos Neves, o prof. Eloy Casagrande e a Profa. Libia Patricia, além dos jogadores, Ricardinho, Edmilson e Adriano e o cientista climático Carlos Nobre, que proferiu uma palestra na parte da tarde do mesmo dia sobre o tema das mudanças climáticas.

Cálculo das emissões do jogo e neutralização

Para medir a pegada de carbono de um evento como um jogo de futebol internacional, é necessário calcular as emissões de CO₂ geradas em diferentes atividades. Entre elas, transporte aéreo, transporte viário, consumo de energia, tratamento de águas servidas, queima de combustível fóssil e resíduos.

Para avaliar o impacto ambiental da partida, foi utilizada a metodologia do GHG Protocol, principal padrão internacional para mensuração e gestão de emissões de gases de efeito estufa. O Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol) foi desenvolvido pela parceria entre o World Resources Institute (WRI) e o World Business Council For Sustainable Development (WBCSD), grupos internacionais com a missão de mobilizar a sociedade para a proteção do meio ambiente. O Protocolo é a ferramenta mais utilizada internacionalmente por governos e líderes empresariais, para compreender, quantificar e administrar as emissões de gases de efeito estufa. O GHG Protocol possui uma versão adaptada ao contexto nacional para poder verificar e comunicar as emissões de gases do efeito estufa nos eventos contratados.

Para estabelecer um parâmetro de comparação, a metodologia do GHG Protocol é subdivide as emissões em 3 escopos:

  • Escopo 1: onde se contabilizam as fontes diretas de energia provenientes de fontes que pertencem ou são controladas pela empresa, por ex. queima de combustível fóssil em geradores;

  • Escopo 2: onde se contabiliza as emissões indiretas de GEE pelo consumo de energia elétrica;

  • Escopo 3: onde se contabiliza a emissão de carbono dos principais serviços terceirizados e também o teor de carbono nos alimentos consumidos: O tratamento de águas servidas, tratamento de resíduos destinados em aterro, deslocamento do público pagante e deslocamento de jogadores, entram nesta categoria.

A emissão total calculada para o jogo foi de 44.4 toneladas de CO2e. Sendo que o relatório identificou que transporte aéreo das equipes e a mobilidade do público para acessar o estádio, foram os maiores responsável pelas emissões de CO2. Sendo 20 tCO2e e 16,2 tCO2e, respectivamente.

Para a neutralização destas emissões, o estudo recomendou o plantio de 272 árvores para a compensação total, com base em uma taxa de sequestro de carbono de 6,12 árvores por tonelada ao longo de 20 anos.

O prof. Eloy Casagrande, ressalta a importância deste estudo e sua ampla divulgação, também tem como objetivo sensibilizar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), as confederações estaduais e os times de futebol, para que estudos e ações como estas possam se tornar parte do esporte, servindo como um benefício ambiental e educativo para a sociedade brasileira.

HPP e o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe

Criado em 2005 com o apoio do maior jogador de futebol de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento emprestou seu nome “Pelé” ao Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (Curitiba-PR-BR) e que desde então trabalha na redução da mortalidade infanto-juvenil por meio do desenvolvimento de pesquisas científicas que buscam novas formas de prevenção, diagnóstico e tratamento para doenças complexas que afetam meninos e meninas.

O Instituto de Pesquisa trabalha em parceria com a Faculdade Pequeno Príncipe também na formação de profissionais especializados em pediatria, por meio do Programa de Mestrado e Doutorado em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente. Desde a sua implantação, o Instituto já formou 64 mestres e 42 doutores.

É importante destacar que desde 2021, o Hospital Pequeno Príncipe também realiza a compensação das emissões de suas atividades, por meio da proteção de uma área de dez hectares de floresta nativa na Reserva Natural das Águas, mantida pela ONG SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), em Antonina (PR). A instituição foi pioneira no país, sendo a primeira unidade pediátrica a adotar essa prática de forma voluntária. Além da neutralização de carbono, a iniciativa contribui para: conservação da biodiversidade local, manutenção de serviços ecossistêmicos e promoção da saúde ambiental e coletiva.

A parceria com a SPVS levou em conta a metodologia própria desenvolvida pela instituição, que consiste em um padrão de compensação voluntária, sem geração de créditos de carbono comercializáveis, e tem como base conceitual a metodologia REED (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), o conceito de produção de natureza e programas de pagamento por serviços ecossistêmicos.

O evento da neutralização de carbono do jogo “Pelé Pequeno Príncipe Legends” foi amplamente divulgado na mídia brasileira e também na página da internet do time do Barcelona, na Espanha (ver links mais abaixo).

Prof. Eloy Fassi Casagrande Jr, PhD

Coordenador do Escritório Verde da UTFPR

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE)

Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Curitiba

fassi@utfpr.edu.br

Neutralização de carbono no Jogo Pelé Pequeno Príncipe Legends (CBN Curitiba) –https://pequenoprincipe.org.br/noticia/neutralizacao-de-carbono-no-jogo-pele-pequeno-principe-legends/

Pequeno Príncipe inicia compensação de CO de jogo solidário https://pequenoprincipe.org.br/noticia/pequeno-principe-inicia-compensacao-de-co%e2%82%82-de-jogo-solidario/

Príncipe Legends: plantio simbólico de árvores marca projeto ambiental de hospital infantilhttps://www.bemparana.com.br/noticias/parana/principe-legends-plantio-simbolico-de-arvores-marca-projeto-ambiental-de-hospital-infantil/

Barça Legends helping the environment in Curitiba – https://www.fcbarcelona.com/en/news/4260346/barca-legends-helping-the-environment-in-curitiba

Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe –

https://pequenoprincipe.org.br/pele/sobre-o-instituto-de-pesquisa

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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