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Eventos climáticos extremos no Brasil e a necessidade de políticas públicas

 

as recorrentes tragédias climáticas no Brasil, que afetam desproporcionalmente os mais pobres, são um choque de realidade que exige ser encarado

Este artigo analisa os principais temas e ideias apresentados nos artigos “Extremos climáticos sempre afetam os mais pobres”, “Faltam políticas públicas urbanas para desastres naturais no Brasil”, “Impactos dos eventos climáticos extremos na população e na economia” e “Tragédia Climática no Rio Grande do Sul: Lições de um Desastre”, todos publicados pelo EcoDebate.

Os textos convergem na análise dos crescentes e devastadores impactos dos eventos climáticos extremos, com um foco especial na vulnerabilidade social e na insuficiência das políticas públicas no Brasil.

1. O preço humano e social da crise climática: a vulnerabilidade dos mais pobres

Um tema central e recorrente em todos os artigos é a desproporcionalidade dos impactos dos eventos climáticos extremos, que recaem de forma mais severa sobre a população pobre e marginalizada. O artigo “Extremos climáticos sempre afetam os mais pobres” destaca que, embora o mundo todo sofra com tragédias climáticas, no Brasil, eventos como deslizamentos e enchentes resultam em centenas de mortes, “em sua maioria de cidadãos pobres que habitam em áreas de risco”.

Essa vulnerabilidade é intrinsecamente ligada à falta de políticas públicas eficazes. A ausência de programas de geração de emprego e renda, projetos habitacionais e acesso a serviços básicos leva famílias pobres a ocupar ilegalmente áreas de risco, buscando proximidade com locais de trabalho e serviços essenciais. O texto argumenta que a formação de favelas em áreas perigosas é um “primeiro erro da administração publica, que é a ausência total de políticas publicas sérias que possam reverter este fenômeno”.

A omissão do poder público na fiscalização e prevenção dessas ocupações é apontada como um “crime”. A permissão para a criação dessas comunidades em áreas de alto risco, sabendo que “mais cedo ou mais tarde, uma tragédia acontecerá”, demonstra uma negligência que se perpetua ao longo dos mandatos. A consequência é a contínua construção de um cenário de tragédias onde “a verdadeira tragédia no Brasil seja ser pobre e privado dos serviços básicos, ser invisível aos olhos dos políticos”.

2. A insuficiência crítica das políticas públicas urbanas

Os artigos evidenciam uma lacuna significativa nas políticas públicas brasileiras para lidar com desastres naturais. O levantamento apresentado em “Faltam políticas públicas urbanas para desastres naturais no Brasil” revela que a maioria das capitais brasileiras não possui planos diretores com regulamentações adequadas para prevenção e reparação de danos causados por desastres. A pesquisa identificou que apenas 17 capitais (42%) usam o termo “risco” para expressar situações catastróficas e somente 10 capitais (24%) tratam efetivamente de políticas públicas para desastres. A situação é ainda mais crítica no que diz respeito ao direito à moradia em casos de reassentamentos ou realocações, mencionado por apenas 7 capitais (17%).

A falta de amparo jurídico e de um debate consolidado sobre o direito à moradia como um direito social constitucionalmente garantido agrava o problema. O texto ressalta que, mesmo com o repasse de recursos em desastres recentes, “os instrumentos jurídicos foram insuficientes para amparar a gestão territorial desse tipo de situação”. A ausência de dispositivos legais para penalizar a administração pública por negligência e omissão em tragédias é destacada em “Extremos climáticos sempre afetam os mais pobres”, reforçando a ideia de que os políticos evitam criar leis que possam puni-los.

3. A relação direta entre mudanças climáticas e eventos extremos

Os textos estabelecem uma conexão clara entre as mudanças climáticas globais e o aumento na frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos. “Impactos dos eventos climáticos extremos na população e na economia” explica que as alterações no clima da Terra, causadas principalmente pela emissão de gases de efeito estufa, “afetam o equilíbrio do sistema climático e podem aumentar a frequência, a intensidade e a duração dos eventos climáticos extremos”. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é citado para corroborar a influência das mudanças climáticas em eventos como ondas de calor, secas e chuvas intensas, projetando que “esses eventos se tornarão mais frequentes e severos com o aumento do aquecimento global”.

O artigo “Riscos climáticos aumentam e cobram preço humano e econômico” reforça essa ligação, afirmando que “Perigos climáticos hídricos estão aumentando em frequência e intensidade como resultado das mudanças climáticas”. O Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas, destaca que, “Conforme a atmosfera fica mais quente, ela retém mais umidade, o que significa que choverá mais durante as tempestades, aumentando o risco de inundações”. A tragédia no Rio Grande do Sul, em 2024, é apresentada em “Tragédia Climática no Rio Grande do Sul: Lições de um Desastre” como um “choque de realidade triste” que demonstra a urgência de ações, com o Brasil enfrentando um número crescente de eventos extremos.

4. Os custos humanos e econômicos devastadores

Os artigos detalham os múltiplos e severos impactos dos eventos climáticos extremos, tanto na população quanto na economia. “Impactos dos eventos climáticos extremos na população e na economia” lista consequências diretas como “Mortes e ferimentos”, “Deslocamentos e migrações”, “Prejuízos econômicos”, “Problemas de saúde” e “Conflitos sociais”.

No âmbito econômico, os danos são significativos. O relatório da ONG Christian Aid, citado em “Impactos dos eventos climáticos extremos na população e na economia”, aponta que em 2021, 10 eventos extremos causaram prejuízos bilionários globalmente. O furacão Ida nos EUA, com US$ 95 bilhões em danos, e as enchentes na Europa, com US$ 30 bilhões, são exemplos destacados. A América Latina também sofreu, com a seca do Rio Paraná afetando navegação, agricultura e energia, e as enchentes na Bahia deixando milhares de desabrigados.

O artigo “Riscos climáticos aumentam e cobram preço humano e econômico” apresenta dados da Organização Meteorológica Mundial (WMO), revelando que, entre 1970 e 2019, os riscos relacionados à água dominaram os desastres em termos de custos humanos e econômicos. Secas, tempestades e inundações foram responsáveis pelas maiores perdas humanas, enquanto tempestades e enchentes geraram as maiores perdas econômicas globais. Apesar da melhoria nos sistemas de alerta e gestão de desastres, que têm reduzido o número de mortes em algumas regiões como a Europa (excetuando as ondas de calor extremas), o custo econômico continua alto.

5. A urgência de adaptação e mitigação

Diante do cenário apresentado, os artigos enfatizam a necessidade urgente de ações de adaptação e mitigação para enfrentar os desafios impostos pelos eventos climáticos extremos. “Impactos dos eventos climáticos extremos na população e na economia” sugere que a adaptação consiste em “aumentar a resiliência dos sistemas naturais e humanos aos eventos climáticos extremos, por meio de planejamento, prevenção, proteção e recuperação”. Já a mitigação envolve “reduzir as emissões de gases de efeito estufa e aumentar os sumidouros de carbono, por meio de transição energética, eficiência, inovação e cooperação”. A “recuperação verde” é vista como uma oportunidade para alinhar essas medidas com a retomada econômica pós-pandemia.

O artigo “Tragédia Climática no Rio Grande do Sul: Lições de um Desastre” reitera a urgência da redução de emissões e da adaptação aos impactos. Gustavo Loiola, especialista citado no texto, afirma que “para lidar com essa situação, duas frentes de ação são essenciais: a redução de emissões de gases do efeito estufa e a adaptação aos impactos já em curso”. Ele destaca a importância de “Investir em infraestrutura resistente, desenvolver planos de emergência, adotar práticas sustentáveis e aprender com soluções baseadas na natureza” como passos cruciais para a adaptação.

A necessidade de políticas públicas mais robustas é um chamado constante. O estudo apresentado em “Faltam políticas públicas urbanas para desastres naturais no Brasil” incentiva a realização de mais pesquisas para “melhorias de desenho legislativo e de medidas administrativas para lidar com os desastres e concretizar o direito à moradia digna”.

Conclusão

Os artigos fornecem um panorama crítico e urgente sobre os impactos dos eventos climáticos extremos no Brasil. Eles demonstram que a crise climática não é apenas um problema ambiental, mas uma questão profundamente social e econômica, que exacerba as desigualdades existentes e cobra um alto preço humano e financeiro.

A falta de políticas públicas eficazes, especialmente no âmbito urbano e social, é identificada como um fator crucial que aumenta a vulnerabilidade da população, em particular dos mais pobres.

A urgência em implementar medidas de adaptação e mitigação, aliada a um compromisso político real e à criação de um arcabouço legal mais robusto, é fundamental para enfrentar este desafio crescente e construir um futuro mais resiliente e justo.

Referências:

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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